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Da perspectivadeles, oquadro me parece outro.Nos
Estados Unidos, espera-seaqualquer momento oresul-
tado da investigação liderada porRobert Mueller que
pode influenciarde maneira decisiva odestino da atual
administração easperspectivas de reeleiçãodoatual
ocupante da Casa Branca. Em Israel, oprimeiro-minis-
tro enfrenta desafios judiciaisgraves enumerosos,ea
própria sobrevivênciapolítica, no curtíssimoprazo,de
Netanyahuparece seriamente ameaçada.NosEstados
Unidos, aatmosfera política está envenenadaeasrela-
çõesentreosdoisgrandespartidospolíticossãoacrimo-
niosas eessencialmente conflituosas.
Váriosdosvisitantesestrangeirosrecentessaíraman-
tes machucados do que recompensadospela experiência
da visita aWashington. Avisita aIsrael traz consigo to-
da uma outra série de problemasecausa desconfiança
em boa parte do mundo árabe eislâmico.
Em WashingtoneemJerusalém estaríamos expos-
tos apressões que nos convém evitar ou pelo menos
adiar. Trump, com atruculênciaque éumtraço seu,
nos cobrará ir além do que já fomos com aVenezuela
—ejáfomosemgestoelinguagemalémdoquedevía-
mos,emboratenhamosdepoisrecuadoeadotadoposi-
çõesquemuitomelhorrefletemnossosinteressesetra-
dição. Umasuperpotência,qualquerqueelaseja,é, por
definição, insaciável. Haverá seguramente uma agenda
adicional de cobranças.
Em Jerusalém,aimprudente antecipação —emboa
horajácorrigida—dequepensávamoslevarparaaci-
dadenossarepresentaçãodiplomáticaque estáhojeem
TelAviv, como deve,pode ser relançadapor um gover-
no de Israel que tem grande interesse em que tal irre-
fletida decisão seja mantida.
Existe também orisco de que, em matéria de altera-
ções climáticas, voltemosao projeto de nos dissociardo
Acordo de Paris. Se isso acontecer,estaremosdando um
tironoprópriopéecausandogravedanoanossoprestí-
gio,anossa credibilidadee, oque éainda mais impor-
tante, anossos melhoresinteresses.
Nãoseriamessas certamente asúnicas pressões que
sofreríamossem ter por nosso ladoplanos eprojetos
amadurecidos que reclamassem oconcurso dos dois
países visitados.
Não subestimo acapacidade de TrumpeNetanyahu
de, jogandoem casa, procurarextrair omáximo
deconcessõesevantagensdeuminterlocutorcujogo-
verno não articulouainda suas prioridades eque, no
campo das relações internacionais, parece se afastar
do fio condutordoprofissionalismodatradição di-
plomática brasileira.
TrumpeNetanyahusabem que somos um país
que,alémdeterpesopróprio,influenciaoutroseque
dispomos de uma medida não insignificante de “soft
power”. OBrasil éobservado como se fôssemos, en-
treoutrascoisas, um grande laboratórioemque se
combinamesemisturamosgrandesingredientesque
fazem adiversidadeeacomplexidade da vidainter-
nacionalcontemporânea.Estamoslongedeserexem-
plaresoudecisivos, mas, sem dúvida alguma, somos
relevantes, enossas posiçõesinfluenciamoutros ato-
res nacionais naquelesmuitos sistemasassociativos
internacionais de que somosparte.
Ao conversar com americanoseisraelenses,convém
estar sempre muito bem preparadoeter presente que
temos outros importantes parceirosesócios, que esta-
rão atentos anosso discurso. Nãoprecisamosda per-
missãodeninguémparaconduzircomomelhornospa-
recer nossa política externa, mas não há dúvida de que
ébommanteraconfiançaeocréditodeoutrosgrandes
atores com os quais, pela geografia,pelo comércio,pela
históriaepelacultura,compartilhamosalgumasdenos-
sas mais importantes dimensõescomo sociedade.
Nossos sócios do Mercosul, do Brics, do G20, da
OEAedeoutrosforosemquetemospresençaeinfluên-
cia têm um interesse sustentado no que oBrasil possa
dizer esepropõe fazer.Não temos toda aimportância
que pretendemos, mas temos mais prestígioecredibi-
lidade do que imaginamos.Muitos ouvidos estarão
nos escutando.Temos um patrimônioazelar.
Acontaédifícildefazer.Comopesarnesteexercí-
cioriscoseoportunidades?Pensoqueabalançasein-
clinamais para oladodos riscos de negociarmos di-
retamente com TrumpeNetanyahu. São dois pesos
pesados vistos comfundada desconfiança pela socie-
dadeinternacional. Relações próximascom ambos
são perigosaspor sua próprianatureza.AviagemdeBolsonarosóvaifazer
comqueoBrasilfiqueexpostoa
pressõesecobrançasqueapenas
interessamaJerusalémeWashington