Público - 10.09.2019

(C. Jardin) #1

24 • Público • Terça-feira, 10 de Setembro de 2019


Kristalina Georgieva


sem oposição na corrida


à liderança do FMI


Apenas a UE formalizou


candidatura ao cargo de


directora executiva do FMI.


Nomeação oficial ocorre nas


próximas semanas


Fundo Monetário


Kristalina Georgieva esteve no Banco Mundial nos últimos anos

Durante pelo menos mais cinco anos,
a Europa irá continuar a ter a lideran-
ça do Fundo Monetário Internacional
(FMI). Sem qualquer concorrente a
fazer-lhe sombra, à búlgara Kristalina
Georgieva, o nome sugerido pela
União Europeia para substituir Chris-
tine Lagarde na liderança do Fundo,
apenas falta o anúncio formal da
nomeação, para passar a ocupar o
cargo de directora executiva da insti-
tuição com sede em Nova Iorque.
Desde a criação do FMI, a seguir à
Segunda Guerra Mundial, que o cargo
principal desta instituição é ocupado
por uma personalidade proveniente
de um país europeu. Este monopólio
absoluto é o resultado de um acordo
informal entre os EUA e os países
europeus, que prevê que um norte-
americano lidere o Banco Mundial e
um europeu o FMI.
Nos últimos anos, contudo, tem
vindo a ser notório o descontenta-
mento das potências mundiais emer-
gentes com esta partilha de lideran-
ças entre EUA e Europa. E quando
Christine Lagarde foi eleita pela pri-
meira vez em 2011, contou com a
oposição de candidatos provenien-
tes da América latina e da Ásia. Espe-
rava-se que, desta vez, a oposição
pudesse ainda ser maior. Mas não. A
candidata europeia vai ser, mais uma
vez, a escolhida.
Num comunicado ontem emitido,
o FMI revelou que Kristalina Geor-
gieva foi, até ao Ænal do prazo dado
para apresentação de candidaturas
na passada sexta-feira, o único nome
proposto, sendo por isso a única que
irá ser sujeita à fase Ænal do processo
de selecção para o cargo de directora
executiva, que deverá ser concluído
até 4 de Outubro.
Formalmente, os Estados-mem-
bros do FMI ainda irão avaliar as qua-
liÆcações da candidata, mas na práti-
ca não se consegue antever outro
resultado Ænal que não seja a nomea-
ção de Georgieva para o lugar que era
de Christine Lagarde.
A caminhada da economista búlga-
ra até à liderança do FMI não foi, no


entanto, fácil. O processo de escolha
de Kristalina Georgieva como candi-
data europeia foi mesmo bastante
mais complexo do que é habitual.
As diversas capitais da UE não con-
seguiram chegar a um consenso e
viram-se forçadas, de forma inédita,
a recorrer a votações sucessivas que
foram eliminando os nomes em con-
sideração, numa lista que incluía
também o ministro das Finanças por-
tuguês, Mário Centeno. No Ænal,
sobravam Jeroem Dijsselbloem e Kris-
talina Georgieva. Com o apoio deter-
minado da França e a ajuda da aver-
são dos países do Sul ao ex-presiden-
te do Eurogrupo, a candidata búlgara
venceu, por margem apertada.
Para além disso, apenas na semana
passada, Georgieva ultrapassou um
último difícil obstáculo, quando o
conselho de governadores do FMI
aprovou uma alteração ao limite de
idades imposto para o cargo de direc-
tor executivo. A candidata búlgara,

MICHELE TANTUSSI/REUTERS

que já ultrapassou o anterior limite
de 65 anos, passou a poder ocupar o
lugar sem qualquer violação dos
regulamentos do FMI.
Kristalina Georgieva, que nos últi-
mos anos foi a número dois do Banco
Mundial, terá agora diversos desaÆos
pela frente. Em primeiro lugar, o Fun-
do terá de ajudar a economia mundial
a navegar numa conjuntura econó-
mica com diversos riscos.
Até aqui, como Christine Lagarde
ao leme, o FMI tem apelado (sem
sucesso) a que os países não recor-
ram a políticas comerciais proteccio-
nistas, tem apelado a que os bancos
centrais mantenham políticas expan-
sionistas e tem pedido a alguns paí-
ses, especialmente a Alemanha, que
contribuam para o crescimento com
mais investimento público. Tudo
aponta para que a nova directora
executiva mantenha o mesmo tipo
de mensagem.
Depois, Kristalina Georgieva terá
de dar um novo ímpeto à reforma do
FMI, dando às potências emergentes
a esperança de que passarão a ter
maior poder na instituição num futu-
ro próximo. O facto de não terem
surgido concorrentes é sinal de que
esses países acreditam que a nova
directora executiva está disposta a
fazer esse caminho.
E, no imediato, a nova líder do
FMI terá de fazer face a um proble-
ma que vários antecessores também
tiveram: uma crise Ænanceira na
Argentina, num cenário em que o
programa de resgate delineado pelo
Fundo é acusado de ter agravado
ainda mais a situação.

