aeee
cotidiano
Sexta-Feira,23DeagoStoDe 2019 B5
- FábioZanini
BRASÍLIANalistadealvos pre-
ferenciais dogovernoJair Bol-
sonaro, ocardiologistaWilli-
am Dib, 72 ,acha graçaquan-
doéacusado defazerapo-
logia da maconha. “Secolo-
carmaconha aquinaminha
frente, nemvousaberiden-
tificar.Minhageraçãoéado
lançaperfume”,diz.
Odiretor-presidentedaAn-
visa (AgênciaNacional de Vi-
gilânciaSanitária) entrou na
miradogoverno ao abrir pa-
raconsultapúblicaapossi-
bilidadedeplantio de ma-
conha por empresasede
registrodemedicamentos
derivados da planta.
Foiacusado pelo ministro
da Cidadania, OsmarTerra,
de buscar subterfúgios para
aliberação do usorecreativo
da droga.Também apanhou
pesado do próprio presiden-
te,que disse queaAnvisade-
mora demaisaregistrar me-
dicamentoseparaquemoór-
gãoestaria criandodificulda-
des paravender facilidades.
Àscríticas, omédicodevoz
pausada dá de ombros. Está
acostumadoabaterdefren-
te comoocupantedocargo
mais altodanação.“Nãoéa
primeiravez queficodiscu-
tindocomumpresidente.O
Lula subiu muitonopalanque
contramim”, diz,referindo-se
àeleição municipal de 2004 ,
quando eraprefeitodeSão
Bernardo do Campo (SP) pe-
lo PSBebuscavaareeleição.
“E euganheicom 78 %dos
votoscontraoPT[naverda-
de, 76 , 3 %]”,afirma.
Filho de sírios que migra-
ramparaGarça,nointerior
paulista, Dib chegouaSão
Bernardo aos setemeses de
idade, quando os pais abri-
ramuma lojanacidade.
Lá, “Dr.Dib”foi secretário
deSaúde, vice-prefeitoepor
fim prefeito, entre 2003 e 2008.
Teveainda um mandatode
deputadofederal peloPSDB
( 2011 - 15 ). Em 2017 ,chegou à
Anvisa, indicado pelo então
presidente Michel Temer,que
conhecedesdeadécada de
1980 .Tem mandato na agên-
ciaaté dezembrodesteano.
AAnvisa ofereceblindagem
pelofato de diretores de agên-
ciasteremmandato fixo.
Éumcasodiferentedoocor-
ridocomoutros inimigos do
governo, comooex-diretor
do Inpe(InstitutoNacional
de Pesquisas Espaciais)Ri-
cardoGalvão,exoneradoem
razão da insatisfação deBol-
sonarocom os dados sobreo
desmatamentodaAmazônia.
“Virei bodeexpiatório”,diz ele.
“Mas quandovocê bate boca,
acabadenegrindoaimagem
da agência. Acabaentrando
na politicagem”, afirma.
Dibcontaque introduziuo
tema da maconhapara con-
sultapúblicaporuma ques-
tãoprática. Épreciso norma-
tizarotema, diz ele, que hoje
éumcipoalde medidas judi-
ciais beneficiando indivíduos
eassociações.
Nem sei identificar
oqueémaconha,
dizWilliam Dib,
presidentedaAnvisa
aos 72 anos, cardiologistaviraalvoprioritário
dogovernoJairBolsonaroapósproporuma
consultapública sobreuso medicinal da erva
“
[A proposta
em debate na
Anvisa]vai
regularizar
oplantio da
maconha no
Brasil, que
não serápara
dezenas ou
centenasde
pessoas.Não
haverá essa
possibilida-
de, porque há
apalavrinha
‘cota’naregu-
lamentação
William Dib
diretor-
presidente
da anvisa
William Dib,diretor-presidentedaAnvisa AndréCoelho-4.jun.2019/Folhapress
General da reservavai ocupar diretoria
que cuidadoEnem, semchefedesde maio
- Paulo Saldaña
BRASÍLIAOgeneral dareserva
CarlosRobertoPintodeSou-
za foiescolhido pelogoverno
Jair Bolsonaro(PSL) paraas-
sumiraDiretoria deAvaliação
da EducaçãoBásica,órgãodo
Inep (InstitutoNacional de Es-
tudosePesquisas Educacio-
nais)responsávelpor ações
comooEnem.Ocargoestava
vagodesde maio e, ao longo
desteano,ficoucerca de cin-
comeses desocupado.
Semexperiênciaemavali-
açãoeducacional, Souzafez
doutorado em AltosEstudos
MilitarespelaEscoladeCo-
mandoeEstado Maior do
Exército —ele defendeuatese
“A inteligênciaeaguerraele-
trônicanocontextodaguer-
ra da informação”.Asinforma-
ções são da plataforma Lattes.
Omili tartambém acumu-
la um mestrado na escola do
Exércitodos EstadosUnidos.
