Época - Edição 1079 (2019-03-11)

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São Paulo,João Doria (PSDB), afirmou que “o
estado(de SãoPaulo)não será refém do cri-
me, ocrime será refém do estado”.
Segundoorelato de um funcionárioda
SAP que acompanhou Marcola atéoaero-
portoemPresidentePrudente,ochefedaorga-
nização criminosapermaneceucom acara fe-
chada enão proferiu uma palavra sequer.Jáno
avião da FAB, mostrou-se surpresoaover quais
bandidos estavam sendoremovidos com ele.
Durante aviagem, Marcola estava irritadíssimo
—estado de espírito que não condiz com seu
perfil,descrito como polido esereno. Chegou
atéaesbravejar,lançando alguns palavrões.
ÉPOCAapurouqueasfamíliasdoschefes
da facção ficaram desoladascom atransfe-
rência, apesar de estarem se preparandoha-
via tempo para oepisódio.Osfamiliares
acreditamque, assim como onarcotraficante
mexicanoJoaquín“ElChapo”Guzmán—re-
centemente consideradoculpado nos Estados
Unidos,por unanimidade, por todas as dez
acusaçõesque havia contra ele, oque deverá
levá-lo àprisão perpétua—, Marcola não
maissairádeumpresídio federal. “Esta é
uma onda mundial”, afirmou um interlocu-
tordaorganização.“Elesabequenãovaivol-
tar(para acadeia de origem).”
Opelotão enviado para presídios federais
reúne, de uma só vez, todos os homensde
confiançadeMarcola, segundo autoridades.
Além disso, aSAP fezalgumas remoções
pontuais dentro do estado de São Paulo a

fimdeisolarsubstitutosempotencial.Ainda
nãoépossível saber,portanto,comoacúpu-
laficaráconfiguradaapartirdeagora.“Con-
seguimos,pela primeiravez, tirareisolara
liderança. Precisamos agora pensar nos pró-
ximos passos de combate àfacção: identifi-
car novas lideranças,verificaros próximos
desdobramentos,minimizar possíveis tenta-
tivas de retaliação.Otrabalho continua”,
afirmouLincolnGakiya,promotordoGru-
po de Atuação Especial de Combate ao Cri-
me Organizado(Gaeco), do Ministério Pú-
blicodePresidente Prudente.

A

transferência para um presídio federal
fora de São Paulo era omaior temor da
cúpula da organização em relação aonovo
governo.“Numprimeiro momento, oque
preocupava aliderança era oisolamento”,
disseGakiya,autordospedidosdetransfe-
rência.Nas prisões federais, os detentos fi-
cam em celas individuais,só recebemvisi-
tasemdiasdeterminados,nomáximoduas
pessoas por vez. Esses encontros ocorrem
nos chamadosparlatórios, separadospor
grades, vidros etelas. Acomunicação é
por interfone,como nos filmes policiais
americanos, com filmagens egravações.
Regaliascomorecebercomida de fora, em
geral da família, não são permitidas. Pela
lei,osmembros da facção paulista ficarão
por um períodode360 diassob acustódia
do governo federal. Os primeiros 60 deles
serão cumpridos no modo mais duro do
sistema prisional brasileiro, oRegime Dis-
ciplinar Diferenciado (RDD).
Enquanto os presos eram levadosaseus
novos destinos, ogoverno editou uma por-
taria endurecendo as regras das visitas nes-
sas unidades: baniu de vez ocontato físico
entre detentos evisitantes. Avisita íntima
já havia sido proibida na gestão do ex-pre-
sidente Michel Temer.Antes da portaria, as
visitas de cônjuge,companheira, parentes e
amigos dos presos ocorriam nos pátios das
unidades carcerárias. Na decisão recente, a
pastatornou aindamaisrígidas as regras
referentes àchamada visita social.Agora,
só serão permitidas no parlatório ou por
meiodeteleconferência,paramanter“laços
familiaresesociais”,esempre“sobaneces-
sáriasupervisão”. Amedidatenta evitar
que chefes de facçãoenviem ordens por
meio de parentes eamigos.

GUERRACONTRAOCRIME

JORGEWILLIAM/AGÊNCIAOGLOBO


Opacoteanticrimede
Sergio Moro cita
nominalmenteasfacções,
deixando claro na
legislação que elas
são consideradas
organizações criminosas


Presohámais de três
décadas,Marcola
(à esq.)cumpre sua pena
fora do estado de São
Paulopela primeira vez

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