Público - 10.09.2019

(C. Jardin) #1
Público • Terça-feira, 10 de Setembro de 2019 • 29

MUNDO


Adversário de Trump quer resgatar


“a identidade” do Partido Republicano


JIM BOURG/REUTERS

MarkSanford perdeu o lugar no Congresso em 2018, quando Trump apoiou a rival, Katie Arrington

Mark Sanford, um antigo governador
do estado norte-americano da Caro-
lina do Sul que Æcou conhecido em
todo o país por desaparecer durante
seis dias, em Junho de 2009, para se
encontrar com a sua amante na
Argentina, anunciou que vai candi-
datar-se contra Donald Trump nas
eleições primárias do Partido Repu-
blicano.
Há anos que se falava da hipótese
de Sanford se candidatar à presidên-
cia, mas em 2008 foi ultrapassado
por John McCain e Sarah Palin, e em
2012 a história da sua relação extra-
conjugal ainda estava fresca na
memória do Partido Republicano.
Aos 59 anos, Mark Sanford é um
dos maiores sobreviventes da história
moderna da política norte-america-
na, mas a sua candidatura à Casa
Branca, contra “os déÆces e os gastos”
do Presidente Trump, está condena-
da ao fracasso — Donald Trump tem
mais de 90% de apoio entre os eleito-
res do Partido Republicano e alguns
estados já anunciaram que nem
sequer vão realizar primárias.
Para além de Donald Trump e Mark
Sanford, estão também na corrida à
nomeação pelo Partido Republicano
Bill Weld, um antigo governador do
Massachusetts, e Joe Walsh, um antigo
congressista do Illinois.
No domingo, Mark Sanford expli-
cou aos eleitores, no canal Fox News,
que se candidata contra as políticas
“despesistas” do Presidente. “Acho
que temos de falar sobre o que signi-
Æca ser republicano”, disse Sanford.
“Acho que o Partido Republicano per-
deu a sua identidade.”
Em particular, o candidato acusa o
partido de ter Æcado refém do Presi-
dente Trump e de ter abdicado da sua
luta contra os gastos públicos.
“Perdemos a nossa identidade em
relação às dívidas, aos déÆces e aos
gastos. O Presidente diz que é o rei da
dívida, e tem uma familiaridade e um
nível de conforto com a dívida que
está a guiar-nos para uma direcção
errada”, disse Mark Sanford.
Mas o político da Carolina do Sul já
sentiu o que signiÆca ser opositor de


rida à Casa Branca, em Agosto.
“Eu tenho 94% de aprovação no
Partido Republicano, e tenho os Três
Estarolas a concorrerem contra
mim”, disse Donald Trump no Twit-
ter. “Um deles é o ‘sr. Trilho dos Apa-
laches’, que, aÆnal, estava na Argen-
tina por más razões.”

Um escândalo nacional
Em 2009, antes de ter desaparecido
durante seis dias sem contactar a
família e a sua equipa, o então gover-
nador da Carolina do Sul disse que ia
fazer uma caminhada no Trilho dos
Apalaches — um trilho famoso e mui-
to concorrido que atravessa 14 esta-
dos norte-americanos ao longo de
3500 quilómetros. Mas Sanford foi
visto à chegada a um aeroporto de
Atlanta por uma jornalista do jornal

The State, da Carolina do Sul.
Vendo-se no centro de um escân-
dalo nacional, o político acabou por
revelar que tinha passado os seis dias
na Argentina com a amante, Maria
Belén Chapur, de quem se separou
em 2014.
Depois disso, Sanford recusou-se a
abandonar o cargo de governador da
Carolina do Sul e completou o seu
segundo mandato, saindo em Janeiro
de 2011.
Foi eleito para o Congresso numa
eleição especial em Maio de 2013 e só
perdeu esse lugar na Câmara dos
Representantes em 2018, quando o
Presidente Donald Trump apoiou a
sua adversária nas eleições primárias
do Partido Republicano.

Mark Sanford é o terceiro a desaÄar Donald Trump nas primárias, sem grandes esperanças. Ficou famoso


em 2009, quando desapareceu durante seis dias para se encontrar com a sua amante na Argentina


EUA


Alexandre Martins


jornal The New York Times escreveu
que Mark Sanford “descobriu da for-
ma mais dura que ter um registo con-
servador é menos importante do que
demonstrar lealdade a Trump”.
Apesar de ter apoiado Donald
Trump nas presidenciais de 2016,
Sanford começou a criticar o Presi-
dente norte-americano nos primei-
ros meses deste na Casa Branca. “De
certa forma, ele representa o oposto
de tudo o que eu julgava saber sobre
política e sobre a vida”, disse ao Poli-
tico em Fevereiro de 2017.
E a má relação entre os dois levou
Donald Trump — ele próprio acusa-
do de manter relações extraconju-
gais — a fazer uma referência ao caso
amoroso de Mark Sanford, quando
se soube que o político da Carolina
do Sul poderia avançar para a cor- [email protected]

Trump no actual Partido Republica-
no. Em 2018, quando parecia ter pela
frente uma reeleição fácil como con-
gressista, Sanford viu o Presidente
apoiar a sua adversária nas eleições
primárias, Katie Arrington.

Um país dividido
O resultado dessa luta de poder é um
exemplo da divisão nos EUA, que se
aprofundou com a vitória de Trump
nas eleições de 2016. O apoio do Pre-
sidente levou Arrington à vitória nas
primárias, mas a candidata acabaria
por perder a eleição geral contra o
nomeado do Partido Democrata — e,
com isso, o lugar na Câmara dos
Representantes que era de Mark San-
ford desde 2013.
Após a derrota de Sanford nas pri-
márias do Partido Republicano, o
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