Público • Terça-feira, 10 de Setembro de 2019 • 5
SEM COMENTÁRIOS MAURÍCIA
YARA NARD/REUTERS
Um Verão
perdido
P
arece pomposo o que vou dizer
porque, isto é mesmo assim, não há
nada (ou talvez haja) a fazer.
Uma crónica, como a palavra se
farta de indicar, é sobre o tempo. É
sobre Setembro de 2019, não é sobre
o tempo eterno. Uma crónica é um
cigarro — não é uma lição de vida.
Nem sequer é um prego, muito
menos uma refeição.
Nunca gostei de historiadores, mas há coisas
em que têm razão. É importante haver alguém
que diga o que toda a gente diz.
Os outros cronistas habituaram-se a
escrever sobre coisas desinteressantes (a
política e a paz mundial), mas alguém tem de
sobrar para falar do que toda a gente sabe,
para haver no futuro um historiador sincero
que se preocupe com o que toda a gente estava
a pensar.
Não poderia ter sido mais incómodo (e
comprido!) o preâmbulo. Não sei quem foi o
americano dos anos 20 ou 30 que desabafou
“se tens alguma coisa para dizer, diz e cala-te”.
Então eu vou dizer: o Verão de 2019 foi o
pior desde sempre. Nunca esteve calor, a água
do mar esteve mais fria do que me lembro — e
eu lembro-me de tudo.
Que Æque assim registado que, apesar das
terríveis mudanças climáticas do nosso pobre
mundo, o Verão de 2019 em Portugal foi, ao
contrário de todos os Verões anteriores, uma
valentíssima merda.
Atenção: não foi desagradável. Até foi
refrescante. Gostaria até que mais Verões
fossem assim.
Que Æque dito que também é para isso que a
imprensa serve.
Foi um Verão perdido. Tornou o ano de
2019 num ano interessante. Toda a gente se vai
esquecer disto.
Mas Æca dito, na esperança que alguém se
lembre.
Miguel Esteves Cardoso
Ainda ontem
A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores
ESCRITO NA PEDRA
Quando estou no estrangeiro, faço questão
de nunca criticar o Governo do meu país.
Quando volto, recupero o tempo perdido
Winston Churchill, estadista britânico
EM PUBLICO.PT
Couto, a marca centenária que
foi salva pelo amor, já quer abrir
uma nova fábrica
A marca da célebre pasta dentífrica esteve
para ser vendida, mas um casamento fez
aumentar as vendas para um milhão de
euros e o casal quer agora abrir uma nova
fábrica em 2022. publico.pt/culto
Fernando Marante vence
prémio da Paris Photo
O português recebeu o prémio destinado a
jovens talentos de escolas europeias com a
série fotográfica The question concerning
the thing.
publico.pt/p
Um festival para viajar
pelo mundo no mercado
de Matosinhos
É o primeiro Festival de Cinema Aventura e
tem chancela da Nomad. De 12 a 15 de
Setembro, “para nos inspirar a explorar e
proteger o nosso planeta”.
publico.pt/fugas
A ideia de criar um programa Erasmus para
promover a mobilidade dos estudantes do
ensino superior entre as diferentes regiões
do país é meritória. Mas é meritória por si e não em
função do contexto. O PS que a chumbou em Março
só deve anunciá-la em Setembro se nos ajudar a
perceber o que fez o partido mudar de ideias. Não é
nada do outro mundo. É apenas uma forma de
combater o preconceito segundo o qual nas
campanhas vale tudo para ganhar votos. M.C.
Putin ainda conserva o estatuto de czar da
Rússia contemporânea, mas raras vezes no
seu já longo mandato no poder terá assistido
a um Verão tão quente como o deste ano. As
eleições para a Assembleia de Moscovo deram lastro
a manifestações que chegaram a mobilizar mais de
50 mil pessoas na capital e entregaram 19 dos 48
lugares à oposição. Vladimir Putin continua a ter um
apoio de 67%. Mas o tempo da adoração que se
António Costa Vladimir Putin seguiu à anexação da Crimeia é passado. M.C