Época - Edição 1079 (2019-03-11)

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Nãoéaprimeiravez queos chefesda fac-
ção paulistavão para regimesdecumprimen-
to de penamaisrestritos.Emdezembrode
2016 ,Marcola eoutros10 presos forampara
oRDDda penitenciáriade Presidente Ber-
nardes.Ficaramatédezembro de 2017.Co-
nhecidocomotranca-dura,oRDDéumre-
gimede detençãomaisseveroqueocomum
enele apermanênciamáximaéde360 dias.
Embora maisrigoroso,autoridadesda segu-
rançapúblicadefendemqueoRDDem pre-
sídiocomum,nãoem federal de segurança
máxima,éinsuficiente paracortaracomuni-
caçãoentre os presoseomundoexterior.
ORDDtemregras parecidascom as dos
presídiosfederais—cadadetentopassa 22
horas do diaisolado,sem acesso ajornais,
televisãoou rádio,esótem direitoaduas
horasde banhode sol,sempresozinho.
Mesmoassim,policiais epromotoresdizem
queisolar os chefesdeuma facção em peni-
tenciáriasfederaisdistantes de SãoPaulo é
mais eficaz para quebrarsuacadeia deco-
mandoeenfraquecê-los.“Ospresídiosfe-
deraistêmestruturamelhor,eocorpofede-
ral temmais recursos. Sãomaiscapacita-
dos:há um ou doisfuncionários porpreso,
achancede controlar émaior”,afirmouo
procuradorMarcioChristino,doMinisté-
rio Público de SãoPaulo.
Ao mudarde cadeia,ochefedobando
precisarecomeçar sua rededecontatos do ze-
ro.Adistânciageográfica das prisões faz com
queas visitas se tornemmaisraras,oque di-
ficultaorepassedeinformaçõesparaomun-
do externo.Ele tambémcorreoriscode per-
derseu postoaodeixaracadeiadeorigem,
comojáocorreucomRobertoSoriano,oTiri-
ça, Abel PachecodeAndrade,oVida Loka,e
EricOliveira Farias,oEricGordão.“Aexpe-
riênciamostraqueoschefes queforampara
osistemafederal continuamna cúpula, mas
nãotomammaisdecisões.São comoumacú-
pulafictícia. Fazemparte, masnão sãocon-
sultadospara nada”, disseLincoln Gakiya.


O

pedidode transferênciadeMarcola e
outros14 chefes,apresentadoàJustiça
em 28 de novembrodo anopassadopeloMP,
ocorreu àreveliada gestãodo então governa-
dor MárcioFrança(PSB). Na ocasião,França
argumentou odesempre,queSãoPaulo tem
os presídiosmaissegurosdo Brasil.Nos bas-
tidores,apreocupaçãoera outra:oriscode
umaretaliaçãopor partedafacçãocriminosa.
Durante atransição,ogovernadoreleito
João Doriase mostrouentusiastada transfe-
rência. Aremoçãofoi planejadadurante 51
dias,em parceriacomoMinistérioda Justi-
ça. Emjaneiro,logodepoisde assumir,Do-
ria eseus secretáriosse reuniramcomomi-
nistroSergioMoro,emBrasília,edefiniram
quearemoçãoocorreriasó em fevereiro.
As maiorescrisesna segurançapúblicade
SãoPaulo ocorreram em decorrênciadepro-
testoàtransferência de presos. Em2001,de-
tentos de 29 penitenciáriasiniciaram uma
megarrebelião. Em 2006,aintençãode remo-
ver presos paraprevenir outro grandemotim
deflagrouuma ondadeviolêncianoestado.
Edifíciospúblicoseprivados foram depreda-
dosedestruídos.Ônibusforamincendiados.

Atrocade presídiotrazdificuldades
ao chefedo bando,que precisarecomeçar
sua redede contatos do zero

Atransferênciados
líderesdafacção foi
acertadaem janeiro
pelo governador
João Doria(acima)epelo
ministroSergioMoro

EDILSONDANTAS/AGÊNCIAOGLOBO

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