Público - 11.09.2019

(Jacob Rumans) #1

28 • Público • Quarta-feira, 11 de Setembro de 2019


MUNDO


Netanyahu promete anexar


o Vale do Jordão se for reeleito


Primeiro-ministro israelita quer “estender a soberania israelita” na Cisjordânia e nos territórios palestinianos


junto ao mar Morto. Plano tem aval de Trump e vai a exame nas legislativas da próxima semana


A uma semana da realização das elei-
ções legislativas em Israel, Benjamin
Netanyahu prometeu anexar o Vale
do Jordão, na Cisjordânia, e outros
territórios palestinianos localizados
na região Norte do mar Morto. Anun-
ciado ontem, o plano é o mais recen-
te trunfo do primeiro-ministro israe-
lita, tendo em vista a luta pela sua
reeleição e a angariação de apoios
junto dos partidos à direita.
“Hoje anuncio a intenção de esten-
der a soberania israelita ao Vale do
Jordão e ao Norte do mar Morto,
depois da constituição do novo
Governo”, proclamou Netanyahu
num discurso televisivo, a partir da
cidade de Ramat Gan, no qual refor-
çou o carácter securitário do projecto
e deixou implícito que o mesmo tem
a aprovação do Presidente dos Esta-
dos Unidos, Donald Trump.
O chefe do Governo israelita referiu
mesmo que o plano de paz da Admi-
nistração Trump para a resolução do
conÇito israelo-palestiniano — ou
“acordo do século”, segundo o Presi-
dente norte-americano —, que a Casa
Branca promete revelar depois das
eleições de 17 de Setembro, consubs-
tancia uma “oportunidade histórica”
para se levarem a cabo novas anexa-
ções na Cisjordânia.
“Desde a Guerra dos Seis Dias
[1967] que não temos esta oportuni-
dade e duvido de que voltemos a tê-la
nos próximos 50 anos. Dêem-me o
poder para garantir a segurança de
Israel. Dêem-me o poder para deÆnir
as fronteiras de Israel”, suplicou
Netanyahu.
O Vale do Jordão estende-se ao lon-
go do rio, e vai desde o mar Morto, a
Sul, até à cidade israelita de Beit
Shean, a Norte. Tem uma área de
2400 quilómetros quadrados e equi-
vale a cerca de 30% da Cisjordânia.
Para além de porem em causa as
reivindicações territoriais palestinia-
nas, os planos anunciados pelo pri-
meiro-ministro israelita, que sempre
defendeu a necessidade de se anexa-
rem mais territórios, de se estender
a inÇuência israelita na região e de
lutar contra “os perigos de um Estado


Netanyahu, duvidam que seja possí-
vel haver um acordo de paz no curto
ou médio prazo e apostam, por isso,
no elemento securitário da mensa-
gem do Governo.
Israel ocupou a Cisjordânia, Jeru-
salém Ocidental, a Faixa de Gaza e os
montes Golã sírios na guerra no
Médio Oriente em 1967, territórios
que não constavam do plano aprova-
do pelas Nações Unidas em 1947. Em
1980, anexou Jerusalém Ocidental e
no ano seguinte os montes Golã, em


  1. Desde essa altura que tem vindo
    a expandir a ediÆcação de colonatos
    judeus em território palestiniano —
    vivem, actualmente, cerca de 600 mil
    judeus nestas propriedades.
    Estas anexações não foram reco-
    nhecidas internacionalmente, à
    excepção dos EUA, que, sob a lideran-


ça de Trump, transferiram a embai-
xada norte-americana de Telavive
para Jerusalém, a cidade santa para
as três religiões monoteístas que reco-
nheceram como capital de Israel.
Os palestinianos reclamam toda a
Cisjordânia para o seu futuro Estado
independente. Por isso, o primeiro-
ministro palestiniano, Mohammad
Shtayyeh, criticou a utilização do ter-
ritório na campanha eleitoral.
“O território da Palestina não pode
fazer parte da campanha eleitoral de
Netanyahu. Se ele acredita que ane-
xar e construir colonatos lhe oferece-
rá votos a curto prazo, ele e Israel
serão perdedores a longo prazo”, acu-
sou Shtayyeh, citado pelo jornal israe-
lita Haaretz.

Israel


António Saraiva Lima


palestiniano para a existência” de
Israel, prometem agitar a última
semana de campanha eleitoral.
Segundo as sondagens, o partido
do primeiro-ministro, o Likud (direi-
ta), encontra-se numa situação de
empate técnico com a Lista Azul e
Branca (centro), do antigo chefe do
Exército, Benny Gantz, na corrida
pelos 120 lugares do Parlamento.
A promessa de novas expansões
para a Cisjordânia e a colocação do
conÇito israelo-palestiniano no cen-
tro do debate político na recta Ænal da
campanha são posições que agradam
aos partidos conservadores que
podem vir a constituir a base de uma
possível coligação de direita. Mais do
que isso, pretendem chegar aos elei-
tores que, mesmo não corroborando
na íntegra a estratégia de Benjamin [email protected]

Desde a Guerra dos


Seis Dias [1967] que
não temos esta

oportunidade e


duvido de que


voltemos a tê-la.
Dêem-me o poder

para deÄnir as


fronteiras de Israel


Benjamin Netanyahu
Primeiro-ministro de Israel

ABIR SULTAN/EPA

Netanyahu tenta fazer o Likud sair do empate técnico com a Lista Azul e Branca que as sondagens lhe dão
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