Público - 25.08.2019

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Público • Domingo, 25 de Agosto de 2019 • 19

LUDOVIC MARIN/REUTERS

Macron procurou no almoço com
Trump — na esplanada de uma praia
deserta de toda a gente que não fosse
serviços secretos, polícias e assesso-
res — acalmar as hostilidades. A julgar
pelo tom do tweet de Trump (“Muitas
coisas boas estão a acontecer nos nos-
sos dois países. Grande Æm-de-sema-
na com outros líderes mundiais!”), o
repasto e a conversa correram bem.
Porém, um membro do Governo
dos EUA disse ao Politico que a Fran-
ça decidiu há meses que não iria tra-
balhar diplomaticamente para con-
seguir uma declaração Ænal por con-
senso da cimeira, optando por agir
em função da sua agenda interna e
daquilo que lhe poderá trazer ganhos
em termos domésticos. Como dizem
os franceses, on verra.


O presidente do Conselho Europeu,
Donald Tusk, disse ontem que não
quer contribuir para um “Brexit”
sem acordo e está disponível para
ouvir as novas ideias do primeiro-mi-
nistro britânico, Boris Johnson, que
anunciou ter uma alternativa ao polé-
mico backstop , a cláusula no acordo
de saída que garante que não haverá
fronteiras entre as duas partes da
Irlanda.
Tusk, que hoje se encontra com
Johnson na cimeira do G7, na cidade
francesa de Biarritz, disse, citado
pela Reuters, que quer perceber se
as propostas de Johnson são realistas
e aceitáveis para todos os Estados-
membros.
“A UE sempre esteve aberta a coo-
peração. Uma coisa é certa: não vou
cooperar com uma saída sem acor-
do”, disse Tusk numa conferência de
imprensa em Biarritz, onde a UE par-
ticipa como convidada (o G7 é com-
posto por Reino Unido, Estados Uni-
dos, Japão, Canadá, França, Itália e
Alemanha).
“Estamos disponíveis para ouvir as
ideias e perceber se são operacionais,
realistas e aceitáveis por todos. Espe-
ro que o primeiro-ministro Johnson
não queira passar à História como o
‘Sr. Sem Acordo’.”
A reunião de líderes das sete maio-
res economias do mundo decorre a
pouco mais de dois meses da data
prevista para o “Brexit”, 31 de Outu-
bro. Boris Johnson comprometeu-se
a cumprir a data, com ou sem acordo,
e nesta semana reuniu-se em Berlim
e Paris com a chanceler alemã, Ange-
la Merkel, e o Presidente francês,
Emmanuel Macron, para pedir
mudanças no texto — na cláusula de
salvaguarda para a fronteira depois
da saída e que divide os deputados
britânicos, que chumbaram três vezes
o acordo negociado com Bruxelas
pela anterior primeira-ministra The-
resa May. O backstop mantém, no
pós-“Brexit”, a Irlanda do Norte, ter-
ritório britânico, no mercado único,
submetendo-a a regulamentos euro-

Ana Gomes Ferreira


Amazónia não atinge amizade com Trump


S


e Emmanuel Macron
esperava convencer Donald
Trump a dar um passo para
o seu lado na questão da
floresta amazónica, que o
Presidente francês introduziu na
agenda do G7, o Presidente dos
Estados Unidos fez questão de
garantir antes de chegar a
Biarritz que ainda está para
queimar a árvore que o faça
mudar de ideias sobre a
protecção do ambiente e as
alterações climáticas.
Trump e Bolsonaro falaram ao
telefone na sexta-feira e o chefe
de Estado norte-americano
escreveu no Twitter que as
“perspectivas comerciais
futuras” entre os dois países
“são muito excitantes”. “A nossa
relação é forte, se calhar mais
forte do que alguma vez foi”,
acrescentou. Também no Twitter
Bolsonaro disse que os dois
países querem “lançar uma
grande negociação comercial
em breve”.
Trump não ficou contente
com a atitude do chefe de
Estado francês de introduzir na
agenda da cimeira a questão da
floresta amazónica, em
particular, e da protecção
ambiental em geral, tema
propenso a deixar Trump
isolado.
Um membro do Palácio do
Eliseu negou, no entanto, em
declarações ao Politico,
qualquer vontade de hostilizar
Trump. Para Paris, o tema
comercial e da defesa do meio
ambiente não se excluem, antes
pelo contrário. “Não é clima ou
comércio, são ambos.” “A
desigualdade, o clima e o digital
são tópicos que não nos
podemos dar ao luxo de excluir
da cimeira.”
Macron e Trump
conversaram ontem
num almoço. No
Twitter, o líder
norte-americano quis
sublinhar o tom
amigável do encontro.
Antes de viajar
para Biarritz,

