Exame - Edição 1180 (2019-03-06)

(Antfer) #1
6 de março de 2019 | 29

Satya Nadella, em São
Paulo: “Nossos melhores
dias ainda estão por vir”

mais digitalizados daqui para a frente.
O nível de intensidade tecnológica é co-
mo as empresas e os países vão medir
seu progresso. A Microsoft tem de aju-
dar essas empresas, em todos os países,
a aumentar sua intensidade tecnológi-
ca. Isso quer dizer que nossos melhores
dias ainda estão por vir.


Como fazer isso num momento em
que as empresas de tecnologia são tão
criticadas por violar a privacidade ou
por tornar certos empregos obsoletos?
Precisamos ter uma visão clara tanto da
oportunidade que a tecnologia propor-
ciona quanto de suas consequências
não intencionais. Tenho muito claro que


a privacidade deve ser respeitada como
um direito humano. Sei que no Brasil
existem novas regulações sobre isso.
Nós damos as boas-vindas a elas. E es-
tamos garantindo que nossos produtos
estejam de acordo com as regras. De
todo modo, as empresas de tecnologia
precisam ser capazes de pensar sobre
as consequências enquanto constroem
as soluções, e não depois.

O que os países emergentes, como
o Brasil, podem fazer para usar as
novas tecnologias em seu benefício?
Acredito que, nesta próxima fase, as
economias emergentes não terão um
crescimento catch-up (“tirar o atraso”),

como se costuma dizer. Penso que a am-
bição do Brasil deveria ser atingir um
alto grau de intensidade tecnológica. E
isso não deveria ser feito com o velho
modo de pensar sobre um mercado
emergente. A ambição deve ser criar tec-
nologias originais que só o Brasil pode
desenvolver, por causa de todo o seu ca-
pital humano e vantagens comparativas
da economia brasileira. E o país pode usar
essas tecnologias para ser competitivo
globalmente. A próxima fase do cresci-
mento econômico ocorrerá assim.

O senhor esteve com o presidente
Jair Bolsonaro, em Davos, na Suíça.
Qual sua perspectiva sobre a economia
brasileira no novo governo?
Para mim, a conversa com ele foi boa.
Uma conversa sobre o que o Brasil aspira
fazer em seu governo. Acho que existe
uma sensação de otimismo sobre como
ouso da tecnologia pode ajudar o Brasil
a gerar crescimento econômico. Uma das
coisas que eu falei em Davos foi sobre a
próxima fase do crescimento econômico,
que precisa ser muito mais inclusiva. Não
é só uma questão de a tecnologia digital
ser usada para fazer mais setores ou seg-
mentos da sociedade prosperarem, mas
de qual é a amplitude do benefício eco-
nômico e social que é gerado.

O senhor tornou-se presidente da
Microsoft depois de Bill Gates e Steve
Ballmer. Qual foi o conselho mais
importante que eles lhe deram?
Bill e Steve são figuras históricas que ti-
veram uma trajetória incrível. Eu aprendi
muito com eles. O Bill usa sua honestida-
de intelectual para tudo. Ele consegue ir
até a raiz de qualquer assunto. E nunca
está satisfeito. Sempre pressiona para
buscarmos a excelência. E o Steve é al-
guém que cria muita energia. O melhor
conselho dele foi quando me disse: “Veja
bem, não tente reproduzir o que eu faço.
Seja você mesmo. E seja corajoso, porque
do contrário não vai conseguir muito. Mas
também acerte bastante”. Esse é sempre
odesafio mais difícil.
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