Público - 25.08.2019

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12 • Público • Domingo, 25 de Agosto de 2019


POLÍTICA


MIGUEL MANSO

A aposta do primeiro-ministro sempre foi em Pedro Marques, mas teve de sugerir também uma mulher


Pedro Marques deverá ser mesmo —
tal como António Costa desejou des-
de o início — o futuro comissário euro-
peu, com o pelouro dos fundos estru-
turais. O primeiro-ministro também
apresentou à nova presidente da
Comissão Europeia, Ursula von der
Leyen, o nome de Elisa Ferreira,
actual vice-governadora do Banco de
Portugal, por exigência da sucessora
de Juncker, que desaÆou todos os
Estados-membros a apresentar um
nome de um homem e de uma
mulher, de forma a conseguir fazer
uma comissão paritária.
Mas as possibilidades de Elisa Fer-
reira estão diminuídas porque a pasta
que António Costa pediu para a can-
didatura da vice-governadora do Ban-
co de Portugal a comissária é a toda-
poderosa pasta da Economia e Finan-
ças. Ora, com Mário Centeno a
presidir ao Eurogrupo, fontes contac-


Marques mais perto de ser


comissário depois de Costa ter


pedido o ‘impossível’ para Elisa


tadas pelo PÚBLICO consideram esta
uma “missão impossível”: a improba-
bilidade de a nova presidente da
Comissão colocar dois portugueses
como interlocutores directos em
matérias estruturantes da União,
como a economia e as Ænanças é gran-
de. “Seria muito difícil que fosse uma
comissária portuguesa a lidar com
Mário Centeno”, resume uma fonte
contactada pelo PÚBLICO.
Na realidade, ao pedir para Elisa
Ferreira uma pasta praticamente
incompatível com o facto de Mário
Centeno ser presidente do Eurogru-
po, Costa acabou por “esvaziar” a
candidatura. Mas a verdade é que a
opção do primeiro-ministro para
comissário europeu sempre foi Pedro
Marques — e o convite a Elisa Ferreira
para entrar em campo deveu-se à exi-
gência de Ursula von der Leyen de
que cada país-membro apresentasse

um nome de um homem e um nome
de uma mulher.
A própria candidatura de Pedro
Marques como cabeça de lista ao Par-
lamento Europeu foi concebida de
modo a dar-lhe um peso político que
não tinha, apesar de ser governante
há muitos anos, de forma a permitir
com mais força política a sua ascen-
são a comissário europeu. Elisa Fer-
reira, ex-ministra do Ambiente e do
Planeamento, eurodeputada duran-
te 12 anos, tem uma experiência das
instituições europeias reconhecida,
nomeadamente nas áreas da união
bancária e da agenda climática — foi
a negociadora portuguesa do proto-
colo de Quioto.
Amanhã, o processo conclui-se, ou
seja, Ursula von der Leyen e os chefes
de governo chegarão a acordo sobre
qual a pessoa que representará cada
país na futura Comissão. A menos que
exista uma reviravolta de última hora
(se Ursula von der Leyen e António
Costa porventura acordassem numa
pasta que não fosse as Finanças mas
que encaixasse no perÆl de Elisa Fer-
reira), o comissário será Pedro Mar-
ques. Pelo menos, a pasta que Costa
indicou para Elisa é virtualmente
impossível de atribuir.

Dificilmente Portugal


poderia acumular a


presidência do Eurogrupo


com a superpasta da


Economia e Finanças


Comissão Europeia


Ana Sá Lopes


[email protected]

“Geringonça”
Leonete Botelho

Líder do PS agita fantasma
da ingovernabilidade à
espanhola e pede
“condições de estabilidade”

[email protected]

Um ataque claro ao Bloco de Esquer-
da, elogios ao PCP e a desvalorização
do PSD: em entrevista pré-eleitoral
ao Expresso , António Costa continua
a resistir a pedir expressamente uma
maioria absoluta e até admite gover-
nar em minoria e sem quaisquer
acordos. Mas avisa para a necessida-
de de ter condições de estabilidade,
sobretudo perante o risco de uma
recessão económica internacional.
“Eu tenho dito que é fundamental
um reforço claro do PS, acho que é
preciso evitar uma situação à espa-
nhola, em que tenhamos um PS fra-
co que conduza a uma situação de
ingovernabilidade”, disse o secretá-
rio-geral do PS. “Isso acho que nin-
guém quer. Um dos factores distinti-
vos de Portugal no conjunto da Euro-
pa é sermos praticamente uma
espécie de aldeia do Astérix da esta-
bilidade. E isso é uma mais-valia
imensa no que pagamos em juros,
na capacidade de atrair investimen-
to estrangeiro”, sublinhou o primei-
ro-ministro. “O grande ganho desta
legislatura foi a conÆança que o país
ganhou em si próprio e que interna-
cionalmente depositam em nós. E o
grande factor de estabilidade é o
PS”, disse.
Daqui ao ataque ao Bloco de
Esquerda, que ao longo deste ano foi

Primeiro-ministro


atira ao BE, Catarina


Martins pede


“humildade”


dando sinais de que gostaria de estar
na próxima solução governativa, foi
um passo. “Há um amigo meu que
compara o PCP ao Bloco de uma for-
ma muito engraçada: é que o PCP é
um verdadeiro partido de massas, o
Bloco é um partido de mass media” ,
disse Costa.
Em contraponto, o líder socialista
elogiou a “maturidade institucional”
do PCP: “Já fez parte dos governos
provisórios, já governou grandes
câmaras, tem uma forte presença no
mundo autárquico e sindical, não
vive na angústia de ter de ser notícia
todos os dias ao meio-dia... Isto per-
mite uma estabilidade na sua acção
política que lhe dá coerência, susten-
tabilidade, previsibilidade, e, por-
tanto, é muito fácil trabalhar com
ele.”
O BE não gostou das insinuações,
que considera “caricaturais” e reagiu
a duas vozes. Catarina Martins, em
declarações ao jornal digital Eco,
preferiu vincar a diferença com
António Costa: “PreÆro a humildade
de reconhecer o caminho que Æze-
mos e discutir as diferenças que
apresentamos para o país.” E acres-
centa que “o Bloco é um factor de
estabilidade e segurança na vida das
pessoas, no seu salário e na garantia
de que se pode viver melhor”.
Mais acutilante, a eurodeputada
Marisa Matias recorreu ao Twitter
para responder às farpas: “Nestes
quatro anos, enquanto precisou de
parceiros para ser governo, António
Costa nunca fez caricaturas de mau
gosto. Agora parece que vale tudo
para tentar maiorias absolutas.”
Sobre o PSD a conversa é quase
residual. Costa confessa não ter lido
ainda o programa eleitoral do maior
partido da oposição, mas do que leu
considerou-o “mau”, por “prometer
tudo a todos”, e disse esperar que
Rui Rio tenha um pior resultado do
que Passos Coelho em 2015.
Mas não se quis pronunciar sobre
a crise da direita, ainda que não
esconda que espera ganhar com ela:
“Espero ter mais condições para que
os portugueses, que há quatro anos
tiveram medo daquilo que o PS pro-
punha, tenham conÆança que o PS
é o partido que garante estabilidade
na vida pessoal, económica e políti-
ca. E que a continuidade de boas
políticas passa por um reforço
expressivo da posição do PS.”

Catarina Martins

Amanhã, Von der


Leyen e os chefes
de governo

chegarão a acordo


sobre qual a pessoa


que representará
cada país
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