Elle - Portugal (2019-03)

(Antfer) #1

STARS


se por acaso Hollywood não estivesse interessada nela? «Está
a brincar? Pedi imenso aos guionistas de Neighbours para
matarem a minha personagem para não me sentir tentada
em regressar à Austrália. Já tinha virado a página». Tentou
a sua sorte e conseguiu um papel na série Pan Am, que
acabou por ter uma única temporada. Como hospedeira da
mítica companhia aérea, Robbie roubou o protagonismo
à sua colega de elenco Christina Ricci. E isto foi só o iní-
cio... Quando conheceu Martin Scorcese, tudo mudou. O
realizador estava à procura de uma atriz para representar a
mulher do protagonista interpretado por Leonardo DiCa-
prio. Houve dois momentos que criaram a lenda de Margot
Robbie. Primeiro, em pleno casting, a jovem atriz deu um
estalo a Leonardo DiCaprio, apanhando-o de surpresa, para
exprimir o desespero da sua personagem. Scorcese saltou de
alegria. Tinha encontrado a sua atriz, uma
mulher com carácter. Segundo momento:
uma cena muito ousada com DiCaprio que
faz lembrar “a” cena de Instinto Fatal. A
máquina começou a rolar, Hollywood
tinha encontrado a sua nova Sharon Stone.
Mas, contra todas as expectativas, Margot
Robbie partiu para Inglaterra.

A LÍDER DO GRUPO
Num set de filmagem, entre duas cenas,
nunca encontraremos a atriz fechada na
sua caravana. Margot detesta a solidão e
prefere todo o tempo com a equipa. Na
rodagem de Suite Française, de Saul Dibb,
fez a sua magia com os assistentes. Assim
que o filme foi apresentado em antestreia
em Londres, a pequena equipa do filme
reagrupou-se e decidiu experimentar viver em conjunto.
Alugaram uma grande casa no bairro de Clapham – eleito
como morada por Vivienne Westwood, Jason Statham e
pela irresistível Joanna Lumley. Uma experiência sobre o
espírito de comunidade que acabou com... um casamento.
A 18 de dezembro de 2016, Margot Robbie casou-se com
Tom Ackerley, um realizador assistente. Um casamento
realizado com a maior discrição, claro. Mas nem isso levou
Robbie a querer separar-se do grupo dos sete amigos de
casa. Foi neste contexto que a atriz criou a empresa de
produção LuckyChap Entertainment. «Quando me davam
guiões, muitas vezes achava as personagens masculinas
mais interessantes do que as personagens femininas. Tive
vonta de mudar isso». Assim, produziu I, Tonya, um filme
que lhe trouxe a nomeação para o Óscar de Melhor Atriz.
«Os projetos cresceram e tornaram-se muito importantes.
Por isso, tivemos de regressar a Los Angeles». E projetos não
lhe faltam. Em breve, encontrá-la-emos em Suicide Squad 2;

em Marion, uma versão feminina do clássico Robin dos
Bosques; e, last but no least, em Barbie, uma coprodução
com a Warner e a Mattel.

A CONSCIÊNCIA DO PRESENTE
Robbie faz parte do movimento #MeToo. Algumas semanas
depois da prisão de Harvey Wenstein, pediram-lhe para se
pronunciar a favor das mulheres na indústria do cinema.
Para escrever o seu discurso, pesquisou e conversou com
atrizes, mas também com mulheres atrás das câmaras,
maquilhadoras... «O assédio chega a todas. Achei que era
importante falar com mulheres que exercem profissões cujos
nomes nunca são escritos com letras grandes nos cartazes».
A atriz é uma verdadeira mulher do seu tempo, assume a
sua consciência política. Para si, o direito de voto é sagrado.
«Na Austrália, somos obrigados a votar.
Senão, recebemos uma multa. Acho esta
lei incrível». Também nos seduz pela sua
consciência ecológica: «Cresci com a água
que tínhamos nos reservatórios. Sei qual é o
valor de cada gota. As noções de separação
de lixo e de luta contra o desperdício de
energia fazem parte do meu ADN. Não
uso sacos de plástico há muito tempo. Na
Austrália, todos estes gestos são dados
adquiridos. Quanto a conduzir um carro
elétrico, nem se coloca a questão. Desde
que vivo em Los Angeles que o faço».

O JOGO DA MODA
O cinema é a sua grande paixão, mas Mar-
got Robbie reconhece ter um profundo
respeito pelo mundo da moda. Os olhos
do novo rosto da Chanel ainda brilham quando pensa na
visita aos arquivos da Maison, em Paris, na companhia de
Karl Lagerfeld, que morreu recentemente.«Coco Chanel
soube traduzir o espírito do seu tempo, a emancipação das
mulheres. Karl Lagerfeld foi um fiel guardião desse espírito.
Tive a sorte de assistir, em Dezembro, ao último desfile da
Chanel Métiers d’Art Paris-New York no Metropolitan
Museum of Arts em Nova Iorque. Senti-me quase como a
Alice no País das Maravilhas». Quanto à passadeira vermelha,
Margot Robbie reconhece que esta faz parte da profissão de
atriz. «Foi preciso tempo mas, hoje em dia, gosto mesmo.
É divertido pensar na nossa roupa, da mesma maneira que
pensamos em criar uma personagem para um filme. Para
além disso, há um contacto especial com cabeleireiros, ma-
quilhadores, todo esse tipo de pessoas que estão na sombra
e que nos fazem, a nós atrizes, brilhar. Nunca deixo de lhes
agradecer». Aqui concedemos-lhe um novo título: Margot
Robbie, a nova rainha do nosso coração. F. D.

ACHAVA AS
PERSONAGENS
MASCULINAS BEM
MAIS INTERESSANTES
QUE AS FEMININAS.
TIVE VONTADE
DE MUDAR ESSE
PARADIGMA.
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