Elle - Portugal - Edição 376 (2020-01)

(Antfer) #1
eLLe Pt 73

Tenho um mantra estranho (para mim, que sou uma
guru da autoajuda) que uso: não há nada de errado
contigo. Anda a rondar lojas de comida saudável? Vai
inscrever‑se no ginásio no início do ano? Está disposta
a fazer uma mudança radical nos seus hábitos alimen‑
tares, no tamanho da roupa, ou na sua capacidade de
“dominar a língua chinesa numa semana”?
Bem, eu acredito que, na verdade, não precisa de
nenhuma dessas mudanças. Pode ser uma abordagem
contraintuitiva, que contraria o princípio do merca‑
do do “torne ‑se melhor”, mas é verdade. Há outros
gurus que defendem as aspirações e as promessas de
um “novo eu”. Já eu prefiro melhorias mais simples
e duradouras: torne ‑se confortável com o seu “velho
eu”, não se martirize com treinos às cinco da manhã,
ou em voltar à escola para seguir a carreira que os seus
pais queriam que tivesse. O ano novo é melhor para se
aceitar tal como é, em vez de construir fantasias sobre
uma versão fantástica de si própria que provavelmente
irá desaparecer logo nos primeiros meses do ano.
Claro que é mais fácil falar do que fazer – esta é
uma grande mudança na maneira de pensar. Eu gosto
de lhe chamar “remodelação mental”: concentre ‑se
numa característica ou numa qualidade sua e olhe
para ela sob uma nova perspetiva, em vez de tentar
mudar tudo em si. Por exemplo, se sofrer de síndrome
de impostor no trabalho (ou na vida), tente dedicar a
sua primeira hora de almoço de 2020 a registar tudo
aquilo que alcançou em 2019 num postal, e envie ‑o
a si própria por correio para um dar uma ajuda ao seu
ego a meio de janeiro. É como arrastar uma cadeira


o conselho


não há nAdA de


errAdo consigo


Há pouco tempo, numa festa, cruzei ‑me com uma
pessoa que conheço, que me deu os parabéns por um
artigo. Em vez de um simples “obrigado”, lancei ‑me
numa análise sobre o que estava errado nesse artigo, e
só parei quando reparei nas suas sobrancelhas franzidas.
“Alice”, disse ‑me, “podes calar ‑te e dizer ‑me uma coisa
que tenhas feito e da qual te orgulhas?” Levei dez minu‑
tos a responder. Foi precisamente a chamada de atenção
de que precisava. Por isso, este ano, tenho apenas uma
resolução: parar de ser o meu pior inimigo – e passar
a ser a minha própria fonte de motivação. A ‑A. J.
Alice é editora adjunta da ELLE UK.


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