Elle - Portugal - Edição 376 (2020-01)

(Antfer) #1
ELLE PT 51

Acho que começou pela relação com os meus fãs. Olhar para
o público e ver tantas pessoas que eram como eu, pessoas
que se sentiam diferentes, que não se sentiam vistas nem
compreendidas. E depois, observando também que muitos
miúdos tinham medo de ser quem eram, tornou-se uma
espécie de experiência existencial para mim, durante a qual
pensei sobre o que significa ser um indivíduo – quis lutar
por esses indivíduos. Noutro dia, nas redes sociais, disse que
“não faço isto pela fama, faço-o pelo impacto”. E esta é a
verdade. Reconheci muito cedo que o meu impacto poderia
ajudar as pessoas a libertarem-se através da gentileza. Penso
que esta é a coisa mais poderosa do mundo, particularmente
no campo das doenças mentais.
JÁ SABIA ISSO QUANDO, UM ANO APÓS ESTAR A ESTU-
DAR NA TISH SCHOOL OF THE ARTS DA NYU (NEW YORK
UNIVERSITY), DESISTIU E PASSOU A SER A SUA PRÓPRIA
MANAGER E A TRANSPORTAR O TECLADO DE UM ESPE-
TÁCULO PARA OUTRO?
Bem, isso é um bocado rebuscado. Não sei se isso foi com-
pletamente gentil. Mas aprendi com a minha mãe, Oprah.
Quando chegava a casa da escola e tinha sido vítima de
bullying, ela dizia-me sempre “mata-os com gentileza”. E,
talvez, a expressão “mata-os” seja uma forma agressiva de
dizer isto, mas a ideia era gentil. O que ela queria dizer era,
“não combatas fogo com fogo; combate o fogo com água”.
NA MINHA OPINIÃO, AQUILO QUE MELHOR FEZ – E O MUN-
DO COMEÇA AGORA A PERCEBER ISSO (VEMO-LO NAS
REDES SOCIAIS) – FOI TER COMEÇADO A BORN THIS WAY
FOUNDATION. ESTAMOS A DIZER AO MUNDO QUE AQUILO
QUE SOMOS É O QUE É SUPOSTO SERMOS. QUE TIPO DE
CONSELHOS DARIA A QUEM AINDA TEM MEDO DE SER
COMO É, A QUEM VIVE UMA VIDA FALSA?
Diria que, sinceramente, não é uma vida falsa. Se ainda não
se mostrou como é verdadeiramente, tenha compaixão por
si e pelo facto de ainda não estar pronto para se revelar. Pode
dar passos nessa direção todos os dias.
ISSO É MUITO GENTIL.
Sabe, é muito fácil dizer a alguém, “sê forte”, mas não é fácil
pô-lo em prática. O que quero dizer é que se sentir vergonha de
quem é, se não se sentir apoiado pelas pessoas que o rodeiam,
é normal ter medo. A vergonha é poderosa. Mas dê-se tempo.
Permita-se alguns avanços todos os dias. Era isso que diria.
Dê pequenos passos de bravura. Não diria que é uma vida
falsa. Diria antes que é a realidade, mas esta pode mudar. Na
verdade, foi por isso que criei a Haus Laboratories.
VAMOS FALAR DISSO. O QUE A FEZ SENTIR-SE PREPARADA
PARA SER EMPREENDEDORA?
Eu queria fazer isto, porque, por um lado, tinha tempo –
queria dedicar-me a isto a 100%, tal como faço com tudo em
que me envolvo. Não queria fundar uma empresa, contratar
um staff e serem eles a fazer tudo. Na noite do lançamento,

ais uma vez, Lady Gaga prova
que é a rainha do seu próprio
castelo, acrescentando agora a
sua linha de maquilhagem, Haus
Laboratories, aos seus originais
feitos na música e no cinema.
Num recente encontro, no qual se dispensam os apelidos,
Gaga falou com Oprah, a original e multifacetada magnata
e uma das primeiras defensoras do bem-estar emocional,
sobre o seu percurso profissional exponencial e sobre as suas
batalhas contra os problemas de saúde mental. As duas mu-
lheres consideram uma missão pessoal acabar com o estigma
e a vergonha que rodeiam as doenças mentais, e o papel
que cada uma teve no início da discussão deste tema a uma
escala global é inegável: Oprah uniu forças com o príncipe
Harry para criar, no início de 2019, uma série documental
que explora o assunto (será lançada em 2020), e Gaga foi
convidada para um encontro com o príncipe William em
Londres para discutir possíveis iniciativas conjuntas sobre
a saúde mental, mas não conseguiu ir porque esteve em
consultas com os seus médicos. Nesta entrevista, Gaga
abre-se com a sua heroína sobre o crescimento pessoal a
partir da dor e da gentileza.

OPRAH: A PRIMEIRA VEZ QUE A ENTREVISTEI, HÁ QUASE
DEZ ANOS, EM 2010, NO THE OPRAH WINFREY SHOW,
PUDE VER E SENTIR QUE ESTAVA, SEM DÚVIDA, A FLO-
RESCER. ESTAVA RECETIVA À SUA AUTODESCOBERTA E
À SUA AUTOEXPRESSÃO. COMO É QUE SE TORNOU MAIS
AUTÊNTICA NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS?
LADY GAGA: Penso que, como a minha carreira cresceu,
tornei-me mais consciente da minha posição no mundo e da
minha responsabilidade perante a Humanidade e os que me
seguem. Considero-me uma punk gentil. Olhei para tudo o
que tinha feito e para o que estou a fazer agora e os punks,
como sabe, têm uma certa reputação de serem rebeldes, não
é? Então, olhei realmente para minha carreira, e também
para o que estou a fazer agora, como um gesto de rebeldia
contra todas as coisas do mundo que podem ser cruéis. A
bondade cura o mundo. A bondade cura as pessoas. É o que
nos une – é o que nos mantém saudáveis.
QUANDO OLHA PARA OS DEZ ANOS QUE PASSARAM, EM
QUE MOMENTO SENTIU QUE ERA CAPAZ DE PASSAR A
MENSAGEM QUE A BONDADE PODIA CURAR?

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