Público - 11.09.2019

(Jacob Rumans) #1
Quarta-feira, 11 de Setembro de 2019

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Historiador, fundador do Livre

CONSOANTE MUDA


A Comissão Von der Orwell


A

o serem revelados os
nomes dos novos
comissários, em conjunção
com os seus portefólios, as
primeiras reações foram de
estupefacção com o nome
do portefólio do grego Margaritis
Schinas (ele próprio um
ex-funcionário da Comissão que
passa diretamente a político, um
sinal que não me parece de bom
agouro). A pasta do sr. Schinas
chama-se “Proteger o Nosso Modo
de Vida na UE”, o que parece um
título acabadinho de sair do
“Ministério dos Andares
Esquisitos” dos Monty Python. O
pior é que o nome não é só
ridículo, mas hipócrita, uma vez
que o conteúdo da pasta será o
dos controles migratórios, ou,
como alguém dizia, o de “impedir
que outras pessoas possam aceder
ao nosso modo de vida na UE”. Na
pior tradição do 1984 de George
Orwell, no qual o Ministério da
Verdade propagandeava mentiras
e o Ministério da Paz fazia a

Rui Tavares


guerra, os nomes das pastas nesta
nova Comissão Europeia
signiÆcam o contrário das suas
funções.
Mas há pior. Von der Leyen
inventou outra nova pasta — que
alcandorou a vice-presidência da
Comissão! —, chamada
“Democracia e DemograÆa”, e
entregou-a à comissária croata
Dubravka Šuica, que, enquanto
eurodeputada, votou contra as
ações do Parlamento Europeu em
respostas às violações do Estado
de direito na Hungria. Eis como
justiÆcou então a nova comissária
o seu voto: “Votámos contra
porque a Hungria é um país
vizinho com o qual queremos ter
boas relações de vizinhança”. Em
condições normais, poderíamos
perguntar-nos que diabo faz uma
aliada de Orbán sequer a
quilómetros de distância de
qualquer pasta europeia que
tenha a ver com democracia, mas
estas não são condições normais.
Ela está ali precisamente porque é
aliada de Orbán, e a bizarra
conjunção de temas no nome da
sua pasta, “democracia e
demograÆa”, é música para os
ouvidos da extrema-direita que
Orbán representa no Partido
Popular Europeu.
Mas, infelizmente, há pior. O

mini-Orbanistões a franquear as
portas da UE para a destruírem
por dentro. Brilhante para uma
comissão que tem um portefólio
para “proteger o nosso modo de
vida na UE”.
Depois deste desfile de
horrores, depois dos
comissários-funcionários com
pastas de nomes orwellianos,
depois das vice-presidentes
dispostas a esquecer os princípios
em troca das boas relações de
vizinhança que ficam responsáveis
pela pasta da democracia, depois
dos ministros da justiça que
destruíram a independência dos
tribunais a serem premiados com
a avaliação das condições de
entrada de novos membros no
clube, vem... Elisa Ferreira no
fundo da lista do novo
organograma da Comissão. Além
de amigo de Elisa Ferreira, sou
admirador do seu trabalho na
política europeia e acho que ela
merecia uma pasta decisiva na
nova Comissão. Que ela tenha
ficado atrás de todos os aliados de
Orbán diz tudo sobre como foi mal
gerido o processo da nova
Comissão Europeia por parte do
Governo português.
António Costa deixou que
Orbán vetasse quem quisesse no
Conselho Europeu, mas aprovou à

primeira o nome de que Orbán
gostava. Depois deixou-se
convencer com uma mão-cheia de
promessas vazias por Von der
Leyen e apoiou-a no Twitter,
dando-lhe os votos dos nove
eurodeputados socialistas
portugueses que constituíram a
reduzida margem com que ela
passou no Parlamento Europeu. E
agora desejou para Elisa Ferreira
uma pasta da coesão onde ela terá
de ser muito cuidadosa para não
beneÆciar Portugal e das reformas
onde terá de ser muito cuidadosa
para não nos prejudicar.
Quando tudo isto começou,
alguns comentadores
explicaram-nos pacientemente
que Von der Leyen era uma
verdadeira europeísta, que Costa
tinha saído do Conselho Europeu
com uma vitória e que Orbán
estava apenas a cantar de galo.
Com a lista dos futuros
comissários apresentada, vemos
agora quem foi de facto o
ganhador no Conselho. O
Parlamento Europeu deveria
rejeitar o colégio de comissários e
pôr o contador a zeros antes que
esta “Comissão Von der Orwell”
destrua o projeto europeu para as
próximas décadas.

Costa deixou que
Orbán vetasse quem
quisesse no Conselho
Europeu, mas
aprovou à primeira o
nome de que Orbán
gostava. Deixou-se
convencer com uma
mão-cheia de
promessas vazias

Euromilhões 3222530493 61.º Prémio149.000.000€
Esta informação não dispensa a
consulta da lista oficial de prémios

ex-ministro da justiça de Orbán,
László Trocsany, que
superintendeu aos piores ataques
de que há memória na UE contra a
independência do judiciário e a
separação de poderes, viu ser-lhe
atribuída a pasta do alargamento
da UE. Se Trocsany for bem-
-sucedido e países como a Sérvia
ou a Macedónia (do Norte)
entrarem na UE, tal não se fará
com condições exigentes de
respeito pelos valores do Estado
de direito democrático, mas antes
como uma série de

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