Formalmente, os


Estados-membros


do FMI ainda irão
avaliar as

qualiÄcações da


candidata. Na


prática, não se
consegue antever

outro resultado


Änal que não seja


a nomeação de
Georgieva

Turismo
Rita Robalo Rosa

Num almoço com a
Confederação do Turismo,
António Costa exaltou o
investimento feito no
sector pelo actual Governo

[email protected]

António Costa advertiu ontem que
“não há plano B” quanto ao aeropor-
to do Montijo. A informação foi dada
num almoço com a Confederação do
Turismo de Portugal (CTP), onde o
secretário-geral do PS apresentou as
propostas do seu partido para o de-
senvolvimento do turismo em Por-
tugal e previu alguns desaÆos caso
seja eleito.
O desaÆo das ligações aéreas foi o
que roubou mais tempo ao discurso
de António Costa. O secretário-geral
do PS aÆrmou que a conversa sobre
o Montijo vem “tarde e com custos”.
Aproveitou assim para criticar o PSD
por colocar em causa o desenvolvi-
mento do aeroporto do Montijo.
“Não posso deixar de manifestar
muita apreensão quando vejo que o
principal partido da oposição, que
ainda agora votou favoravelmente o
Programa Nacional de Infra-estru-
turas, a apresentar não só novas
dúvidas existenciais sobre os projec-
tos de alta velocidade [ferroviária],
mas, sobretudo, a colocar em causa
a opção já tomada para que o des-
envolvimento da capacidade aero-
portuária de Lisboa seja comple-

António Costa: sem o


aeroporto do Montijo,


a dinâmica do turismo


é comprometida


mentada com o desenvolvimento do
aeroporto do Montijo”, disse.
O secretário-geral do PS relem-
brou as décadas de impasse em rela-
ção às possíveis soluções, nomeada-
mente em Alcochete, e apelou a que
se mantenha o consenso político
alcançado no Parlamento. Referiu
que não pode haver hesitações, pois
seriam uma “ameaça à continuidade
da actividade turística do país e ao
crescimento deste sector, que é fun-
damental para gerar emprego, rique-
za e para dinamizar todo um conjun-
to de outras actividades económi-
cas”. Posto isto, António Costa
avisou: “Temos de avançar com o
compromisso do Montijo o mais
depressa possível”.

A incerteza do “Brexit”
O actual primeiro-ministro reconhe-
ce que o “Brexit” é uma forte ameaça
ao turismo português. No entanto,
Costa admite que “sucessivos adia-
mentos” vieram ajudar a planear e a
ajustar os “planos de contingência”
que têm sido adoptados.
Apesar da situação, o secretário-
geral do PS quer continuar a investir
no turismo com origem no Reino
Unido pois, apesar da incerteza, este
“tem continuado a aumentar”. Deste
modo, pretende implementar mais
“boxes de RAPID [sistema de Reco-
nhecimento Automático de Passagei-
ros IdentiÆcados Documentalmen-
te]”, para agilizar a vinda de britâni-
cos com passaporte electrónico.
Apesar de, segundo disse, nos últi-
mos quatro anos o Governo ter con-
seguido duplicar o valor de apoio ao
investimento no sector turístico,
António Costa admitiu que um dos
desaÆos que enfrentará com a possí-
vel eleição é “assegurar a capacidade
de investimento no sector”.
“Nos quadros anteriores, houve
750 milhões de euros de apoio ao
investimento [no turismo]”, mas
“conseguimos duplicar para 1500
milhões de euros que alavancaram
cinco mil milhões de euros” em pro-
jectos que têm sido realizados,
garantiu o líder do executivo.
Alguns dos programas menciona-
dos pelo secretário-geral do PS foram
o programa Valorizar — que já conta
com 619 projectos —, o programa
Revive e Revive Natureza, que podem
ajudar num dos maiores objectivos:
a descentralização. Com Lusa

ECONOMIA


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Costa afirmou que o “Brexit” é
ameaça ao turismo em Portugal
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