Elle - Portugal - Edição 376 (2020-01)

(Antfer) #1
fim, também comecei novamente a fazer sapateado
(uma coisa que eu adorava quando era pequena).
Disse a mim mesma: “Vai, vai aprender e experimentar
passos americanos clássicos, incluindo flaps, riffs e
ripples”. A minha primeira aula – em crescida – foi
num centro educacional para adultos. Usei um vestido
de flores, porque era incapaz de me divertir vestida
com roupa de ginástica. Encontrei 26 mulheres e
dois homens a fazerem o aquecimento numa sala com
paredes de espelho. Nervosa, ensaiei alguns passos
num canto. Quando era criança, a dança dava‑me
muita força, tanto física como emocionalmente. É
quase impossível preocuparmo ‑nos com outras coisas
quando estamos a tentar dominar os complexos passos
de sapateado. Ao fim de dez minutos de ter voltado a
fazer sapateado, senti ‑me linda, com aquela sensação
familiar de soltura nos meus tornozelos.
Quandodeipormim, estava a
pensarcomos pés– sei que é uma
ideiaestranha,masse, como eu,
é daquelaspessoascom tendên‑
ciaparaanalisartudo na vida, é
fundamentalconseguir desligar
umpoucodevezemquando. À
medidaquefuitendo mais aulas,
comeceia dizera mim própria
quenãoimportavase dançava
bemounão,desdeque sentisse
prazeremfazê‑lo.Quando as au‑
lasse tornarammais exigentes,
permiti‑mea mimprópriafazeralgunspassos que
nãofossemperfeitos.Desdequefizesseos sons certos
e acenassealegrementecomas mãos,qual era o pro‑
blema?Estavafelizporconseguirdesembaraçar ‑me,
maloubem.A sensaçãodeeuforiaquerecordava de
quandoeracriançarapidamenteregressou, e vi o
reflexodasminhasbochechas,dosmeusbraços e das
minhasorelhasa enrubescerdealegrianos espelhos
doestúdiodedança. S. B.
SusieBoyté escritoracolaboradoradaELLE.

A MoDELo vEstE: CAMIsA EM ALgoDão, pIERRE BALMAIn. BLAZER EM sEDA, sELAM FEssAHAyE. LEnço EM sEDA, BusnEL.


Na minha cabeça, fazer 40 anos sempre esteve
associado à maternidade. Na década em que tinha 20
anos, assumi que ter filhos não seria uma preocupação
quando chegasse a essa idade. Mas as coisas não se
passaram exatamente como imaginei. Tive problemas
de fertilidade e o meu casamento desmoronou ‑se.
Quando terminou, estava no final dos meus trintas,
e enfrentava o facto de que, provavelmente, não seria
capaz de engravidar naturalmente.
Uns meses antes de fazer 40 anos, pensei muito
sobre isto. Durante algum tempo, senti ‑me nervosa
e ansiosa. Mas, eventualmente, aceitei a situação e a
paz instalou ‑se. Refiz as minhas expectativas. Se os
filhos biológicos não iam fazer parte da minha vida,
talvez tivesse muitas oportunidades profissionais,
amizades profundas e possibilidades de dar saltos
para o desconhecido.
Levei este tempo todo para me compreender a
mim própria. Os meus anos de adolescente foram um
misto de exames e hormonas. Os meus vintes, foram
consumidos pelos namorados e a tentar afirmar ‑me
como jornalista. Nos trintas, casei ‑me, divorciei ‑me
e publiquei quatro romances. Só agora, aos 40, é que
tive tempo e espaço para pensar sobre as coisas que
são realmente importantes para mim.
Sou melhor a estabelecer limites e barreiras
do que a dizer que não. Aprendi a não culpar os
outros pela minha ansiedade. Percebi, finalmente,
que o verdadeiro amor não é aquele que procura
apagar a nossa identidade, mas sim aquele que nos
permite florescer como indivíduos. Percebi que
ser carente não é um traço de personalidade, mas
uma escolha. Tenho consciência de que o facto
de nos sentirmos seguros nem sempre é racional
e de que, se estamos a sentir‑nos pouco seguros,
provavelmente o nosso instinto está a dizer ‑nos
para sairmos rapidamente dessa situação. Sei que
os meus amigos são a rocha que sustenta a minha
vida. E percebi que um parceiro tem também de
ser um amigo, e que uma paixão que arde deva‑
garinho pode ser mais bonita do que aquilo que
conseguimos imaginar inicialmente.
Por isso, o novo ano vai ser aquele em que dou
as boas‑vindas a toda esta sabedoria adquirida com
muito esforço. Vai ser o ano em que me sinto poderosa,
por causa da minha idade. Quando penso sobre isto,
percebo que fazer 40 anos apenas significa tornar ‑me
verdadeiramente eu própria. E. D.
Elizabeth Day é anfitriã do podcast How To Fail with
Elizabeth Day, e autora de How To Fail (HarperCollins) à
venda na Wook. n

Fiz 40 anosnofinaldoanoe decidique,noano seguinte,
ia finalmente assumir a minha idade. Ia sair dos trin‑
tas. Quarenta parecia um passo gigante: uma década
associada à minha mãe. Lembro ‑me de quando ela fez
40 anos. Tinha dois filhos, e eu não tenho nenhum.

eLLe Pt 75

pEnsEi EM todAs
As coisAs quE
ME fAzEM sorrir
E dEcidi
incorporá ‑LAs
Ao MáxiMo
nA MinhA vidA

A conclusão


umA novA erA

Free download pdf