Público - 11.09.2019

(Jacob Rumans) #1

30 • Público • Quarta-feira, 11 de Setembro de 2019


MUNDO


Trump despede o “falcão”


John Bolton, via Twitter


LEAH MILLIS/REUTERS

John Bolton foi um paladino da invasão do Iraque e defende mudanças de regime no Irão, Síria, Venezuela e Coreia do Norte

O Presidente americano, Donald
Trump, demitiu ontem o seu conse-
lheiro de Segurança Nacional, o “fal-
cão” John Bolton, por entre rumores
de conÇitos na política externa sobre
temas como o Afeganistão, o Irão ou
a Coreia do Norte. Como é hábito,
Trump comunicou o “despedimento”
num tweet. É o terceiro ocupante do
cargo caído em desgraça. Ao Æm da
tarde, aguardava-se uma conferência
de imprensa de Bolton.
“Informei John Bolton ontem à noi-
te [segunda-feira] de que os seus ser-
viços já não eram necessários na Casa
Branca. Discordei veementemente de
muitas das suas sugestões, tal como
outros na Administração, e portanto
pedi ao John a sua demissão, que ele
aceitou esta manhã”, escreveu
Trump. “Será nomeado um novo con-
selheiro de Segurança Nacional na
próxima semana.”
Segundo a Foreign Policy, Bolton é
afastado “depois de ter perdido uma
série de batalhas” e de se encontrar
“crescentemente isolado”. O mais
imediato tema de conÇito teria sido a
anulação do projecto de uma cimeira
com os líderes dos talibans e com o
Presidente afegão, Ashraf Ghani.
Trump cancelou o projecto no sába-
do, sempre por tweet, depois de reac-
ções negativas de meios republicanos
que criticaram a sua realização em
vésperas do aniversário dos atentados
de 11 de Setembro.
Trump desejaria receber os afegãos
na residência de Camp David. Um
regresso das tropas americanas em
2020, ano eleitoral, seria um impor-
tante trunfo político. A ideia seria
apoiada pelo secretário de Estado,
Mike Pompeo, pelo Pentágono e pelo
representante especial americano
para o Afeganistão, Zalmay Khalilzad.
Mas foi fortemente contrariada por
Bolton. Na sua opinião, o convite a
“uma organização terrorista para
Camp David (...) abriria um terrível
precedente”, conÆdenciou à impren-
sa uma fonte da Administração.
O isolamento de Bolton não diz
apenas respeito ao Presidente. Regis-
taram-se sucessivas e azedas disputas


gou a ‘mudança de regime’ não ape-
nas no Iraque e no Irão, mas também
na Síria, na Líbia, na Venezuela ou na
Coreia do Norte. Foi um incansável
adversário da política iraniana de
Barack Obama e do acordo nuclear
de 2015.
Bolton sucedeu no cargo ao gene-
ral H.R. McMaster, demissionário
após inúmeros conÇitos com o Presi-
dente e o Pentágono. De início,
Trump pareceu adoptar a “linha
dura” do novo conselheiro, mas uma
primeira ruptura terá surgido com a
abertura diplomática à Coreia do
Norte. Foi um facto visível: enquanto
Trump se encontrava com Kim Jong-
un, John Bolton cumpria uma missão
na Mongólia. Esteve sempre afastado
dessa iniciativa, de que discordava.

Outro momento crítico foi quando os
iranianos abateram um drone ameri-
cano no estreito de Ormuz. Bolton
queria uma resposta militar que, à
última hora, Donald Trump anulou.
Bolton não se terá apercebido dos
interesses eleitorais do Presidente e
da lógica das suas mudanças de
humor.
EnÆm, a dança dos conselheiros
de Segurança Nacional, tal como a
demissão do secretário de Estado
Rex Tillerson, em 2018, ou a do
secretário da Defesa, general James
Mattis, em Janeiro deste ano, mos-
tram que o caos e a incerteza são a
regra de funcionamento da Adminis-
tração Trump.

O mais feroz dos neoconservadores não percebeu que o Presidente Åutua ao sabor da sua agenda eleitoral.


Por entre rumores de conÅitos sobre Afeganistão, Irão ou Coreia do Norte, acabou derrotado e isolado


EUA


Jorge Almeida Fernandes


de competências entre Pompeo e
Bolton. Se ambos têm os mesmos ins-
tintos de “falcão”, Pompeo sabe adap-
tar-se aos desejos presidenciais.
O Irão foi outro tema de conÇito.
Trump deu sinais de querer adoptar
nesta fase política uma linha mais
diplomática, não disfarçando, por
exemplo, a vontade de se encontrar
com o Presidente iraniano, Hassan
Rouhani. Mas, observou o diário onli-
ne Politico, Bolton é “profundamente
céptico quanto ao valor de negocia-
ções com adversários. Antes da sua
entrada na Casa Branca defendeu
publicamente uma estratégia de
‘mudança de regime’ em Teerão”.
Destacado neoconservador, Bolton
foi um paladino da invasão do Iraque,
que hoje continua a defender. Advo- [email protected]

Discordei


veementemente


de muitas das suas


sugestões.
Portanto, pedi a

John a sua


demissão
Donald Trump
Presidente dos EUA
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