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09.03
Parece que não.Ocoronel Roquettifoi de-
mitido do Ministérioda Educação,amando
dopresidente,eosalunosdeOlavo,pelovis-
to,ficaram.Ao longodosúltimostrêsmeses,
meu professorcomprou briga com quase to-
do mundo que ele não indicou no governo.
Atéagora, os Bolsonaros apoiaram-no em
todasedemitiramquemelemandou—Ilona
Szabó,ocoronel Roquetti,Paulo Roberto de
Almeida—, mesmo contra avontade de fi-
gurões como Moro eMourão.
11.03
Agora meu professorparece ter rachado
também com oministro que ele mesmo in-
dicou, Ricardo Vélez Rodríguez.No Twitter,
ele perguntavase“Vélez se vendeu ou se
deu?”. Bemque ocolega dele, ofilósofo Joel
Pinheiroda Fonseca, com quem almocei na
semanapassada,tinhameavisadoquebrigar
com as pessoas éomodusoperandide Ola-
vo.Éassim que ele passa pelo mundo: tre-
tando.Ecommuitafrequênciaoseguidorde
hoje vira oarqui-inimigode amanhã.
Aliás, li hoje um denso artigo filosófico
de um desses ex-seguidores,Martim Vas-
ques da Cunha, publicadona semana pas-
sada no jornal conservadorGazeta do Povo.
Chama-se“O mínimo que você precisa sa-
ber sobre opensamento de Olavo de Car-
valho”. Otexto écuidadosoerespeitoso,e
dedica bem mais elogios do que críticas ao
ex-professor.Mas as críticassão fortes:
Cunha acusa-o de ter um projeto de poder
com toques místicos. “O que era para ser
uma comunidade de estudos tornou-sede-
pois uma ‘teia hierárquica’,cuja meta éin-
fluenciarespiritualmente os eventos políti-
cos de uma nação,como uma casta.” Para
Cunha, oque Olavo tem em mente é“um
programadereformaintelectual, moral e
espiritualdo ser humano”: ou seja, acoisa
maisautoritária que existe. Arespostade
Olavo aesse tipo de crítica vem na forma
deapelido:nocaso,MastimVaca.Ficoaqui
pensandoqualapelidoelevaimedar.Pênis
Burroman,será? Ou será que vai me reser-
var asuprema humilhaçãode me ignorar?
Masoque nãofoi ignorado hojefoi um
tuíte de Olavo dizendo que nenhum estudante
conseguesobreviverna universidadesem usar
drogas eparticiparde bolinação coletiva.A
mensagembombounasredessociais,servindo
de escada para uma infinitudede piadas.
12.03
Umacoisa que Olavo dissemefaz pensar
muito:aideiadequeumprofessoruniversi-
táriotemconflitosdeinteressedemaisenão
pode pensar livremente. Acho que ele tem
razão,sabia? Realmente vivemos uma época
em que édifícil pensar com liberdade.
Mastenho notado que Olavo convive
também com um número enorme de con-
flitos de interesse. Porexemplo:ele sabe
que sua audiência aumenta —eareceita
também —seele se comportar menos co-
mo um filósofo emais como um soldado.
Esse papel de animador
de torcida que ele tem
certamente oatrapalha na
hora de olhar para as coisas
querendorealmente ganhar
conhecimento.
Hoje, por exemplo,aPolícia Federal tinha
acabado de anunciar que omatador de Ma-
rielleFranco era vizinho de Bolsonaro,e
que omotorista que conduziu oassassino
no crime foi fotografadoao lado do presi-
dente. Olavo postou: “Pô, presidente, amí-
dia já está insinuando que osenhor esua
família são culpadosda morte da Marielle.
Nemdiante de uma coisa dessas osenhor
vai tomar ainiciativa de processaros calu-
niadores?”.Nãoéestranho que um filósofo
nunca, jamais, em tempo algum critique ou
sequer admita dúvida sobre opresidente da
República?Quelivre-pensadoréesse,casado
com opoder?
LEIA AÍNTEGRADO DIÁRIONO SITE DE ÉPOCA
OGURUDERICHMOND
Não há nada a
comemorarcom
ofim da Idade Média
eosurgimento
da modernidade,
lamentou ofilósofo.
Oresultado
éoindividualismo
eum“homem
perdido”, disse
JAYWESTCOTT/POLARISIMAGES