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tia. A capacidade do indivíduo em
julgar a situação e tomar decisões
fica prejudicada. Apesar daquela si-
tuação não lhe fazer bem, não conse-
gue desvencilhar-se e sua autonomia
fica comprometida.
O nível de obsessão e dependên-
cia na paixão está diretamente ligado
à formação saudável da estrutura da
psique. Alguns aspectos patológicos
do indivíduo vão influenciar direta-
mente a forma de encarar a ameaça
da perda do objeto de amor que pode
ser mais ou menos desestruturante.
Muitas vezes, é impossível para o su-
jeito suportar a ameaça de ruptura da
relação, levando a estados depressi-
vos graves e até ao suicídio. Assim,
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL
Elaine Cristina Siervo é psicóloga. Pós-graduada na área Sistêmica – Psicoterapia
de Família e Casal pela PUC-SP. Participa do Núcleo de Psicodinâmica e Estudos
Transdisciplinares da SBPA (Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica). Atuou na
área de dependência de álcool e drogas com indivíduos, grupos e famílias.
A permanência nesse estado des-
trutivo da paixão revela aspectos não
integrados da psique do indivíduo. A
impulsividade pode derivar de uma
dificuldade de o paciente perceber
suas motivações, fixações e simboli-
zá-las. Esses aspectos, quando cons-
cientizados, permitem ao indivíduo
não mais atuar a partir de seus pa-
drões de comportamentos repeti-
tivos e compulsivos. Esses fatores
influenciam a escolha do parceiro e
a forma de estabelecer relações afe-
tivas na vida adulta. “Impulsividade
baseia-se em uma inabilidade para
tolerância à frustração, assim como
em uma perturbação da realidade e
da autocrítica, estando a motilidade
ou atividade marcadas por uma qua-
lidade dramática” (Greenacre, 1950,
19, op. cit., p. 457).
Em alguns casos, a paixão não é
correspondida e pode vir acompa-
nhada de muito sofrimento e angús-
mesmo que aquela relação traga so-
frimento e consequências ruins para
sua vida, a pessoa não consegue
romper o vínculo.
A análise é uma oportunidade de
verbalizar ao invés de atuar. A cons-
cientização permite ao indivíduo en-
contrar dentro de si aspectos falhos
e insuficientes dos primeiros anos de
vida e elaborá-los.
Nesse processo, a relação transfe-
rencial pode reproduzir os vínculos ob-
jetais mal estabelecidos e, com sucesso,
possibilitar a reconstrução das lacunas
na formação da identidade do indiví-
duo. O fortalecimento do ego propicia
que parte da energia investida no obje-
to seja redirecionada para si.
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