Público - 25.08.2019

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20 • Público • Domingo, 25 de Agosto de 2019


Polícia e manifestantes andaram a jogar ao gato e ao rato

ROMAN PILIPEY/EPA

ALKIS KONSTANTINIDIS/REUTERS

Uma psicóloga disse que nunca viu “pessoas tão desagastadas mentalmente como agora” em Lesbos


Durante as primeiras semanas de
Agosto, mais de 1500 requerentes de
asilo chegaram à ilha grega de Lesbos
— foi mais do triplo do mesmo perío-
do do ano anterior. Desde 2015 que
não chegava tanta gente, e os núme-
ros estão a aumentar, diz organização
norueguesa Aegean Boat Report, que
monitoriza as chegadas.
Em 2015, Lesbos viveu um Verão
em sobressalto com barco após barco
de pessoas em fuga de perigos como
guerras ou perseguições a chegar a
vários locais da costa. A viagem a par-
tir da Turquia é relativamente curta,
mas perigosa, feita em pequenas
embarcações insuÇáveis com muito
mais passageiros do que é seguro.
Houve quem usasse coletes salva-vi-
das que em vez de Çutuarem iam ao
fundo; muitos não chegaram com
vida. Habitantes da ilha contam que
ouviam os gritos de pessoas em diÆ#
culdades, outros viram, pela primeira
vez, alguém a afogar-se.
Nos Verões seguintes, fruto de acor-


Desde 2015 que não chegavam


tantos imigrantes às ilhas gregas


dos (entre a União Europeia e a Tur-
quia, por exemplo), o número de
pessoas a chegar às ilhas do mar Egeu
diminuiu drasticamente. Mesmo
assim, os campos para refugiados nas
ilhas continuaram a ter mais pessoas
do que a sua capacidade, em enorme
precariedade e insegurança.
O campo oÆcial de Lesbos, Moria,
só tem capacidade para entre duas
mil a três mil pessoas, mas há muito
que acolhe mais: no início de Agosto
eram 7370, disse o responsável pelo
campo, Yiannis Balpakakis, ao jornal
grego Kathimerini.
Uma psicóloga dos Médicos sem
Fronteiras, Katrin Brubakk, que está
em Lesbos, onde foi sete vezes nos
últimos quatro anos, descreveu na
quinta-feira à estação de televisão
britânica ITV: “Nunca vi as pessoas
tão desgastadas mentalmente como
agora. Todos os dias vemos adultos
psicóticos, suicidas.” Os serviços de
saúde mental estão a braços com
demasiados pacientes, e o número de
crianças atendidas por problemas
psicológicos duplicou no último mês.
A agência responsável pelas fronteiras
externas da UE, Frontex, notava, em
Julho, que a maioria dos imigrantes
eram afegãos.
A Grécia tem neste momento cerca
de 90 mil imigrantes e refugiados em
mais de 50 campos e centros tanto no
continente como em cinco ilhas do
mar Egeu, diz o diário britânico The

Times. O aumento das chegadas faz
temer que o país ultrapasse em breve
os 100 mil, o máximo com que as
autoridades gregas dizem poder lidar,
o que resultaria numa crise humani-
tária num país que está há anos em
crise económica.
O deteriorar das condições dos
refugiados na Turquia é uma das
razões para este aumento. A Turquia,
onde estão 3,6 milhões de refugiados
sírios, está a tentar enviá-los de Istam-
bul para as províncias onde se regis-
taram quando chegaram. Organiza-
ções como a Human Rights Watch
dizem que as autoridades turcas estão
a mandar alguns de volta para a Síria,
incluindo para Idlib, que está em
guerra, com as tropas de Bashar al-
Assad a tentar conquistar a última
zona na posse de uma amálgama de
grupos de rebeldes, incluindo jihadis-
tas. As autoridades turcas negam.
Esta não é a primeira vez que se
suspeita que as autoridades turcas
permitem mais saídas de barcos
quando querem pressionar Bruxelas.
O ministro dos Negócios Estrangeiros
da Turquia, Mevlut Cavusoglu, amea-
çou no mês passado cancelar o acor-
do com a UE de reenvio de imigrantes
para a Turquia, se Bruxelas não der
aos turcos a possibilidade de entrar
nos países europeus sem precisar de
visto.

O aumento faz temer que


o país ultrapasse as 100


mil pessoas em campos


de refugiados, o máximo


com que diz poder lidar


Refugiados


Maria João Guimarães


[email protected]

China


Carrie Lam volta a insistir
em conversações com os
manifestantes, que estes já
tinham rejeitado

A violência regressou aos protestos
de Hong Kong: a polícia lançou gás
lacrimogéneo e disparou balas de
borracha contra manifestantes num
subúrbio industrial depois de estes
terem atirado bombas incendiárias
e tijolos contra a polícia. Num
momento anterior do dia, tinha
decorrido uma marcha pacíÆca de
dezenas de milhares de pessoas a
marcar a 12.ª semana de protestos.
A chefe do governo de Hong Kong,
Carrie Lam, renovou ontem no Face-
book a sua proposta de diálogo aos
manifestantes, que consideraram
que a iniciativa é “uma armadilha”
porque não reconhece as suas reivin-
dicações — uma das quais é a demis-
são de Lam.
Após a violência, a polícia esvaziou
o local, levando os manifestantes a
deslocarem-se para outra zona.
Segundo o The Guardian , houve
nova intervenção da polícia, mais
confrontos e nova deslocação do
protesto. O jornal diz que os mani-
festantes despejavam sabonete líqui-
do e óleo no chão para evitar as car-
gas policiais.
Preparando potenciais problemas,
as autoridades tinham encerrado
quatro estações de metro perto da
zona de Kwun Tong, mas os manifes-
tantes conseguiram chegar à zona.

À 12.ª semana,


a violência regressa


aos protestos


em Hong Kong


Um dos motivos da manifestação de
ontem foi a instalação de postes com
câmaras que as autoridades dizem
ser para recolher dados de tráfego e
da qualidade do ar, mas que os mani-
festantes temem ser para vigilância.
Com uma motosserra, deitaram um
destes postes abaixo.
Os protestos começaram em Junho
devido a uma proposta de lei que per-
mitiria a extradição de suspeitos para
julgamento na China continental,
onde a Justiça é muito menos trans-
parente do que em Hong Kong. Mas
avançaram para um movimento geral
de exigência de mais democracia —
por exemplo, que o chefe do governo
seja escolhido por sufrágio directo e
universal e não pelo parlamento a
partir de uma lista pré-seleccionada
por um comité pró-Pequim.
Os protestos duram desde Junho
e foram sendo marcados por violên-
cia. No Æm-de-semana passado, após
uma semana em que Pequim movi-
mentou tanques para a fronteira, o
que foi visto como uma manobra de
pressão e um sinal de que a força
poderia ser usada, as manifestações
foram pacíÆcas.
Pequim libertou entretanto um
funcionário do consulado britânico
em Hong Kong, que foi detido a 9 de
Agosto quando voltava da China con-
tinental. Simon Cheng foi detido por
violar regulamentos de segurança
pública.
Foi libertado após 15 dias e a sua
família, que anunciara a detenção na
semana passada depois de não con-
seguir comunicar com Cheng, pediu
“espaço e tempo” e prometeu “mais
explicações mais tarde”.

MUNDO

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