Público - 25.08.2019

(ff) #1

24 • Público • Domingo, 25 de Agosto de 2019


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Tecnologia


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falsas, falsas


memórias


Televisão


Por Treze Razões :


do suicídio para


o whodunnit


A terceira temporada da série Por
Treze Razões
( 13 Reasons Why , no tí-
tulo original) arranca nesta sexta-fei-
ra na NetÇix e afasta-se de vez da
temática do suicídio, narrada pela
voz da adolescente Hannah Baker
(interpretada pela australiana Kathe-
rine Langford). Agora, o mote da
nova temporada é o homicídio do
vilão Bryce Walker ( Justin Prentice)
— e, mais importante, de quem o terá
matado. A série juvenil adaptada do
best-seller de Jay Asher chegou a ser
criticada por parecer romantizar a
ideia de suicídio, o que levou os seus
produtores a manter a mensagem de
prevenção além da série, divulgando
conselhos e linhas de apoio.
Sempre no mesmo cenário de es-
cola secundária — com bullying , sexo,
drogas, violência —, a acção da se-
gunda temporada arrancou cinco
meses depois da morte de Hannah e
esta terceira começa oito meses após
o baile de Ænalistas que encerrou a
anterior temporada.
“Já tínhamos praticamente conta-
do toda a história com a Hannah
Baker. O material de base [do livro]
já tinha sido usado e isto agora dá um
novo toque à série, revigorado”, con-
ta o actor Justin Prentice em entre-
vista à revista Hollywood Reporter. O
actor refere ainda que a nova tempo-
rada “é diferente” das anteriores,
mas que continua a preocupar-se
com questões sociais numa outra
“embalagem”. A morte do ruÆa e vio-
lador Bryce Walker surge então num
registo whodunnit — em que há uma
morte e um assassino por desvendar
— e traz para a trama uma nova per-
sonagem chamada Ani (Grace Saif ),
também suspeita do homicídio.
Depois de a segunda temporada
ter acabado com o suspense de um
atentado escolar falhado, o mote
da terceira temporada só foi reve-
lado em Agosto — a morte do vilão
da série. Há até um site interactivo
chamado “Quem matou Bryce
Walker?” que, para dar resposta ao
público-alvo da série, só pode ser
jogado num telemóvel e não em
computador.
À semelhança das temporadas


anteriores (e pelo signiÆcado do nú-
mero), este terceiro capítulo terá 13
episódios — todos disponibilizados
de uma só vez. Ainda sem data anun-
ciada, já foi conÆrmada uma quarta
e última temporada.
A série criada por Brian Yorkey
que tem a actriz Selena Gomez como
produtora executiva estreou-se em
2017 e esteve envolta em controvér-
sia por abordar um tema tão sensível
quanto o suicídio — temendo-se que
se pudesse romantizar a morte ou
que inÇuenciasse negativamente o
público jovem. Transformando a
parte Æccional numa mensagem so-
cial, a NetÇix decidiu acompanhar
os episódios com mensagens de
apoio, disponibilizando linhas de
aconselhamento e outras informa-
ções no site 13reasonswhy.info.
A cena do suicídio de Hannah, no
último episódio da primeira tempo-
rada, foi das mais discutidas e foram
muitos os que a consideram dema-
siado explícita. O objectivo dos pro-
dutores era mostrar o quão horren-
da seria uma morte destas, mas as
dúvidas quanto à eÆcácia do alerta
e o trauma que daí poderia resultar
Æzeram com que a cena fosse reti-
rada pela NetÇix, em Julho.

A desinformação
tem marcado
eleições nos
últimos anos

A terceira
temporada
arranca com
a ideia do
suicídio já
longe, mas
com a morte
sempre
presente

Claudia Carvalho Silva


João Pedro Pereira


DR

FOTÓGRAFO

As tecnologias de informação permi-
tem a proliferação de mentiras, boa-
tos e das chamadas “notícias falsas”:
desde publicações em redes sociais
a sites desenhados para se asseme-
lharem a órgãos de comunicação,
passando por deep fakes , os vídeos
feitos com inteligência artiÆcial para
criar imagens credíveis que, na rea-
lidade, nunca existiram.
Os efeitos da desinformação na
Internet e a forma como as pessoas
a apreendem têm sido alvo de vários
trabalhos académicos. Um estudo
recente veio indicar que as notícias
falsas tendem a gerar memórias fal-
sas: quando confrontados com infor-
mação inventada sobre pessoas ou
eventos, muitos indivíduos aÆrmam
que têm memória dos factos descri-
tos e, em alguns casos, chegam a di-
zer recordar-se de pormenores que
não constam da notícia falsa. O estu-
do foi publicado esta semana na re-
vista cientíÆca Psychological Science.
É assinado por investigadores em
Psicologia da Universidade de Cork,
na Irlanda, e da Universidade da Ca-
lifórnia, e vem corroborar trabalhos
académicos anteriores.
A investigação decorreu em 2018,
nas semanas antes do referendo à
liberalização do aborto na Irlanda
(dois terços dos votantes optaram
por despenalizar o aborto).
Depois de lerem um resumo e um
parágrafo de cada notícia, os inves-
tigadores questionavam os partici-
pantes sobre eventuais memórias
que tinham dos factos descritos. Os
participantes eram então informados
que algumas das histórias eram men-
tiras e era-lhes pedido que indicas-
sem quais aquelas que julgavam se-
rem falsas.
Dos inquiridos no estudo, 43% aÆr-
maram ter memórias de pelo menos
uma das notícias falsas. Além disso,
os defensores do “sim” mostraram
mais tendência para acreditar — e
para se “lembrarem” — de notícias
falsas negativas para o lado do “não”,
ao passo que os defensores do “não”
mostraram uma inclinação inversa.
Uma das investigadoras, Gillian
Murphy, argumenta que as conclu-
sões poderiam ser semelhantes com
outro tipo de eventos.

A temática


do suicídio


espelhada


na primeira


temporada


despertou


preocupação


e um receio


de que a série


pudesse estar


a romantizar


a ideia


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