DEZEMBRO 2019 | REVISTAVOX.COM 67
mandaram fotos da
inauguração da sala que
atualmente está em uso.
Foi feita uma sala de aula
para aproximadamente
40 pessoas. O espaço é
usado para o ensino de
crianças e reuniões dos
índios.
Mateus contou como
surgiu a ideia de uma
viagem com foco em
ajudar o próximo. “Sur-
giu do coração de nosso
pastor da época, o José
Eduardo Lopes, o Zeca,
com o intuito de ser uma
viagem intercultural
e missionária. Arre-
cadamos dinheiro por
diversos meios para a
construção. Cada obreiro
arcou com os custos da
viagem, com recursos
próprios e através de
doações”. Eles enviaram
antecipadamente um
valor em dinheiro para
que o posto de missão
mais próximo comprasse
e providenciasse a
tempo o envio de
alguns materiais
de construções
necessários para a
empreitada.
Atualmente,
José Eduardo Lopes, carinhosa-
mente conhecido como Zeca, atua
como pastor da Igreja Batista de
Bastos. Naquele tempo, Zeca levan-
tou homens para a jornada depois
de conhecer a história de um casal
que vive de missões. “A ideia sur-
giu após sabermos o trabalho dos
missionários Thomas e Claude-
liz”, disse.
O desafio da viagem foi ainda
maior já que muitos índios ali não
falavam o mesmo idioma do gru-
po. “O que eu falava era traduzido
pelo missionário Thomas, mora-
dor e evangelizador dos índios,
mas mesmo com a dificuldade do
idioma, Deus dava condições de
entendimento”, destacou Mateus.
Além do idioma, a alimentação
também foi um desafio. “Uma das
dificuldades foi a alimentação dos
índios, seus hábitos são comple-
tamente diferentes dos nossos”,
completou Zeca.
Já o advogado lembrou-se do
difícil trajeto percorrido. “Leva-
mos três dias para chegar até o
local. As estradas da região eram
precárias e para percorrer os
últimos 300 quilômetros levamos
quase seis horas, especialmente
por água”.
Quando os homens chegaram
até a última cidade do estado de
RO, Guajará-Mirim, já na divi-
sa com a Bolívia, tomaram uma
embarcação bastante precária, de
madeira feita de forma artesanal e
com um pequeno motor.
“Colocamos toda nossa
carga nela e levamos,
por água, quase 12 horas
navegando para chegar
até a aldeia”.
Mateus conta que o
grupo chegou na aldeia
já em total escuridão,
aproximadamente meia
noite. E a recepção foi
um tanto quanto assus-
tadora. “A única coisa
que víamos no meio
da escuridão noturna
eram olhos de jacaré”.
Ao chegar na aldeia o
grupo ainda teve que, na
madrugada, armar os
acampamentos. Todos
ficaram instalados em
barracas.
O clima foi outro
ponto de dificuldade.
Durante o dia o calor era
intenso. A temperatura
variava de quase 40°C
durante o dia para 15°C
ou menos de madrugada.
Trata-se de um clima
tropical típico de
floresta.
Outro ponto
impactante relata-
do foi a precarie-
dade do local. Se-
gundo os homens,
existe muita malária no meio
indígena e isso foi um desafio.
“Tínhamos medo de algum inte-
grante do grupo contrair a febre”.
Felizmente não ocorreu.
O banho era no rio. Com essa
variação toda de temperatura eles
chegaram a tomar banho com
água gelada. “E ainda tínhamos
dois grandes receios: jacarés e o
tão conhecido peixe ‘candiru’ que
adentra pela uretra do homem e
causa um grande estrago, mas com
a graça de Deus nada nos atingiu”.
Em meio à tantos desafios e di-
ficuldades, o sentimento de satis-
fação consegue ser ainda maior. “A
satisfação foi poder compartilhar
um pouco da minha história e do
que Deus havia operado em minha
“É satisfatório ver o desprendimento material
dos missionários e a renúncia de vida por um
desafio grandioso.”
José Eduardo Lopes