Público - 25.08.2019

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Jornalista

A ESQUINA DO MUNDO


Um mundo de pernas para o ar


I


niciada ontem, a cimeira do G7 em
Biarritz deverá reÇectir, salvo
alguma surpresa surreal, o
absoluto desatino a que chegou o
estado do mundo. Não só daquele
representado na reunião — o que já
não seria pouco... —, mas de todo
um planeta, que nunca vimos assim
desordenado, errático, caótico,
perdido nos jogos de guerra em que
não é possível haver ganhadores
(como acontece com os Estados
Unidos e a China), ou mergulhado
numa espiral cada vez maior de
crises sem solução.
Tudo aquilo que deveria ser
claro, óbvio, transparente aos
olhos de qualquer mortal tornou-se
um enigma indecifrável ou uma
monstruosidade que escapa à mais
soÆsticada compreensão humana:
é o caso-limite entre todos das
alterações climáticas — que este
Verão de canículas históricas
ilustrou nas mais variadas latitudes
e teve agora o seu momento
culminante na devastação sem
precedentes do maior pulmão da

Terra: a Amazónia.
Siga-se o ainda breve percurso do
predador Bolsonaro e repare-se
como num período de tempo tão
curto a tragédia política brasileira se
pôde converter na tragédia
ecológica mais assustadora de que
há memória recente. Só que antes
de Bolsonaro já existia Trump e as
suas primitivas teorias negacionistas
das alterações climáticas que o
levaram a rejeitar o Acordo de Paris.
Aliás, basta seguir os tweets de
Trump — irresistivelmente grotescos
e até por vezes contraditórios num
lapso de breves instantes — para
concluirmos como a demência e a
imbecilidade podem atrever-se a
governar o mundo.
Impulsionado pela tragédia
amazónica, Emmanuel Macron
insistiu em inscrever as questões
climáticas como ponto prévio da
agenda do G7 de Biarritz. Sem
ilusões, claro.
Mas, pelo menos, para marcar
claramente as fronteiras das
responsabilidades que tendem a
diluir-se no habitual unanimismo de
fachada destas cimeiras. Macron foi
também criticado por Merkel — e
por António Costa... — quando
propôs aplicar sanções ao Brasil,
pondo mesmo em causa acordo
recentemente negociado entre a
União Europeia e o Mercosul. Ora, a

questão é essa: ou se passam em
branco os crimes contra a
humanidade — porque é disso que
também se trata —, em nome da
hipocrisia diplomática dominante,
ou se cria uma exigência de
denúncia desses crimes, apesar do
desconforto e dos atritos que isso
provoca. A Amazónia tornou-se
agora o símbolo maior do combate
contra a criminalidade ambiental
que tem como cúmplices mais
notórios Bolsonaro e Trump.
Mas o caso da Amazónia cruza-se
com outros sinais de crise
civilizacional que atravessam o
mundo de forma cada vez mais
insistente, provocando
coincidências perturbadoras. Duas

das mais emblemáticas crises
europeias — o “Brexit”, num beco
sem saída, e a queda recente do
Governo italiano — colocaram em
foco duas outras personagens que
parecem fazer parte do mesmo
mundo surreal e clownesco de
Bolsonaro e Trump: Boris Johnson e
Matteo Salvini. Personagens essas
que, como os seus modelos de
origem, têm a particularidade de
desfrutarem de uma popularidade
(ainda) invejável. A tentação
populista tende a alastrar num
mundo em perda acelerada de
referências.
Ao mesmo tempo, constatamos
que aquilo que ainda há pouco nos
parecia sólido e inquestionável
acaba por abrir Æssuras inesperadas:
é o caso da persistente luta da
população de Hong Kong pelos seus
direitos civis face ao totalitarismo
chinês, ou, embora a uma escala
mais restrita, o novo surto da
resistência da oposição russa contra
o autoritarismo de Putin (o tal Putin
que o Ocidente procura aliciar para
uma nova aliança, sem que se
perceba qual é a sua substância ou a
sua efectiva Ænalidade). Que
encenações serão ainda possíveis
em Biarritz, neste mundo de pernas
para o ar?

MICHEL SPINGLE/REUTERS

Ou os crimes contra a
humanidade passam
em branco em nome
da hipocrisia
diplomática
dominante, ou se cria
uma exigência de
denúncia desses
crimes

Vicente Jorge Silva


Totoloto^4101423464 1.º Prémio 1.900.000€
Esta informação não dispensa a
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