Elle - Portugal - Edição 376 (2020-01)

(Antfer) #1
ELLE PT 113

nquanto desço as escadas para o estúdio onde um edi-
torial da ELLE com a Triumph está a ser fotografado,
ouço ao fundo uma gargalhada forte e sentida. Apesar
de nunca a ter ouvido ao vivo, acho que a reconheceria
em qualquer lado. Quando chego ao set, vejo Mariana
Monteiro e a equipa a reverem algumas fotografias
diretamente na câmara. As intervenções que a atriz de 31 anos
faz e a forma como partilha a sua opinião sobre as imagens,
transmitem um tipo de segurança de quem faz isto há muitos
anos. O mesmo acontece com a escolha da lingerie, o foco
principal do guarda-roupa desta sessão («Gostei muito de
fotografar com o body. É mais sensual, arrojado», confessa no
fim da produção). Mariana sabe o que funciona para ela, sabe
o que quer e não tem medo de o expressar.
Conhecida pela sua voz grave e distinta que acompanha um
rosto meigo, Mariana estreou-se nos Morangos com Açúcar
em 2005 com apenas 16 anos. Mudou-se do Porto para Lis-
boa numa altura em que «estava muito perdida. Estava em
Economia no 11º ano e era boa aluna, mas não era uma aluna
satisfeita», conta-me no fim da sessão. «Encarei os Morangos
como um “gap year”. Não sabia o que queria, fui fazer aquele
casting quase por curiosidade», relembra. A representação era
algo novo para Mariana, pelo menos a nível profissional porque
o bichinho estava lá desde os tempos de infância em que fre-
quentava um clube na sua cidade aos sábados «e adorava, mas
era apenas um hobbie». Nada é por acaso. «Depois de fazer os
Morangos, não consegui imaginar-me a voltar atrás. Fiz logo
um casting para outra novela, a Doce Fugitiva. Fiquei e aí não
parei mais.» Pergunto-lhe se sente que sacrificou algo da sua
vida pessoal por causa da sua carreira. «Costumo dizer que
nunca vamos ter a balança perfeita. Muitas vezes comentava
com os meus amigos “o que é que será uma viagem de finalis-
tas? O que é o Erasmus?”», conta-me. «Já houve fases em que
me senti um pouco triste por não ter tido esse percurso, mas
depois também conseguia reconhecer a oportunidade que tive
em descobrir bastante cedo aquilo que me dá prazer fazer.» Por
esta lógica, parece que não há tempo perdido para recuperar.
«Exatamente. Até teve piada porque em 2016 eu e os meus
melhores amigos do Porto fomos os quatro a Barcelona e até
brincámos e dissemos: “Faz de conta que isto é a viagem de
finalistas”», partilhou entre sorrisos.
Ao fim de quase dez anos sempre no ar, entre novelas, séries
e programas de entretenimento, a atriz decidiu fazer uma pausa.
«Foi uma decisão que tomei muito conscientemente porque
achei que numa atividade como a minha, ou em qualquer uma

que seja de trabalho criativo, é importante respirar. Chegou um
momento em que senti que já trabalhava de forma automática.
Já me era difícil “zerar” quando iniciava um projeto, vinha
com uma energia do anterior.» E o que é que Mariana fez nesta
pausa? Dedicou-se aos seus projetos de igualdade de género
(como a promoção dos seus livros), que acabavam por ficar para
segundo plano; assumiu o papel de porta-voz para a juventude
da Corações com Coroa e também desenvolveu outros projetos
que ainda não foram lançados. Houve tempo para viagens, para
recarregar baterias e para ter formações na sua área.
Volto à questão da igualdade de género, uma causa que para
a atriz é pessoal. Em 2015, Mariana falou com a ELLE, para
um artigo sobre os novos feminismos, e disse que estávamos
no caminho certo para a igualdade de género. Pergunto-lhe
qual a sua opinião sobre este tópico passados cinco anos. «Acho
que estamos no caminho certo, só que ainda estamos. Cinco
anos é muito pouco tempo [para avaliar]. Penso que numa
década já vamos conseguir ver algo mais profundo, mas noto
que estamos num bom caminho.» A atriz consegue agora
ter uma noção mais real, depois de ter passado estes últimos
tempos de escola em escola a promover os seus livros (que
são uma coautoria da atriz e de Narciso Moreira, publicados
pela Betweien) e a falar sobre este assunto com os mais novos.
Depois de conversarmos um pouco mais sobre este projeto e
sobre a sua relação com a Corações com Coroa, questiono-a
sobre se se sente pressionada a ter uma voz ativa na sociedade
devido à sua exposição mediática. «Eu não sinto isso dessa
forma. Costumo dizer que sou uma pessoa de causas. O que
sinto é: se vesti a camisola, não vou largá-la até a missão estar
cumprida. Temos é de dosear as fases.»
Neste momento, a fase em que a Mariana está é de regresso:
à televisão – na SIC –, às novelas – com Terra Brava – e às prota-
gonistas – com Beatriz. Isto tudo acompanhado por uma série
de coincidências (muito) felizes: esta personagem tem o mesmo
nome da sua primeira personagem de sempre nos Morangos
com Açúcar e o reencontro com João Catarré dez anos depois
de terem sido protagonistas e par romântico noutra novela.
«Este regresso está a ser incrível porque, lá está, venho com
uma energia diferente, renovada. Sinto que cresci um pouco
como pessoa e espero que isso seja um reflexo positivo no campo
profissional», partilha. Antes de nos despedirmos, pergunto-lhe
sobre os desafios para 2020. Mariana diz-me que está focada
na novela para já, mas «gostava muito de investir em teatro,
algo que não faço desde 2007». Pode ser que o novo ano e a
nova década tragam mais coincidências felizes para a atriz. n

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