Comogeneral de brigada, che-
fiouoComando de Comuni-
cações eGuerraEletrônica do
ExércitoeoCentrodeDefe-
sa CibernéticadoExército,
quandocoordenouaáreade
SegurançaeDefesa Ciberné-
ticaduranteosJogos Olímpi-
coseParaolímpicos doRiode
Janeiro, em 2016.
Aescolha do militar,publi-
cada pelo jornalOGlobo,foi
confirmada àFolhapelogo-
verno.Anomeaçãoéespera-
da paraospróximos dias.
Avacância na diretoria
do Ineptemcomprometi-
dooandamentodeações do
ONGs europeiasmarcam
protestos em frente a
embaixadas brasileiras
- GiulianaMiranda
LISBOAAatual onda de quei-
madas na Amazônia desen-
cadeou umaavalanche de
críticas aogovernobrasileiro
feitas por ONGsnaEuropa.
Diversas delastêmsemobi-
li zado parapromovereven-
tosdeprotestoemfrentea
embaixadaseconsulados
brasileirosnesta sexta( 23 ).
Já há manifestaçõesemde-
fesa da florestaconfirmadas
em Londres, Lisboa, Madri,
Pariseoutrascapitais.
OSecretário-Geral da ONU,
António Guterres, manifes-
toupreocupaçãopela situa-
çãodaAmazônia nestaquinta
( 22 ). “Estou profundamente
preocupadocom os incêndi-
os naflorestaamazônica.No
meio da crise climáticaglo-
bal, não podemos permitir
mais danosaumafonteim-
portantedeoxigênioebiodi-
versidade.AAmazônia deve
ser protegida”, escreveu.
“A Amazônia estáemcha-
mas. Os pulmões do plane-
ta estão pegandofogo. Sevo-
cêpuder,porfavor, mostre
alguma solidariedade pelas
pessoas que mais irão sofrer
comosincêndios.Proteste
amanhã em frenteàembai-
xada do Brasil”,pedeoGre-
enpeacedoReino Unido.
NaIrlanda,aPeopleBe-
fore Profit usa imagens das
chamasnaflorestaparacon-
vocarparaosprotestos em
frentearepresentaçãocon-
sularbrasileiraemDublin.
Tambémconvocando para
os protestos, aorganização
FridaysfortheFuture,cria-
da por estudantes na Suécia,
criticaafaltaderespostaglo-
bal paraasituação.
Idealizadoradogrupo(e
atualmentenavegando alto-
mar parauma viagemme-
nospoluenteentreaEuro-
paeosEUA), ajovemativis-
ta GretaThunberg, 16 ,tam-
bém se manifestou sobrea
situação brasileira.
“Mesmoaquinomeio do
oceanoAtlântico, eu escuto
sobreaquantidaderecorde
de incêndiosdevastadores
na Amazônia.Meus pensa-
mentos estãocomaspes-
soas afetadas.Nossaguer-
racontraanatureza preci-
sa acabar”, disse ela.
Em Portugal, onde os bra-
sileirosformamamaiorco-
munidade estrangeira, os in-
cêndios estamparam asca-
pas de grandes jornais.
“Ogoverno brasileiro, após
exposiçãotardia destacatás-
trofe, descarta-se de culpas
depois de descaradamente
apoiaracaçaetudofazer
paravenderaflorestaaos
produtores da agropecuária.
Nãofiquemos parados!Não
deixemos estachacina im-
pune!”,diz convocatória pa-
ra amanifestação de Lisboa.
Umabaixo-assinadoque
pedeasuspensão das nego-
ciações paraumacordoco-
mercial entreoMercosulea
União Europeiavoltouaga-
nharforça. Odocumentojá
foiendossadopormais de
600 cientistaseuropeus.
Em Portugal, na Alemanha
enaFrança, menções àAma-
zônia estiveram entreosas-
suntosmaiscomentados no
Twitternestaquinta( 22 ).
Enquanto isso,adiploma-
cia brasileiracontra-ataca
nasredes sociais, emcartas
ajornaiseemconversasde
bastidorescomosgovernos.
Uma circular do Ministério
dasrelações Exterioresen-
viadaapostosfora doBrasil
instruiu diplomatasadefen-
derapolíticaambiental do
governoBolsonaro.
Aembaixada doBrasilem
Lisboa, porexemplo,divul-
gouemsuasredes sociais
imagens quereforçamotom
de soberania sobreafloresta.
“QuemvaisalvaraAmazô-
nia?OBRASIL”,anuncia uma
imagem noFacebook.
Oatual embaixador em
Portugal, Luiz AlbertoFi-
gueiredoMachado,foi du-
rantevários anosonegocia-
dor-chefedoBrasil emcon-
ferências internacionaisde
mudanças climáticasepre-
servaçãodabiodiversidade.
No Brasil, ao menos
40 cidadesterão
manifestações
- Matheus Moreira
SÃOPAULOPelo menos 40 ci-
dades brasileiras, além de
cincocapitais europeias,têm
protestos marcados paraes-
tasexta-feira ( 23 )eparao
próximo fim de semana.
