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O projeto terapêutico
personalizado é
elaborado, sendo
reajustado em função
da evolução da
criança. Diversas
sessões podem ser
propostas por semana
ambiente de tranquilidade, disponibili-
dadee reciprocidade, evitando qualquer
invasão sensorial do meio externo. A
única fonte de interesse é o adulto, que
solicita claramente a atenção da criança,
convidando-a a compartilhar, de manei-
ra estruturada e organizada, as diferen-
tes atividades com ele. O objetivo não é
odo desempenho, mas, principalmente,
oda participação da criança nas ativi-
dades, privilegiando-se o bem-estar e
o sucesso. O adulto procura perceber
quando a criança começa a se distrair ou
se agitar, e a brincadeira pode então ser
completada mais rapidamente. Se o tera-
peuta não pôde antecipar a ruptura, ele
retoma a atividade com a criança para
ajudá-la a terminar, com um apoio mais
intenso. Por outro lado, a mais discreta
manifestação de interesse ou tentativa
de resposta por parte da criança é enco-
rajada. Quando sobrevêm momentos de
agitação, o adulto não expressa seu desa-
cordo, ignora os comportamentos desa-
daptados e segue a sequência de trocas,
continuando a solicitar a criança. Por
sua calma e paciência, o terapeuta con-
segue, assim, facilitar uma comunicação
mais adaptada. A ordem de sucessão das
atividades ao longo de uma sessão é cui-
dadosamente organizada em função das
reações e comportamentos da criança.
Essa ordem pode variar de uma sessão
a outra, ou mesmo no interior de uma
mesma sessão. Em geral, para evitar os
momentos de indisponibilidade da crian-
ça, os momentos de maior relaxamento
e as atividades mais sustentadas se al-
ternam. Fazer suceder as atividades em
UMAORDEMANTERIORMENTEDElNIDAMAS
variável, tem como objetivo introduzir a
cada vez um interesse novo, sem inquie-
tar a criança. As atividades propostas
respondem aos objetivos terapêuticos:
praticar esse ou aquele domínio funcio-
nal anteriormente percebido como frágil.
Por exemplo, para melhorar a atenção
sustentada, repete-se regularmente, de
uma sessão a outra, uma atividade que
interesse particularmente a criança, bus-
cando ampliar o tempo de participação
e troca. As atividades tornam-se mais e
mais complexas de acordo com a evo-
lução da criança, mas quando parecem
difíceis ela é ajudada, acompanhada e
sustentada. Tudo é feito para evitar o fra-
casso e o desencorajamento, e para que
a participação da criança seja motiva-
da pelo prazer compartilhado em cada
nova situação de interação. As atividades
são propostas uma a uma. A duração de
cada atividade (de poucos minutos) deve
ser adaptada continuamente às possibili-
dades de atenção e de concentração da
criança, o objetivo sendo o de aumentar
otempo de atenção sustentada ao longo
das sessões.
que tipo de progressos você conse-
gue obter com essa metodologia?
Camilla: Diversos estudos realizados
tanto no Brasil quanto na França e em
outros países que implementaram a
TED (tal como Itália, Líbano, Bélgica
E#ANADÉ SUGEREMGANHOSSIGNIlCATI
vos do ponto de vista desenvolvimental
e comportamental, além de evidencia-
rem mudanças nos processos neuro-
lógicos subjacentes: o funcionamento
do cérebro de pacientes autistas passa
a ser mais parecido com o de indiví-
duos com desenvolvimento típico em
áreas tais como a percepção visual e
auditiva. Além disso, as pesquisas e a
OBSERVA¥ÎO CLÓNICA COLOCAM EM EVI
DÐNCIA UMA DIMINUI¥ÎO DOS COMPOR
tamentos desadaptados das crianças
em diferentes domínios funcionais:
a atenção, a imitação, o contato com
ooutro e a comunicação, associada a
UMA CLARA MELHORA DE SUAS CAPACIDA
des cognitivas e socioemocionais. A
observação clínica também sugere que
crianças que iniciam a terapia preco-
cemente chegam a superar muitas das
DIlCULDADESCARACTERÓSTICASDOAUTISMO
e que esses ganhos se sustentam ao
longo do tempo. Há uma ampliação ní-
tida das capacidades de comunicação, IMAGENS: SHUTTERSTOCK
Durante a sessão de TED, a criança é solicitada e acompanhada em diferentes brincadeiras adaptadas a
seu nível de desenvolvimento, considerando seus interesses e habilidades
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