Época - Edição 1079 (2019-03-11)

(Antfer) #1
19

Bilhõesrecuperadosepenasde prisãoque
somammaisde 2mil anosofuscamavida
tranquilade delatoresda operaçãoque
forneceraminformaçõesde valorrestrito
porMariaLima,d eFortaleza,
eThiagoHerdy,deBrasíliaeSãoPaulo

OSBOAS-VIDAS

O


srankingsquetentammedircorrupção
nãosão conclusivos.Feitas nas sombras
epara evitaralei, muitas maracutaiasnunca
vêmàtona.Amaioriadas listas de países
maiscorruptosacabamedindoapercepção
da população.OBrasilpodenãoter os polí-
ticosmaiscriminososdo mundo—não há
comosabercomcerteza—, maséopaísque
conseguiu recuperarquase14 bilhõesde reais
de empresaseexecutivoscriminosos,um
valorinédito.Esse éobalançoda Lava Jato,
quecompletacincoanosem 17 de março.
Tudo começou apartirda apuraçãosobre
ouso de um postode gasolinade Brasíliapara
lavar dinheirode doleirosqueabasteciamas
contas de partidos epolíticos.De lá paracá,
maisde500 pessoas já foramacusadas,houve
maisde130 denúncias criminais ecercade 50
sentenças.Somadas, as penasalcançammais
de 2.200anosde prisão. Entreosprisioneiros
estãoum ex-presidente da República,um ex-
governadordo Rio de Janeiroeumex-presi-
dente da Câmara dosDeputados.Somente
em Curitiba, asede da primeiraoperação,fo-
ram1.200mandados de buscaeapreensão
cumpridosem 60 fases,com155 pedidos de
prisão preventiva atendidospelo Judiciário.
Isso semcontar as operaçõesemBrasília, Rio
de JaneiroeSão Paulo.Osucessodaforça-ta-
refafoi tão grande quecatapultouojuiz Ser-
gio Moro ao postodeatualministro da Justi-
ça. Oinstrumento quepermitiu tudoissofoi
odacolaboração premiada,no qualum acu-
sado podeatenuarsuapenaou anulá-lase
ajudaraincriminaralguémnumpatamar
maisalto da organizaçãocriminosa.
ALavaJatoproporcionou em cincoanos
umnovoprogramaaos brasileiros:umins-
trutivo passeio pelosmeandros da máquina
de corrupçãonacional,que se assemelhaà
visitaaumoceanário.Abriram-sediante dos
olhos,em distânciaquese imaginava impos-

síveldechegar,predadoresepresas desfilan-
do numambiente próprio de vidaemorte,
semconstrangimentosouincômodocoma
plateia.Tornou-seamaiorinvestigaçãode
corrupçãoelavagem de dinheiro queoBra-
sil já teve. Nunca se reuniramtantas provas e
indíciosde crimescontra gruposeconômi-
cos epolíticostão fortes eamplos.
Oeixo maiorde corrupçãofoi aprinci-
pal empresabrasileira.Emum cenárionor-
mal,aPetrobras pagariapreços justos por
contratos.Empreiteiras concorreriamentre
si, em licitações,para conseguiros contra-
tos. Aestatal contratariaaempresaqueacei-
tassefazeraobrapelomenorpreço,desde
queovalorda propostaestivessedentro de
umafaixaquevariavade15% abaixoaté
20%acimada estimativade custosda esta-
tal. Nãofoi oque aconteceuapartirdo tra-
balhoconjunto de váriosgruposcriminosos.
a) Empreiteiras:montaram oque chama-
vamde “clube” parasubstituiruma concor-
rênciarealporumaconcorrênciaaparente.
Os preçosoferecidos àPetrobraseramcalcu-
ladoseajustadosemreuniões secretasnas
quaissedefinia quemganhariaocontrato e
qualseriaopreço, infladoem benefício pri-
vadoeemprejuízo dos cofresda estatal.
b) Funcionáriosda Petrobras:as empresas
precisavamgarantir queapenasaquelasdo
cartelseriamconvidadasparaas licitações.Pa-
ra isso,cooptaramagentes públicos. Os funcio-
nários restringiamconvidadosde licitações,
transformando-asem jogode cartasmarcadas.
c) Propinas: as empreiteiraspagavam pro-
pinasparafuncionários doaltoescalão daPe-
trobrasde1%a5%dovalordos contratos, di-
nheiroqueera repartidoentre funcionários,
partidospolíticos, membrosdo Congresso
Nacional eoperadores.Um dosfuncionários
da estatal chegou areceber maisdeR$
milhões de propina.

OprocuradorDeltan
Dallagnol, coordenador
da OperaçãoLava Jato,
que em cincoanos
acusou mais de 500
pessoas por
envolvimento em
corrupçãoelavagem
de dinheiro, entre
outros crimes


FOTO:PAULOLISBOA/BRAZILPHOTOPRESS

Free download pdf