Público - 11.09.2019

(Jacob Rumans) #1
Público • Quarta-feira, 11 de Setembro de 2019 • 7

SEM COMENTÁRIOS LONDRES


TOBY MELVILLE/REUTERS


Esta frieza


U


ma das coisas estranhas que eu
noto em Portugal desde que nasci
é a adopção da frieza como modo
de viver.
Eu tenho a sorte de me lembrar
dos portugueses emotivos,
curiosos e maçados — tanto mais
que, quando havia uma pessoa
fria e automática, era uma
excepção.
Claro que a frieza recompensa quem a
adopta. São muito mais convenientes a
indiferença e o proÆssionalismo. Assim
podemos trabalhar sem estarmos
emocionalmente envolvidos, friamente.
Mas tenho pena. Perdia-se mais tempo
porque cada querela envolvia uma
comparação de honras, uma reacção histérica
que interrompia (e estragava) o dia.
Das conclusões mais tristes da sabedoria é
estarmos todos cada vez mais parecidos.
Aprendemos a comportar-nos, a poupar
tempo, a não chamar as atenções.
Meu Deus do céu, se uma pessoa prescinde
de chamar as atenções, de que mal profundo
padece?
Agora, quando me perguntam pelos
portugueses, sem curiosidade ou entusiasmo,
respondo que somos como os outros — e as
pessoas não se desiludem com isso.
A frieza é o progresso. A falta de alarido é
sinal de civilização. Mas perde-se tanto
sentimento humano, tanto teatro, tanta fuga
ao tédio do trabalho e dos dias!
Claro que faz parte de ser português
imaginar-se pior. Eu imagino o dia em que me
pedirão um texto sobre “a frieza, essa
característica tão típica dos portugueses”.
Esse dia ainda não chegou, graças a Deus.
Ainda aproveitei esta nesga para me poder
queixar, na esperança que os leitores mais
velhos do que eu saibam do que estou a falar.
Ou já não queiram pensar nisso.

Miguel Esteves Cardoso
Ainda ontem

A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores

ESCRITO NA PEDRA


O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca


um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo


Fernando Pessoa, poeta, 1888-


EM PUBLICO.PT


Zhanna transforma
os azulejos em roupa —
e está na Bienal de Veneza
Vestidos, calções, saias: desde 2014,
Zhanna Kadyrova reinventa moda com
azulejos de edifícios que viram o seu
propósito inicial alterado. Este ano, as
peças de Zhanna estão em exposição na
Bienal de Veneza.
Publico.pt/p^

Eles puseram-se Na Pele Dela
em nome da igualdade de género
O cantor e compositor brasileiro radicado
em Lisboa Jhon Douglas em roupas íntimas
e numa pose sensual; o vocalista dos
Capitão Fausto Tomás Wallenstein, num
banho de imersão, a depilar a perna com
uma lâmina; o músico Carlos Nobre aka
Carlão, de pijama, a tricotar um colorido e
gigante cachecol. Publico.pt/culto

Serralves inaugura passadiço
que sobe até à copa das árvores
É um “percurso elevado ao nível da copa
das árvores”, que irá permitir uma nova
forma de viver o parque. Concebido pelo
arquitecto Carlos Castanheira em
colaboração com Siza Vieira, irá até
permitir, como garantem, uma “impactante
experiência de observação e estudo da
fauna e flora de Serralves”.Publico.pt/fugas

Um elemento do clã Bolsonaro voltou a pôr em
causa o sistema democrático brasileiro. Desta
vez, foi o filho do meio do Presidente, Carlos
Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro há 18 anos. A
falta de apego às regras do processo democrático e à
separação de poderes é gritante entre os que circulam
no Palácio do Planalto, mas o Brasil tem conseguido
sobreviver ao flirt com o autoritarismo. O teste às
instituições emanadas da Constituição de 1988 irá
continuar nos próximos tempos. (Pág.29) J.R.R.

John Bolton despediu-se ou foi despedido? O
conselheiro para a Segurança Nacional, ele
próprio uma ameaça a qualquer noção de
segurança, deixou de desempenhar aquele cargo.
Ficamos agora a saber que aquele que tem sido o
maior instigador da abertura de um conflito com o
Irão, Venezuela ou Coreia do Norte, como o fez com
George W. Bush a propósito do Iraque, afinal, dava
sugestões que nem Trump subscrevia. O mundo fica
Carlos Bolsonaro John Bolton mais seguro sem Bolton. (Pag. 30) A.C.
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