Exame - Edição 1180 (2019-03-06)

(Antfer) #1
6 de março de 2019 | 59

Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe,
que monitora o desmatamento da Ama-
zônia e fornece os índices anuais de des-
truição do bioma desde 1988. Há dois
anos, o mesmo trabalho começou a ser
feito para o Cerrado.
A despeito de o Brasil possuir um fer-
ramental poderoso — e recursos huma-
nos qualificados para mapear a dinâmica
do uso da terra —, falta sinergia entre
produção agropecuária, planejamento
territorial e conservação florestal. A Ama-
zônia, uma das principais áreas respon-
sáveis pelo balanço de chuvas no país, já
perdeu cerca de 20% da cobertura original
— e o Cerrado, onde nasce boa parte das
bacias hidrográficas brasileiras, mais da
metade. “O Brasil é um país maduro para
gerar dados, mas ainda é imaturo para
usá-los com eficiência”, afirma André
Guimarães, diretor executivo da Coalizão
Brasil Clima Florestas e Agricultura, or-
ganização que reúne quase 200 membros,
entre empresas do agronegócio, varejis-
tas, ONGs e acadêmicos. Na prática, al-
guns dos alertas gerados pelos sistemas
em operação no país se sobrepõem, difi-
cultando o trabalho de quem depende
disso para tomar decisões. É o caso do
Ibama, que, não raro, demora a chegar à
exata imagem dos perímetros de desma-
tamento ilegal pelo país. Alia-se a isso o
fato de que nenhum dos sistemas de aler-
ta tem escala nacional. Hoje, eles dão
prioridade às áreas mais ameaçadas, co-
mo o perímetro dos nove estados da Ama-
zônia Legal, que abrange Acre, Amazo-
nas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso,
Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
A boa notícia é que esse cenário deve
mudar. Isso porque o Ministério do Meio
Ambiente está prestes a fechar uma par-
ceria com o MapBiomas, um projeto que
envolve universidades, ONGs e empresas
de tecnologia — como o Google — no ma-
peamento anual da cobertura e da mu-
dança de uso da terra no Brasil (veja en-
trevista na pág. 62). O objetivo agora é
alçar as informações que já são produzi-
das por aqui a um novo patamar de deta-
lhamento e agilidade de interpretação.
Isso significa que, a cada alerta lançado
pelos sistemas em funcionamento, como
o Prodes, do Inpe, será possível saber, de
maneira mais automática, se o desmata-

N


ÃO HÁ DÚVIDA DE QUE DADOS CONFIÁ-
VEIS SÃO PRIMORDIAIS PARA O pla-
nejamento de políticas públicas.
Isso se aplica também ao estraté-
gico setor agropecuário no Brasil. Nesse
caso, as imagens de satélite e os sistemas
de georreferenciamento são imprescindí-
veis para fornecer dados que permitam
monitorar, administrar e planejar ações
que garantam o cumprimento da lei — e
o uso sustentável dos recursos naturais,
já que deles depende a própria sobrevi-
vência da agricultura. Num país de di-
mensões continentais como o Brasil, on-
de o desmatamento ilegal ainda é fre-
quente, a tarefa não é das mais fáceis.

Ainda assim, sistemas de informação
geográfica — entre eles os de identifica-
ção de desmatamento — foram desenvol-
vidos há décadas aqui. O país conta hoje
com 11 sistemas de alerta de desmata-
mento, com diferentes escalas e periodi-
cidade, e que nem sempre conversam
entre si. Eles geram informação para di-
ferentes órgãos públicos, como o Ibama,
responsável pela fiscalização ambiental,
o ICMBio, que cuida de unidades de con-
servação, ministérios públicos, governos
estaduais e, claro, para o próprio Ministé-
rio do Meio Ambiente. Atualmente, o
maior e mais importante entre esses sis-
temas é o Prodes, operado pelo Instituto

Colheita de soja: alertas
de desmatamento
poderão ser processados
mais rapidamente
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