Psique - Edição 156 (2019-02)

(Antfer) #1
http://www.portalespacodosaber.com.br psique ciência&vida 47

O consciente positivo


IMAGENS: SHUTTERSTOCK


Em tempos


objetizantes, ser


esperto é ter alguma


coisa a mais, é ser


mais, é transbordar-se


de maravilhas, de


estética da amostra


e ser superior. É ter


omundo, como


numa mania de


grandeza delirante


REFERÊNCIAS
Freud, S. Estudos sobre a histeria. In: Freud, S. Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud
(edição standard brasileira), v. 2. Trad. J. Salomão. Rio de Janeiro: Imago (trabalho original
publicado em 1893), 1976.

. Formulações sobre os dois princípios que regem o funcionamento mental. In:
Freud, S. Obras Completas de Sigmund Freud (edição standard brasileira), v. 12. Rio de Janeiro:
Imago (obra original publicada em 1911), 1996d.
. Totem e tabu. In: Freud, S. Obras Completas de Sigmund Freud (edição standard
brasileira), v. 13. Rio de Janeiro: Imago (obra original publicada em 1913), 1996e.
. Além do princípio do prazer. In: Freud, S. Obras Completas de Sigmund
Freud (edição standard brasileira), v. 18. Rio de Janeiro: Imago (obra original publicada em
1920), 1996f.
. Inibição, sintoma e ansiedade. In: Freud, S. Obras Completas de Sigmund
Freud (edição standard brasileira), v. 20. Rio de Janeiro: Imago (obra original publicada em
1925), 1996g.
. O futuro de uma ilusão. In: Freud, S. Obras Completas de Sigmund Freud (edição
standard brasileira), v. 21. Rio de Janeiro: Imago (obra original publicada em 1927), 1996h.
. O mal-estar na civilização. In: Freud, S. Obras Completas de Sigmund Freud
(edição standard brasileira), v. 21. Rio de Janeiro: Imago (obra original publicada em 1930),
1996i.
. Ansiedade e vida instintual [Novas conferê ncias introdutó rias sobre a
Psicaná lise]. In: Freud, S. Obras Completas de Sigmund Freud (edição standard brasileira), v. XXII,
p. 103-138. Rio de Janeiro: Imago (texto original publicado em 1933), 1976.


seja embelezada e facilitada sua
vida, enquanto, na realidade, só
causam prejuí zo” (Freud, 1933).
O real do mundo não é positi-
vo, tampouco negativo. Ele é, ele
acontece, ele atravessa, ele é não
todo controlado e menos ainda
previsível, de forma que listinhas
de afazeres dessem conta. Para
Freud, o sofrimento do qual não
podemos fugir e que sustenta o
mal-estar, não é estar mal, é mal-
-estar, diz de um posicionamen-
to, nos aparece em três direções:
“O sofrimento nos ameaça a
partir de três direções: de nos-
so próprio corpo, condenado à
decadência e à dissolução, e que
nem mesmo pode dispensar o
sofrimento e a ansiedade como
sinais de advertência; do mundo
externo, que pode se voltar con-
tra nós com forças de destruição
esmagadoras e impiedosas; e, fi-
nalmente, de nossos relaciona-
mentos com os outros homens”
(Freud, 1930).

Saber fazer


A


resiliência para lidar com es-
ses três meios do mal-estar,
nos desassossegarmos, é que nos
faz sentir vivos. Resiliência não

é esperteza de se fazer saber e,
sim, de um saber fazer, algo práti-
co que encara o que deve ser en-
carado. A relação com os outros
homens, segue Freud, é a mais
difícil e laboriosa ameaça. E se
vestir de ditadura da felicidade,
cobrando-se ser o que o mundo
nos demanda, ser feliz de forma
ininterrupta, tomar a felicidade
pelo que o outro espera, ser feliz

como cobrança e não como esta-
do de espírito são tornar-se infe-
liz por excelência com máscaras
sorridentes. Tal como quando
pelas cobranças de ter que ser
potente, não falhar, os homens
começam a transar por pressão,
para provar que dão conta (ten-
dem a falhar) e não por prazer. Se
faz bem, ótimo, mas que não seja
a única saída, existe poesia!

Vestir-se de ditadura
da felicidade,
cobrando-se ser
o que o mundo
demanda, ser feliz
de forma ininterrupta
são tornar-se infeliz
por excelência

DOSSIE.indd 47 29/01/2019 15:43
Free download pdf