Macron gravou uma mensagem
aos franceses em que
reconheceu “o desacordo com
certos países, em especial os
EUA” no que diz respeito ao
ambiente, sem deixar de referir
que é importante “responder ao
apelo do oceano e da floresta
que arde” e discutir a questão
hoje com os outros líderes.
“Sobre a Amazónia não vamos
lançar apenas um apelo, mas
uma mobilização de todas as
potências” para, “em parceria
com os países da Amazónia,
lutar contra os incêndios e
investir na reflorestação”, disse
Macron, assumindo para a
França a condição de única
potência amazónica em Biarritz,
por causa da Guiana, território
ultramarino francês.
Fosse pelas ameaças da
Europa ou pela pressão dos seus
próprios apoiantes, o Presidente
brasileiro mudou de tom em
relação ao tema da Amazónia.
Passado o tempo do desafio aos
líderes europeus, foi um
presidente Bolsonaro
apaziguador aquele que falou na
sexta-feira à noite ao país:
“Incêndios florestais existem em
todo o mundo [, daí que isso]
não [possa] ser pretexto para
sanções internacionais.”
Ciente de que a sua política
ambiental (ou ausência dela)
está a trazer mais problemas
para o Brasil, afectando até
muitos dos agro-industriais que
o apoiam, Bolsonaro anunciou
que vai enviar ajuda militar para
os estados que compõem a
denominada Amazónia Legal
(Acre, Amapá, Amazonas, Mato
Grosso, Pará, Rondónia,
Roraima, Tocantins e Maranhão).
“A protecção da floresta é
nosso dever”, afirmou o
chefe de Estado, que se
mostrou disposto a
“combater o
desmatamento ilegal e
actividades criminosas
que coloquem” a “mata em
risco”. António
Rodrigues

UE “disponível” para ouvir as


novas ideias de Boris Johnson


antonio. [email protected] [email protected]


peus, actuais e futuros, que o Reino
Unido já não negociará.
Johnson disse ter novas propostas
e na quarta-feira Merkel mostrou-se
aberta a ponderá-las — nesse dia, Tusk
garantiu que o acordo está fechado e
não é renegociável. O mesmo disse
Emmanuel Macron, que, porém, acei-
tou a proposta da chanceler de dar 30
dias aos britânicos para avançarem
propostas exequíveis.
Depois de Berlim e Paris, Johnson
disse que há “um novo alento”, mas
admitiu que o prazo é “apertado”.
Em Biarritz, Boris Johnson vai con-
tinuar a batalhar pela possibilidade
de renegociar o backstop , mas vai
também começar a promover a rela-
ção comercial do Reino Unido com os
aliados no pós-“Brexit”. Hoje reúne-
se com o Presidente dos Estados Uni-
dos, Donald Trump.
“A minha mensagem aos líderes do
G7 é que o Reino Unido que eu gover-
no vai ser uma nação que, no plano
internacional, vai ser conÆante e vai
olhar para a frente”, disse o primeiro-
ministro britânico num comunicado
divulgado por Downing Street.
“Vamos ser um parceiro enérgico no
palco mundial. E vamos trabalhar
com os nossos aliados do G7 para
resolver as questões internacionais
mais prementes.”

Donald Tusk espera que Johnson
não seja o “Sr. Sem Acordo”

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Vamos lançar uma mobilização de todas


as potências para, em parceria com os
países da Amazónia, lutar contra os

incêndios e investir na reÅorestação


Emmanuel Macron
Presidente de França
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