Exame - Edição 1180 (2019-03-06)

(Antfer) #1
6 de março de 2019 | 43

tempo, uma das maiores empresas do se-
tor, com capital listado na bolsa de valores
e uma referência no nicho de média e al-
ta renda na Região Sudeste do país. Agora,
passa por tantas reviravoltas na gestão
que deixa investidores, fornecedores e
clientes sem entender direito que rumo
vai tomar. Com a corrida prestes a come-
çar, a Gafisa segue nos boxes.
Construtora criada em 1954 no Rio de
Janeiro com o nome de Gomes de Almeida
Fernandes, a Gafisa vem há quatro anos
tentando melhorar sua situação financei-

D


ESDE QUE A RECESSÃO ACABOU, NO
FINAL DE 2016, as construtoras bra-
sileiras estão ansiosas por reto-
mar o crescimento. Tendo ainda
vivas as boas lembranças do último ciclo
de avanço, que durou de 2010 a 2013, e as
lições da subsequente derrocada, elas se-
guem monitorando de perto os dados de
emprego e crédito. Enquanto esperam um
sinal contundente de melhora, reforçam
o caixa, reduzem o endividamento, apro-
veitam os preços mais baixos para com-
prar terrenos, azeitam os processos de
execução de obras. Deixar a casa em or-
dem é essencial para poder embarcar na
retomada. A não ser que se trate da Gafisa.
A construtora era, até há muito pouco

ALEXANDRE BATTIBUGLI

ra. Com uma dívida de 1,9 bilhão de reais
em 2015, tomou a decisão de encolher
drasticamente as atividades para voltar a
parar de pé. Desde então, diminuiu seus
lançamentos de prédios em um terço, para
730 milhões de reais em 2018 (segundo
dados preliminares), e separou as opera-
ções da Tenda, incorporadora voltada pa-
ra a baixa renda adquirida em 2008. Dois
anos depois de ter sido separada da Gafisa,
a Tenda vive seu melhor momento e é a
favorita dos investidores no segmento de
baixa renda. Os esforços da Gafisa, lidera-
dos pelo então presidente, Sandro Gamba,
estavam começando a funcionar. Segundo
estimativas do banco de investimento Itaú
BBA, o prejuízo recorde de 486 milhões de

reais registrado em 2017 deve ter diminuí-
do para 166 milhões de reais em 2018, e o
faturamento deve ter passado de 609 mi-
lhões de reais para 1,1 bilhão de reais no
mesmo período, com diminuição de 27%
da dívida, para 800 milhões de reais.
Mas as medidas não se refletiram numa
melhora do valor de mercado da empresa,
que em 2018 alcançou seu nível mais bai-
xo, na casa dos 400 milhões de reais. Ba-
rata e com capital diluído, a Gafisa tor-
nou-se um alvo óbvio para investidores
que caçam pechinchas. Era o caso do

coreano Mu Hak You, que tomou o poder
na companhia e virou o negócio de cabe-
ça para baixo no último trimestre de 2018.
You fundou a GWI Asset Management em
1995 como uma factoring no bairro do
Bom Retiro, em São Paulo, conhecido pe-
lo comércio popular. Empresários da co-
munidade coreana que vivem no bairro
sempre formaram a maioria da clientela
da gestora de investimentos. You é des-
crito por quem o conhece de perto como
inteligente e habilidoso para detectar bo-
as oportunidades de ganhos, mas tam-
bém agressivo ao limite. Segundo funcio-
nários, ex-funcionários e fornecedores, o
executivo já chegou a atirar um cinzeiro
e um grampeador em interlocutores du-

MOMENTO DIFÍCIL
Endividada e lançando menos, a Gafisa sofre com a desconfiança de investidores
Lançamentos (em bilhões de reais)

4,5


2010 2018


3,5 3
2,9
1,6^2
0,9 0,6 0,7(1)

2010 2018


Faturamento (em bilhões de reais)

3,72,82,82,52,22,30,90,61,1(2)


Lucro/prejuízo (em milhões de reais) Valor de mercado (em bilhões de reais)

2010 2019 (3)


4,5(4)1,51,61,10,70,70,80,80,70,4


-166(2)


2010 2018


416
-1,1

-127


867


-43


75


-318


-486


(1) Prévia (2) Estimativa (3) Em 25/2 (4) Pico em novembro/2010 Fontes: Gafisa e Itaú BBA
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