Elle - Portugal - Edição 376 (2020-01)

(Antfer) #1
elle Pt 27

ClareWaightKellernaGivenchye NatachaRamsay‑Levi
naChloé).E,depois,a modaevoluiuparaumlugaronde
a roupaé muitomaisfácildevestir,feitaparaacomodara
vidamultifacetadadasmulheres.

ntes,a Diorgostavade definira suamulher,masessa
nãoé a minhaformade veras coisas»,dizChiuri.«As
mulheresdefinem‑secomoquiserem.Paramim,vestir
é umamaneiradeserlivre,e nãodeimporumlook
a alguém.»Porisso,as botase os saltosquedesenha
têmumaalturarazoável,porexemplo.E os seusvestidos,saiase
calçasgeralmentetêmformasquedãoliberdadede movimento
às pernas.«Quandochegasa umacasaquetemumalonga
tradição como a Dior, o maior risco é ter medo de se afastar
desses costumes. Mas as mulheres são diferentes agora. Eu sei
que o Sr. Dior fez um casaco muito bem ajustado, mas agora
o nosso estilo de vida é diferente. Temos de fazer um modelo
que mantenha essa linha Dior, mas ao mesmo tempo seja mais
vestível. E acho que isso provavelmente faz a diferença: ter uma
abordagem em que se reconhece a história e se aprecie isso,
mas não faça do guarda ‑roupa uma peça de museu», diz ela.
A outra grande mudança que aconteceu na Dior foi a do
significado da moda. O vestuário agora está carregado de
subtexto cultural e político. Então, Chiuri dobrou na dose de
feminismo, comemorando a ideia da mulher independente e
de pensamento livre, de uma estação para a outra. E grande
parte da indústria da moda seguiu o exemplo, com marcas
de luxo e de mass market a usarem as suas campanhas para
fazerem declarações sobre tudo, desde ambientalismo a vio‑
lência causada por armas.
Tanto o ativismo como a sustentabilidade e a diversidade
logo se tornaram chavões. Mas Chiuri resistiu às insinuações
de que esta mudança era apenas por uma questão de tendência.
Para a sua coleção Cruise 2O2O, escolheu celebrar a qualidade
do artesanato presente em toda a diáspora africana, numa época
em que o populismo domina as manchetes globais. Mostrada
em Marraquexe, na passerelle estava um elenco diversificado
de modelos vestidos com reinterpretações das assinaturas da
Dior, como seu icónico toile de jouy feito em tecido tradicio‑

nal com estampa de cera. «Foiumprojetoemquerealmente
tentámos encontrar um espaçoemcomum.Porqueemmoda
não falamos de roupa. Falamosdeidentidade,degénero,de
apropriação cultural, de ambiente.O públicocomcercade
20 anos olha para o mundodamodacomumaperspetiva
completamente diferente»,dizela.«Quandoeuerajovem,
não havia muitas lojas de roupa,entãocrescicomessedesejo
de ter algo novo. Mas a modaagora,paraa geraçãomaisnova,
é completamente diferente porqueelesnasceramnummundo
onde a moda está em todo olado.»
Chiuri diz que a coleçãotambémfoisobreincluirÁfrica
no universo do luxo. «Existea ideiade quetudoo quevemde
África não é caro – que a modaé maissurpreendentena Euro‑
pa. Mas não é verdade.» Paraa ajudar,elaconvidouumasérie
de artistas internacionais e artesãoslocaisparacontribuírem
com elementos da coleção,incluindoMickaleneThomas,
e a designer britânica GraceWalesBonner,quereinventa‑
ram o famoso New Look dacasa.Elatambémcontratouo
designer Pathé’O, da CostadoMarfim,conhecidoporfazer
as camisas de Nelson Mandela.E, emvezdeevitarqualquer
acusação de apropriação cultural,Chiuriabordouo assunto
de frente num vídeo coma modelonigeriano‑americana
Adesuwa Aighewi. «Achoquesãocoisascomoestasque
fazem a conversa começar.Porqueestamosa criaruma
ponte», disse Aighewi. E,aocontráriodasuaestreiaem
2O16, a mensagem de Chiurinãoatraiucríticas.
A moda tem destas coisas:talcomoa vida,elasegue
em frente. E por isso, comumsorrisoe umabraço,Chiuri
levanta ‑se e sai para o calor,como sola bater‑lhenascostas
e um leve sorriso nos lábios. K. H.

estilo


A


«Em moda, não falamos
dE roupa. falamos
dE idEntidadE, dE génEro,
dE apropriação cultural,
dE ambiEntE.»
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