Elle - Portugal - Edição 376 (2020-01)

(Antfer) #1

  1. FAçA velhos Amigos
    Não faço parte de nenhuma atividade de grupo, além
    da de comentar em direto, no Twitter, os mesmos
    programas que as outras pessoas que conheço veem
    na internet. Por isso, como é que é suposto conhecer
    gente nova na vida real? Todos os anos, oiço alguém
    dizer que vai fazer novos amigos e penso: “Eu podia
    experimentar isso!” e uns minutos depois penso:
    “Mas ONDE?” A pressão é enorme. Por isso, propo‑
    nho que este ano comecemos a restabelecer contacto
    com os amigos que já temos, e a passar tempo com
    eles. Em vez de sermos sugadas para um turbilhão
    de mensagens no WhatsApp a prometer que vamos
    jantar juntos, que tal fazê ‑lo mesmo?

  2. leiA livros de que goste
    Como escritora e amante ávida de livros, leio muito.
    Não tanto como digo que leio, mas mesmo assim
    consigo compilar uma impressionante lista anual.
    No entanto, e mesmo sendo uma pessoa que sabe o
    que quer num livro, li muitos livros que não queria,
    ou porque achava que me faziam parecer cool ou por‑
    que podiam impressionar alguém com quem queria
    dormir. Aqui vai um conselho útil: leia livros de que
    goste e não leia aquilo de que não gosta. Se me dissesse
    que eu ia ter de limitar as minhas leituras a livros de
    História da grossura de um dicionário, arrancaria os
    olhos e deitá ‑los‑ia fora. Por isso, leio o que quero e,
    se alguém estiver a prestar atenção, finjo que estou
    a ler alguma coisa inteligente. Afinal de contas, o
    que é que essas pessoas podem fazer ‑me de mal?
    Pedir‑me um relatório?

  3. sejA Feliz... quAndo der
    Ser feliz é uma daquelas coisas pelas quais lutamos,
    sem termos consciência de que é algo diferente para
    cada um de nós. (Para mim, seria espreguiçar ‑me
    como um gato durante 22 horas por dia). A felicidade
    é excelente e, se se sentir feliz, por favor passe ‑me
    um pouco desse sentimento. Mas raramente temos
    permissão para sentir outras coisas: irritação, cansaço,
    aborrecimento, surpresa. Por uma vez que seja, quero
    falar com alguém que diga que quer começar o ano
    repleto de raiva. Até porque este pode ser o ano em
    que inventam o comprimido da felicidade. Estou
    (quase) a brincar. Feliz Ano Novo! S. I.
    Samantha Irby é a autora de We Are Never Meeting In Real
    Life (editora Faber) à venda na Wook.


atitude


72 eLLe Pt


Sou péssima em jogos, terrível em projetos de “faça‑
‑você ‑mesmo” e incapaz de aplicar eyeliner líquido:
estes são três dos falhanços que decidi contar aos meus
amigos, colegas e até a estranhos. Junte a isto uma
franja malcomportada, que faço questão de mostrar a
literalmente todas as pessoas que conheço (incluindo
o motorista da Uber), e começa a perceber o quadro!
O meu nome é Alice ‑Azania Jarvis, e sou viciada em
autodesvalorizar ‑me.
Não sei de onde vem este impulso confessional,
mas conheço os seus limites. Embora tenha facilida‑
de em falar sobre tudo aquilo em que sou péssima,
sou perfeitamente incapaz de fazer o mesmo com
as minhas qualidades. Para os meus amigos, tanto
posso ser um génio a matemática como ter um jeito
sobrenatural para jogar ping ue‑pongue. Mas será
que alguma vez irão saber?
Quase todas as mulheres que conheço sofrem desta
doença – chamemos ‑lhe sintoma da autodesvalori‑
zação. Todas vimos aque‑
la peça da Amy Schumer
(com um final dramático)
em que várias amigas fa‑
zem elogios umas às outras,
sem nunca os aceitarem.
“Tentei parecer‑me com a
Kate Hudson, mas acabei
por ficar parecida com um
Golden Retriever”... “Vou
ser despedida em dois se‑
gundos, mal percebam que
tenho um atraso mental”...
Pesquisas recentes sugeremque70%daspiadasde
mulheres são baseadas na autodesvalorização.
Ultimamente, tenho começadoa pensarsobre
qual é o resultado de tudo isto.Nãoimportaqueas
mulheres raramente sejam vistascomointeligentes
e capazes de gerir a sua vida– já paranãofalarda
sua própria imagem? Estudosrevelamquedizermos
mal de nós próprias tem umefeitodevastador:pode
dizer ‑se que nos tornamos aquiloemqueacreditamos.

o objetivo


ser A minhA


própriA forçA


interior


concEntrE ‑sE
nuMA quALidAdE
suA E oLhE pArA
ELA sob uMA novA
pErspEtivA, EM vEz
dE tEntAr MudAr
tudo EM si.

A MoDELo vEstE: vEstIDo EM tuLE, DIoR. vEstIDo usADo soBRE o oMBRo EM ALgoDão, 3.1 pHILLIp LIM.
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