Elle - Portugal (2019-03)

(Antfer) #1
mamária numa clínica cirúrgica em Harley Street
que fazia lembrar uma sala de visitas dos anos 70.
A redução mamária mudou o tamanho dos
meus seios, mas não mudou completamente o meu
relacionamento com eles. O tamanho era menor,
mas a minha antipatia em relação a eles manteve-
se. Só depois de ter o meu filho no ano passado – e
observá-los aumentar a proporções verdadeiramente
cómicas antes de achatarem para os delicados sa-
quinhos de chá que são agora – que me sinto capaz
de vê-los pelo que são. E não porque eles provaram
o seu propósito e forneceram leite à minha criança
(segundo a escola de pensamento que defende que
a única razão de ser do corpo de uma mulher é a
maternidade), mas porque amamentar significava
que eu não era mais capaz de me separar das minhas
mamas ou dispensá-las. Ignorá-las, como fiz durante
quase duas décadas, não era mais uma opção. Tive
que aceitá-las como totalmente minhas.
Peitos, seios, margaridas, melões, maminhas,
tetas. Existem inúmeras expressões para mamas –
quase tantas como as formas e tamanhos em que elas
existem. Ainda assim, poucas podem fazer parte de
uma conversa dita cultural. De um lado, temos as
mamas do universo da moda, firmes, pequenas e
encaradas de uma forma artística. Por outro lado,
há os seios “abana-abana”. Eles são considerados
as mamas dos homens. As mamas privadas – as
minhas e provavelmente as suas – não se encaixam
neste binário estreito. Mamas descaídas, mamas
flácidas e mamas que não são caucasianas têm um
historial de serem ridicularizadas.

Mas os tempos de mudança estão a chegar. Fi-
nalmente! Foi devido a esta discrepância de visões
que a blogger e autora do livro What A Time To Be
Alone (disponível na amazon), Chidera Eggerue,
também conhecida como The Slumflower, lançou o
movimento #saggyboobsmatter em 2017. «Como
fazer styling com seios flácidos: um tutorial. Passo
um: use a maldita roupa. Passo dois: lembre-se
de não se importar. Eventualmente, vamos todos
morrer», escreveu Chidera no seu perfil de Ins-
tagram. O movimento rapidamente se tornou

viral e cimentou a voz de Chidera como ativista
body positive. «Fiquei cansada de não gostar de
mim, cansada de ter uma razão para me condenar
e exausta de evitar certas roupas que revelariam
a forma das minhas mamas», contou Chidera à
ELLE. «Aos 19 anos, comecei a tomar pequenas
decisões, como escolher não usar soutien. Isso
evoluiu para recusar-me a ficar intimidada por
usar decotes profundos». Procure o hashtag no
Instagram e vai encontrar milhares de imagens
positivas de mulheres de todo o mundo a celebrar
os seus seios, seja qual for a forma e independen-
temente do tamanho.
Esta não é a primeira vez que vemos movimen-
tos a tentar livrar as mamas do olhar masculino.
Afinal de contas, já percorremos um longo cami-
nho desde 2014, onde uma mulher que estava a
amamentar no hotel Claridge’s, em Londres, foi
convidada a cobrir-se. Natalie Portman, no seu
discurso na cerimónia Variety’s Power of Women
em outubro passado falou sobre mamas. «O aspeto
mais notável sobre nós enquanto animais são as
nossas mamas», afirmou. «Nós sabemos disso, os
homens sabem disso e os bebés definitivamente
sabem disso. Aliás, na nossa primeira reunião do
Time’s Up, estava a amamentar a minha filha
numa sala que não só permitia como aplaudia o
ato. Mas de qualquer forma, os nossos seios são
incríveis e há uma mensagem nas nossas glândulas
mamárias». (A mensagem sendo: quanto mais leite
der, mais leite produz, em relação à equanimidade
de géneros). Depois, há o #FreeTheNipple, que
surgiu pela primeira vez em 2012 em resposta à
proibição do Instagram em mostrar os mamilos
femininos em publicações – embora este movi-
mento tenha sido considerado, em tom de crítica,
Insta-feminismo, um conceito limitado que teve
como principais apoiantes mulheres cisgéneras,
caucasianas e magras, que, no Instagram, usam os
seus bíceps como se fossem um acessório de moda.
Em contraste com o #FreeTheNipple, o movi-
mento de hoje é caracterizado pela sua inclusivida-
de. Onde o positivismo corporal – e outras formas
de feminismo – muitas vezes exclui mulheres
de cor, o hashtag de Chidera é especificamente
destinado a «mulheres gordas de pele negra».
«Houve sempre um discurso que ou hipersexua-
liza o corpo da mulher negra ou a trata como algo
transgressivo», comenta Kenya Hunt, da ELLE
UK, que comprou o seu próprio pote depois de
eu lhe ter apresentado o trabalho da Emma.

«COMOFAZERSTYLINGCOMSEIOSFLÁCIDOS.


PASSOUM:USEAMALDITAROUPA.
PASSODOIS:LEMBRE-SEDENÃOSEIMPORTAR».
CHIDERA EGGERUE,BLOGGEREAUTORA

A SEGUIR
O trabalho da Emma
Low no Instagram
@potyertitsawayluv.

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