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TECNOLOGIA | ÁUDIO
18 milhões de pessoas no país, segundo a
empresa de análise de dados Podtrac.
O Brasil não teve ainda um podcast co-
mo o Serial. Só que a maior facilidade
para ouvir os programas também tem
aumentado o interesse das pessoas por
aqui. Além do acesso fácil a smartphones
e da velocidade maior da internet, apps
como o Pocket Casts e o Google Podcasts
ocuparam um vácuo do iTunes (exclusivo
dos iPhones) nos celulares com o sistema
Android, que são os mais populares no
país. Os serviços de streaming de música,
como o Spotify e o Deezer, também pas-
saram a desempenhar um papel impor-
tante quando incluíram os podcasts em
seus catálogos para atrair mais usuários.
“É uma evolução natural: os serviços que
tinham apenas música estão virando pla-
taformas de streaming de áudio em ge-
ral”, diz Thiago Rangel, editor de conteú-
do não musical da Deezer. “As pessoas
dizem prestar atenção nos anúncios
quando eles têm a ver com o episódio
A DEMOGRAFIA DOS PODCASTS
No Brasil, o público que mais ouve podcasts é predominantemente jovem, tem
curso superior e está disposto a pagar para ter acesso a conteúdo exclusivo
Fonte: Associação Brasileira de Podcasters
têm até
39 anos
91 % 84 %
são
homens
Quem ouve?
62 %
estão
cursando ou
concluíram
a universidade
81 %
têm renda
familiar de
até 10 000
reais
74 %
escutam
podcasts porque
podem ouvir
quando quiser
39 %
ouvem
podcasts
há mais de
cinco anos
Potencial de gerar receita
64 %
estão dispostos a pagar de 5 a 30 reais para
ter acesso a um conteúdo exclusivo
61 %
querem simplificar a vida e ter todo o
conteúdo de áudio em um lugar só.” O
tempo que os brasileiros passam ouvindo
podcasts cresceu 130% no ano passado,
segundo dados do Deezer. No Spotify, o
número de ouvintes subiu 330% de abril
de 2017 a abril de 2018.
Manter um negócio saudável é um de-
safio. A receita com anúncios tem aumen-
tado, mas ainda deve ficar centrada nos
Estados Unidos. O programa The Daily,
do jornal The New York Times, hoje o
podcast mais popular do mundo, é um
produto rentável. Mas a NPR admite que
existem programas sustentáveis e outros
não. No Brasil, não há números de fatura-
mento do setor, já que a maioria dos pod-
casts é produzida por blogueiros, e sua
fonte de renda são os anúncios em seus
sites, e não nos programas de áudio. Há
quem tenha mais sucesso, como o Nerd-
cast e o Rapaduracast, dois programas
que existem há mais de uma década. Ou-
tros, como o Anticast, recorrem a campa-
nhas de doação para levantar fundos. Eles
aproveitam o fato de que 64% dos ouvin-
tes brasileiros, na maioria jovens e com
curso superior, estão dispostos a pagar
para ter benefícios, segundo uma pesqui-
sa da Associação Brasileira de Podcasters.
“Ainda falta maturidade ao mercado. Os
anunciantes e os podcasts ainda não che-
garam a um modelo de receitas perto do
ideal. Agora é o momento de inventar
um”, diz Miguel Genovese, diretor de cria-
tividade e inovação da PwC Brasil.
O movimento tem acontecido aos pou-
cos no segmento. “Estamos vendo marcas
como Gatorade e Mastercard começando
a investir em podcasts para ter uma rela-
ção mais próxima com a audiência e cons-
truir a marca, e não só para vender pro-
dutos”, diz Cristiano Dias, sócio-fundador
da produtora de podcasts Ampère. Em
2017 e 2018, as duas marcas (Gatorade e
Mastercard) lançaram programas pró-
prios com até seis episódios que falam
sobre esporte e dinheiro. Ambas as com-
panhias produziram o conteúdo em par-
ceria com a mesma empresa: a Gimlet
Media, aquela comprada pelo Spotify. O
caso ilustra o potencial que o aplicativo
de música tem. Acompanhar o mercado
de perto e se antecipar à demanda, às ve-
zes, é a chave para o sucesso. Q
Gravação de Serial: o programa
popularizou o formato de
podcast nos Estados Unidos
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