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sada —pelo vistoele está passandouma
temporada na Virgínia.
Umahora Olavo ligou omicrofone edis-
se: “Alô,por favor,sevocês estão me ouvin-
do,avisem pelo chat”. Imediatamente um
coro de “sim”, “perfeitamente”, “loud and
clear”,“sim,mestre”,“sim,professor”irrom-
peunochat,emquemaisde800pessoaspa-
peavam enquanto esperavam.Aaula começa
aqualquer momento entre as 21h30 eas22
horas, mas asala de chatcostuma ficar cheia
mais de uma hora antes disso.
“Hoje eu quero comentar aqui aideia do
Stephen Hawkingdeque quatro forças
bastariamparaexplicaraorigemdoUniversoa
partirdonada.” Olavofazia referência auma
frasedofísicobritânico,nofimda vida,segun-
do aqualnão émais necessáriorecorrer ane-
nhuma crença sobrenatural para explicar a
existência de tudo —asquatroforças funda-
mentais da física(eletromagnética, gravidade e
forçasnuclearforteefraca)dãocontadatarefa.
Dessavez,acríticadeOlavofoiumpou-
co mais piedosa: “Não precisamosdesprezar
aobra dopobre Hawking por isso,porque o
sujeito era doente. Mas, quando escreveuis-
so,ele não estava bem”. Olavo discordade
Hawking porque oUniverso étudo,éoTo-
do.Portanto,como pode ser que quatro for-
ças tenham dado origem aele? “Se elas pu-
deram criar alguma coisa, éporque elasjá
existiam.”E, se já existiam,oUniverso já
existia —quem então ocriou?
Nãodeixa de ser umargumento enge-
nhoso,mas nãosei se Olavo sabia que
Hawking,antes de morrer,havia usado exa-
tamente omesmo pensamento, só quein-
vertido.Eledisse:“OqueDeusestavafazen-
do antes de criar oUniverso?”.Afinal, se o
Universo étudo, comoéqueDeuspodia
existir antesdele? E, se Deus criou oUni-
verso,quem foi que criou Deus? Enfim, a
mesma armadilha lógica que Olavo prepa-
rou para Hawking acabou capturando-o.
Em seguida ofilósofo atacou aTeoria da
Evolução em termos semelhantes: disse
acreditarnas leis de seleção natural celebri-
zadas por Charles Darwin —mas quem foi
queascriou?OpróprioDarwin,homemre-
ligioso,supôsquetenhasidoDeus.“Ateoria
do design inteligente éaúnica fielaoque
Darwin imaginou”,disse Olavo,fazendo re-
ferência auma teoria com raízes mais
religiosasdoquecientíficas(aideiadequeé
impossível que haja uma biosfera tão perfei-
ta ecomplexa sem que houvesseum desig-
ner para projetá-la,no caso,Ele).
“Vieram dizer que oOlavo está querendo
dar aulas de física para oStephen Hawking”,
ele continuou. “Primeiroque isso não éfísi-
ca,émetafísica”,terrenodafilosofia,anterior
ehierarquicamente superior às ciências.
“Segundoque, se eu estiver
certo eoStephen Hawking
errado,qual éoproblema?
Qualquerum pode falar uma
besteira. Eu já falei, oAlbert
Einstein já falou.”
Então oassunto mudou subitamente: da física
fomosàsideiaspolíticasdeEinstein,delasàin-
genuidade do socialismo democrático e, daí,
comocostuma acontecer, para oprojeto da es-
querdadedestruição da civilização.Acomeçar
peloestragoque elafez nas universidades.
“Não édeespantar que auniversidade no
Brasildespejenomercado50%deanalfabetos
funcionais, oque provaque são entidades es-
telionatárias que praticam fraude otempo to-
do”. “O número de cientistaspolíticos,jorna-
listas—onúmero de professores eméritos —
OGURUDERICHMOND
Lançadoem1995,
Ojardim das aflições
éolivro maisdiscutido
de Olavo de Carvalho,
no qual ele refuta as
ideias de Epicuro
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