Exame - Edição 1180 (2019-03-06)

(Antfer) #1

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Bill Gates no lançamento
do Windows 95: a Microsoft
popularizou o computador pessoal

CAPA | TECNOLOGIA


Mas o gráfico das ações da Micro-
soft conta uma história bem diferente.
Há cinco anos sob o comando do in-
diano Satya Nadella, somente o ter-
ceiro presidente de uma companhia
que está prestes a comemorar 44 anos
de existência, a Microsoft vem pas-
sando por uma das maiores transfor-
mações de sua história. Em sua pri-
meira aparição pública na liderança
da empresa fundada por Bill Gates,
Nadella falou de um futuro em que a
computação em nuvem, a inteligência
artificial e a mobilidade viriam em
primeiro lugar. Em nenhum momen-
to ele mencionou o Windows, produ-
to que deu à empresa um virtual mo-
nopólio dos sistemas operacionais no
começo dos anos 2000 e levou o go-
verno americano a mover um proces-
so antitruste contra a Microsoft por
causa da distribuição do navegador
Internet Explorer junto com o siste-
ma. A EXAME, Nadella afirmou: “A
ilusão de que o sucesso dura para
sempre é algo que nós queremos ex-
purgar de nossa consciência. Porque
é aí que a arrogância acaba se insta-
lando”. [Veja entrevista na pág. 28.]


Nadella sucedeu ao falastrão e arro-
gante Steve Ballmer, que, em 2007,
afirmou que o iPhone, da Apple, “não
tinha chance nenhuma” de sucesso no
então nascente mercado de smartpho-
nes e chamou o sistema Linux de um
“câncer” que ameaçaria de morte o
modelo de negócios do soft ware pro-
prietário, a vaca leiteira que transfor-
mou a Microsoft na maior potência
global de software. Enquanto Ballmer
curtia a aposentadoria cuidando de
seu novo negócio, o time da NBA Los


Angeles Clippers, Nadella começou a
arrumar a casa. Ele se concentrou,
acima de tudo, em mudar a cultura
da empresa. Reescreveu a missão da
companhia e apostou tudo na nuvem,
no software por assinatura e, quem
diria, até se atreveu a falar em amor
pelo software livre. Em termos con-
cretos, o resultado até aqui é uma
ação que vale quase o triplo de cinco
anos atrás. Um indicador talvez mais
importante seja o ânimo, que não po-
de ser medido com números, mas

tem impacto na hora de contratar e
de reter talentos, de energizar os fun-
cionários e de cristalizar a visão que
vem do topo. Como EXAME consta-
tou em uma visita à sede da Microsoft
no fim do ano passado, o clima é de
otimismo. Ou como diz o francês
Jean-Philippe Courtois, há 34 anos na
empresa e um dos principais execu-
tivos da equipe de Nadella: “Voltamos
a ter aquela atitude do desafiador”.
O serviço de computação em nu-
vem Azure é o maior símbolo da nova
Microsoft. A venda de licenças de
programas como Windows e Office
ainda é responsável por uma fatia
considerável do faturamento e pelo
grosso dos lucros. Mas o crescimento
— e, na visão de Nadella, o futuro da
tecnologia digital — está nos serviços

EM SUA PRIMEIRA APARIÇÃO PÚBLICA,


NADELLA FALOU DAS TECNOLOGIAS


DO FUTURO. EM NENHUM MOMENTO


MENCIONOU O WINDOWS E O OFFICE


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