80 PLACAR.COM.BRsetembro 2016
mente jogando com ótimos jogadores, como o Ricardinho, que joga
muito. Ele é o atual melhor do mundo.
PLACAR: O grupo de jogadores da seleção tem um bom astral, vocês passam
uma imagem muito boa. A realidade também é assim?.
J: Sim, brincamos muito entre nós, um imita o outro. É
muito divertido.
PLACAR: Além da habilidade, por quais razões o Brasil é forte no futebol de 5?
J: O Brasil, quando se trata de futebol, sempre foi muito
forte. Temos uma rara habilidade com a bola nos pés. Nos tor-
namos uma referência no futebol de 5, não apenas no aspecto
técnico mas também na estrutura, na formação de jogadores.
Os outros países evoluíram muito copiando o Brasil. É muito
importante destacar a estrutura que a confederação e o Comitê
Paralímpico Brasileiro nos proporcionam. Temos um Campeo-
nato Brasileiro de Clubes.
PLACAR: Por ser afrodescendente e cego, você sofreu ou sofre preconceito?
J: Infelizmente passamos por algumas situações cons-
trangedoras, mas na minha cara, na minha vista, nunca ize-
ram nada assim comigo, sempre fui bem tratado. As pessoas
me ajudam bastante, talvez por ser eu uma pessoa pública.
Sou inclusive parado nas ruas para tirar fotos com fãs. Infeliz-
mente tenho companheiros que passaram por isso, que é sem-
pre muito chato. É importante a mídia informar as pessoas,
combater a ignorância. Que as pessoas conheçam nossas
capacidades.
PLACAR: Qual será o legado da Olimpíada e Paralimpíada do Rio?
J: Essa é uma questão muito importante. Hoje vemos que
a Copa do Mundo deixou muito pouco para o Brasil. Espero que
agora seja diferente. O maior legado que a Paralimpíada vai dei-
xar é o nosso Centro Paralímpico de treinamento em São Paulo,
que abriga 15 modalidades e vai ser importante para depois dos
Jogos, para mantermos nosso desempenho. Também que melhore
a acessibilidade em todo o país.
PLACAR: De na a frase que você citou em outra entrevista: “Nem sempre é
preciso ver para crer”...
J: Mostra que nós, atletas paralímpicos, somos capa-
zes. Apesar de alguns não enxergarem, apesar de outros atletas
que não andam ou andam com di culdades, temos a capacidade
de sonhar e de buscar a realização desse sonho. Temos totais
condições de trabalhar, de nos dedicar. Comigo foi assim e acre-
dito que com outras pessoas seja assim. Fico feliz em dar um
bom exemplo para outros jovens de cientes, que eles se tornem
cidadãos do bem.
PLACAR: Vocês que possuem de ciência visual enfrentam muito bem a
de ciência, explique para nossos leitores qual é a fórmula?
J: Sou bem tranquilo quanto a essa situação. Existem
pessoas que não gostam de chamar um cego de cego, mas cego é
cego. Eles chamam o cego de de ciente visual ou pessoa portadora
de de ciência. Em minha opinião são termos estranhos. Eu não
tenho esse receio, aceito muito bem a situação, bem tranquilo de
ser chamado de cego. Eu falo “futebol para cegos”.
CLASSIFICAÇÃO PARALÍMPICA
Os jogadores de linha são considerados cegos pela OMS –
Organização Mundial da Saúde –, podendo perceber luminosidade e vultos.
São classificados pela BSA – Federação nternacional de Esportes para Cegos –
na classe B1, ‘cegos totais ou com percepção de luz’, mas sem reconhecer o formato
de uma mão a qualquer distância.
Esclarecimento: Os goleiros não possuem deficiência visual ou físico-motora.
Ao contrário dos jogadores
de linha, os goleiros não têm
deficiência visual
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