Época - Edição 1079 (2019-03-11)

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“Elefez umatesededefesa. Oque colocava
na conta do presidente, na verdade,era paga-
mentoparaele próprio”,disse oprocurador.
Ao longodoinquérito,emnovodepoimento,
Amaralfez escapar que olíderpetistanãodes-
ceu adetalhessobrecomopoderia ser aeven-
tualajudaaBumlai.Para oex-senador,Lula
“outorgou-lhe umacertadiscricionariedadena
atuação”. Marx apontou outroponto obscuro:
aPFidentificouafamília Bumlaicomoori-
gemde trêsdos cincopagamentos aCerveró.
Nãosesabe quempagouos outrosdois. Ama-
ralchegouaatribuirafunçãoao banqueiro
AndréEsteves —mas oMPF nãoencontrou
“provasuficiente paracondenação”.
No anopassado,ojuiz da 10ª Vara Federal
em Brasília RicardoLeite absolveu todosos
réusdenunciadospeloMinistérioPúblico,
combasenatesedocrime impossível em ra-
zão de flagrante preparado. Ele considerouin-
válidaagravaçãodaconversa captadapor Ber-
nardoCerveró—filhodoex-diretorda estatal
—com apresença de Amaral.Trata-se do re-
gistroemque planejavamumaeventual fuga
do ex-diretor da Petrobras eaoperacionaliza-
çãodepagamentos porseu silêncio —eque
levouàprisão de Amaralno hotel de Brasília.
Omagistradotambémconsiderounãoser
possívelprovarqueAmaraltentou se proteger
na delaçãodeCerveróedeterminouser válidaa
colaboração do ex-senador,apesarde ele ter “se
equivocado,sem dolo”,sobredetalhesdas duas
últimasparcelasde R$ 50 mil àfamília de Cer-
veró. OMPF em Brasília recorreuda decisãoe
voltouapediracondenaçãode Amaral—ea
perdade benefíciosda colaboraçãonessecaso.
AProcuradoriaargumentou que os pagamentos
para“impedirou modular”adelaçãode Cerve-
ró começaramaocorrerantes da gravaçãoanu-
lada—crimeaindapassívelde punição.
Asegundarevelaçãomaisestridente da dela-
ção do ex-petista apontava que oministroMar-
celoNavarrohavia sidoindicadoao Superior
TribunaldeJustiça(STJ), em 2015,com ocom-
promisso de conseguir asolturadeempreiteiros
presosnaLavaJato, comoMarcelo Odebrecht e
Otávio Azevedo.Amaral relatou ter tratadodo
temacomNavarro, subjetivamente,naantessala
de Dilma,no PaláciodoPlanalto, apedido da
própria. Em setembro oano passado, ominis-
tro do STFEdsonFachin determinouoarqui-
vamento do inquéritopor insuficiência de pro-
vasnocaso,atendendoapedidodoex-procura-
dor-geral da RepúblicaRodrigoJanot.

Especialistaem colaboraçãopremiadaecon-
tratadoporalgunsdosprincipais delatoresda
Lava Jato —entre elesAlbertoYoussef,Lúcio
Funaro,PedroBarusco, RicardoPessoaeopró-
prioAmaral—, oadvogado AntonioFigueiredo
Bastobateu na mesada salade reuniõesdeseu
escritórioem Curitiba quandoquestionadoso-
bre aefetividadeda delaçãode seu cliente.
“Nomomento em queacolaboraçãofoi
feita,ela passoupelocrivoda PGR.Oque
nãopodeésearrepender depoisedizer:‘Pô,
oacordo nãodeuresultado’”,reclamou oad-
vogado, para quemos fatos sobreLula trazi-
dos por Amaralsão“verossímeisefactíveis”,
masnãoforamsuficientespara gerar conde-
nação,porque“o MinistérioPúblicotraba-
lhoumal”.Segundoele, “nãoéocolaborador
que temde fazeraprova,éoEstado.SeoEs-
tadoentendeuqueacolaboração éboa como
meiode obtenção de prova,acabou”.

I

nelegível até2027, por causa de sua cassação
pelo Senado,Amaral sonhouem2018emse
restabelecer na política. Adois diasdo prazo
final para filiaçãopartidária,juntou-seaoPTC,
partidodoex-presidenteFernandoCollor.No
últimodia permitidoparaatrocade nomesde
chapa, a19diasdaeleição, inscreveu-secomo
candidatoaoSenado.“Quementende osenti-
do da vidanãose apressa”,repetiu Amarala
interlocutores,mencionandotratar-se de sabe-
doriaaprendida “comos russos”,por ele não
identificados.OMPeleitoral impugnouacan-
didatura,opolíticorecorreueconseguiuin-
cluir seunomenaurna.Teveapenas110 mil
votos,oequivalente a4,76%do total.
Hoje, dividesua rotinaentre São Paulo,on-
de vivepartede suafamília, eCampo Grande,
ondecuidada propriedadeque pertenceua
seuspais. Os anosde exílio políticonãoafeta-
ramoespíritobon vivant —éfiguracarimba-
da nascolunassociaisda cidade.“Tivemos
umaenchentemuitogrande,hámuitosanos
nãoocorria nadaparecido.Tive derealocaro
gado,uma loucura.Aindaaguardo quevolte-
mosàs condiçõesnormaisde temperatura”,
disse Amaral,descrevendosua rotina, no fim
do anopassado.Osonhode CezarGazolla,
presidente do PTCem MatoGrossodo Sul,
era tê-lo comocandidato ao governo.Ele re-
clamoudas condiçõesque levaram àcassação
do novoaliado: “Hoje temos umaJustiça cor-
rompida. Para os amigosdorei,tudo,paraos
inimigos nada.Essa éagrande frase”.

OSBOAS-VIDAS
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