Público - 25.08.2019

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2 • Público • Domingo, 25 de Agosto de 2019


Índice


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Um naturalista no Veão
Nove “dicas” para
aprender a identiÄcar
borboletas

Na selva com Thomas
E. Lovejoy, o biólogo
que provou porque
devemos salvar
a Amazónia

Portfólio
Na cara
das pessoas
está tudo

O Ocidente
assustou-se com o
sistema de crédito
social chinês que,
aÄnal, não existe

A


subjugação das políti-
cas ambientais às ló-
gicas económicas na
Amazónia é tema an-
tigo. Só que agora o
contexto mudou. À
frente dos destinos do Brasil está al-
guém que advoga uma liderança
musculada e de confronto aberto e
que parece acreditar, mais do que
nunca, que desenvolvimento econó-
mico é sinónimo de exploração de
recursos naturais, enquanto o mun-
do, sobretudo a Europa, está cada
vez mais consciente de que vivemos
em alerta ambiental. Nesta conjun-
tura só podia dar choque.
Os incêndios Æzeram soar o alar-
me, mas a tensão vinha de trás. Em
Junho, Bolsonaro já havia dito a
Merkel e Macron que a Amazónia
era do Brasil e que não permitiria
interferências externas na gestão do
território, enquanto os líderes eu-
ropeus advogam que é uma questão
internacional, mostrando preocu-
pação pelos níveis de desmatamen-
to Çorestal, com a Alemanha a sus-
pender o Ænanciamento de projec-
tos para a protecção da área e
diversos países europeus nos últi-
mos dias a proporem boicotes.
A Amazónia é a maior Çoresta tro-
pical do mundo e possui a maior
biodiversidade registada numa área
do planeta. A sua importância é gi-
gante. E a juntar a isso existem tam-
bém as ressonâncias simbólicas. No
imaginário de milhões é o “pulmão
do planeta” que está em causa, daí
que perante os riscos não seja sur-
preendente que milhões de vozes
se tenham feito escutar nos últimos
dias, numa dinâmica em que as re-
des sociais — quase sempre demo-
nizadas — foram decisivas, pela res-
sonância criada.
A celeuma é como deÆnir o que é
uma questão internacional. Existe
quem advogue que se a Amazónia
for tratada como um assunto vital
para a presença na Terra, também
o petróleo, as armas nucleares, o
património cultural e outras dimen-


sões capitais para a humanidade
acabam por sê-lo.
Existe um fundo de verdade nes-
sa proposição. E não deve ser es-
quecida. Se a Europa quer mostrar
que o equilíbrio ecológico está pos-
to em causa e que esta é a hora de
proteger o meio ambiente, não bas-
ta solicitar que o Brasil ampare ou
reÇoreste a Amazónia. É preciso
que esses países façam nas suas zo-
nas o que estão a pedir e ao mesmo
tempo pressionem – por exemplo,
Trump e Putin, que vão explorar
petróleo no Pólo Norte; a Rússia, o
Canadá ou o Congo, para preserva-
rem as suas Çorestas; o Governo
japonês, que autoriza a caça às ba-
leias; o próprio Macron, a desligar
as suas centrais nucleares. Ou que
questionem modelos económicos
e lógicas de crescimento inÆnito e
de acumulação de lucro.
É preciso dizer que são necessá-
rias alterações dos comportamen-
tos ao nível social, económico e
político e que a actual organização
da produção e do consumo consti-
tui um obstáculo à sustentabilida-
de. Dessa forma será mais fácil,
politicamente, mas também do
ponto de vista moral, pressionar o
Brasil a empenhar-se em soluções
que tenham em conta o bem co-
mum, inclusive a comprometer-se
com uma política humanista em
relação aos indígenas, da mesma
forma que a Europa tem de respei-
tar os imigrantes.
Dessa forma será mais compreen-
sível proclamar que a Amazónia é
sem dúvida nenhuma brasileira,
mas é também património mundial,
e que a sua destruição irresponsá-
vel, em nome do nacionalismo, não
é de forma nenhuma tolerável, num
mundo cada vez mais interdepen-
dente, que solicita que a Amazónia
seja gerida com responsabilidade
planetária.

[email protected]

Jornalista Tutti frutti


A seguir


Itália


Quando na Itália o assunto mete
política, tudo pode acontecer. A
braços com (mais) uma crise
governativa, depois da queda do
executivo liderado por Giuseppe
Conte (independente) na última
terça-feira, quem assume agora a
arbitragem é o Presidente da
República, Sergio Mattarella.
Para já, limitou-se a ouvir todos
os partidos com assento no
Parlamento. Dessas reuniões
ouviu a promessa do líder do
Partido Democrático
(centro-esquerda), Nicola
Zingaretti, de que estaria
disposto a negociar um governo
de coligação com o movimento
populista 5 Estrelas, de Luigi di
Maio, que fazia parte da defunta

coligação que caiu por iniciativa
de um dos seus membros, Matteo
Salvini, que servia como vice-
primeiro-ministro da Itália e
ministro do Interior pelo partido
nacionalista de extrema-direita
Liga do Norte. Quem mais tem
feito pressão para o PD negociar
com o M5E é o antigo
primeiro-ministro Matteo Renzi,
que não quer ver no governo
uma possível coligação entre a
Liga, de Salvini, os Irmãos da
Itália, de Giorgia Meloni, e a
Força Itália, de Silvio Berlusconi.
Confuso? Na terça-feira, dia 27,
Sergio Mattarella anuncia se a
Itália vai a votos ou se dá posse a
um governo de coligação entre o
M5E e o PD. Sérgio B. Gomes

De quem é a Amazónia?


O que é meu é teu


Desalinho


Vítor Belanciano


Cristina Sampaio

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