Estãoconfirmadosatos em
SãoPaulo,Santos (SP), Rio de
Janeiro, Curitiba,Salvador e
Atalanta(SC) nestasexta.Já
no sábado ( 24 ), estãoprogra-
madas manifestações emBelo
Horizonte, Manaus,Ribeirão
Preto(SP),SãoCarlos (SP),
NatalePortoVelho.
Nopróximo domingo( 25 ),
novosprotestos devemacon-
tecernoRio deJaneiro, em
Belo Horizonte eemManaus.
OeventonoFacebookda
manifestação “SOSAma-
zônia”, que aconteceráno
Masp,naAvenidaPaulista,
emSãoPaulo, temcercade
9. 500 pessoasconfirmadas.
Cartazes
expostos por
ONGs em
Lisboa (acima)
eBarcelona
(à esquerda)
convocam
população
paraprotestos
contraas
queimadas
na regiãoda
Amazônia
Divulgação
órgãoedesestimuladoaequi-
pe, de acordocomservidores
do instituto.
Adecisãode trazer um mili-
tarparaessa diretoria, de na-
turezatécnicaepedagógica,
causouestranhamentointer-
no no instituto desdeaúltima
semana porcausadafaltade
intimidadecomotema. Sou-
za seráaquintapessoaaas-
sumirocargodesde janeiro.
Atrasos no cronograma do
Saeb,aavaliaçãofederal que
compõeoIdeb (ÍndicedeDe-
senvolvimentoàEducação),
preocupamaáreatécnica.
Jáospreparativos parao
Enem,também derespon-
sabilidadedadiretoria,es-
tãoemestágio maisconfor-
távelapóstranstornoscoma
escolha da gráfica.
Ele afirma queantevia rea-
çãoforte, mas imaginou que
viria sobretudo dosdefen-
sores do uso da maconha.
“O enfrentamentoque acre-
ditei queagenteteriaédas
pessoascomdecisãojudici-
al aseufavor, achando que
nós estaríamos tirando um
direitodeles”, afirma.
Segundo Dib,aproposta
em debate na Anvisaé“mui-
to,muito, muitomaisrestri-
tivado queoquehá hoje”.
“Vai regularizaroplantio da
maconha no Brasil, que não
seráparadezenas oucente-
nas de pessoas.Nãohaverá
essapossibilidade, porque
háapalavrinha ‘cota’ nare-
gulamentação”,diz.
Areação dosconservado-
res, declara,vemdofatode
no Brasil as pessoas nãote-
remohábitodelidarcom
dados. “Debatecientíficoé
umacoisa meio mágicana
culturabrasileira”.
Ele esperater otema pron-
to paraser votado pelos cinco
diretores da Anvisa em outu-
bro. Relatordamatéria, an-
tecipa quevotará afavor. Nu-
mararacríticadiretaaogo-
verno,diz queadefesafeita
porTerradequeoassunto
seja debatido pelo Legislati-
vonãofazsentido.
“Não posso acreditarque
um membrodoCongresso ci-
te isso,porquefoioCongresso
que produziu as leis que dele-
gamàAnvisa essaatribuição”,
afirma,referindo-se aofato de
queTerraédeputadofederal
licenciadopelo MDB-RS.
Como prefeitodeSãoBer-
nardo,tevesuascontas de 2004
reprovadaspeloTribunal de
Contas doEstado,por insufi-
ciênciadegastos emeducação.
ComcontroletotalsobreaCâ-
maraMunicipal,conseguiure-
verteroparecer doTCE.
Tambémseenvolveu em
umapolêmicaquando era
candidato avice-prefeitoem
1996 ,aoser gravadoprome-
tendo dinheiroadoiscandi-
datosavereador de umaco-
ligação adversária.Naépoca,
afirmou quetinha sido vítima
de umaarmaçãoeacabou ab-
solvidoemprimeirainstância.
Ex-filiado aoPSB, ele não
se diz socialista, mas afirma
estar “muitomaisàesquer-
dadoqueàdireita”.
Apesar disso, flertou, quan-
do deputado,comtemascon-
servadores. Em 2013 ,foi coau-
tordeumprojetocujoobjetivo
erarevogar alei que obrigava
oatendimento de vítimas de
estuproemhospitaisdoSUS.
Ele diz que seuobjetivoera
evitar queapráticadoabor-
to se tornassecorriqueira nu-
maredepúblicasem estrutu-
ra adequada paraisso.
Mas na justificativadopro-
jeto, os autoresdizem quealei
deveria serrevogadaporque
tinhacomo principalobjetivo
“prepararocenário políticoe
jurídicoparaacompleta lega-
lizaçãodo aborto no Brasil”.
Questionadoseéumpro-
gressista, Dibresponde que
“provavelmente”.“Nãosou
simpatizante do senhorBol-
sonaro. Nãosou simpatizan-
te da direitaoudaextrema
direita”,declara.
Ogeneral
da reserva
Carlos
Roberto
Pintode
Souza
ambiente