Elle - Portugal (2019-03)

(Antfer) #1
Não vou conseguir jantar
hoje outra vez! Mil desculpas!!
Eu sei que estou sempre
a cancelar...

Estás a brincar, certo?
Outra vez???

IMAXTREE (1)

maneira de viver a vida de uma forma mais genuína e autêntica»,
acrescenta. Para fazer isso, é preciso aprender a dizer não sem
sentir necessidade de se desculpar. Há uma maneira, segundo
Havrilesky, de manter relacionamentos sem desenvolver sen-
timentos de culpa e também sem ter que sair todas as noites
para jantares. Mas envolve aprender a partilhar com as pessoas
aquilo que precisa. «Hoje, muitas pessoas queixam-se de se
sentir como se estivessem sempre numa passadeira rolante»,
afirma Abigael San, psicóloga, «quase como se tivessem que
ser e fazer tudo sem nunca parar. Isso significa que vão falhar
nalguma coisa». E conduz aos montes de planos cancelados
espalhados em caixas por todos os cantos da nossa vida.

AS RELAÇÕES DIGITAIStornaram-se a norma; então, a vida
real provoca ansiedade», acrescenta San. «O instinto é remover
a causa. E há um reforço negativo: o cancelamento traz uma
sensação de alívio». No entanto, há uma maneira de cancelar
de forma correta. Precisamos, enfatiza San, de sermos honestos
sobre o porquê de estarmos a desmarcar. «A honestidade pode
parecer ser a pior opção, mas a longo prazo pode ter um melhor
impacto porque não há espaço para a outra pessoa preencher
as lacunas». Esta ideia até me faz tremer um pouco. «Ana,
desculpa-me, mas não quero ir no sábado porque preciso de pelo
menos duas horas para conversar com o meu namorado sobre o
nosso futuro. Mariana, podemos falar por Snapchat em vez de
ir ao café? Ficas um pouco chata depois de duas bebidas e não
tenho paciência neste momento». Talvez, a psicóloga sugere,
a ascensão do cancelamento possa ser algo positivo. Embora
anteriormente nos tivéssemos arrastado para compromissos que
não queríamos, hoje somos capazes de nos manifestarmos. O que
significa cancelar os nossos compromissos. «Será este um sinal de
que estamos a encontrar as nossas vozes e a lutar por aquilo que
queremos?», questiona San, mesmo que seja algo tão simples
como passar algum tempo sozinha ou dormir. «Será isto um
sinal que as pessoas estão a validar os seus próprios direitos?».

SERÁ QUE ESTA É A GRANDE VERDADEsecreta desta geração
do cancelamento? Uma tempestade perfeita de tecnologia e
ansiedade conduziu-nos a este momento, quando temos a
facilidade de cancelar encontros que não nos enriquecem ou
não nos fazem felizes. Se formos honestos sobre o que quere-
mos e quando o queremos, ninguém se magoa. Na verdade,
é essa honestidade que nos permite sermos mais abertos,
vulneráveis até. E capazes de assumir que um bar lotado ou
em um casamento cerimonioso não nos faz felizes. Será que
o “cortar-se” pode ser aquilo que nos salva? E. W.

mento de fúria, mas o alívio logo se segue. Estas são as etapas
do cancelamento, dizem Breger e Silver. «Primeiro surge a
ideia no nosso cérebro – tentamos esquecer mas ela continua
a crescer. Imaginamos várias desculpas diferentes; esperamos
para ver se a outra pessoa cancela primeiro, enviando uma
mensagem do tipo “Está de pé o nosso almoço?”. Finalmente,
a pequena chama transforma -se num fogo que consome tudo;
está a queimar e somos nós que temos que o apagar». Inevi-
tavelmente, os amigos íntimos, os que mais adoramos, são os
mais atingidos pelas nossas “tampas”. Porque sabemos que as
pessoas que mais nos amam vão entender, acabamos por gastar
mais tempo com amigos “menores”, que até nos intimidam.
Os pais de Gemma e Sam falam-lhes da altura em que se fazia
planos para fazer uma chamada telefónica para alguém. Depois
tinha -se que andar até a uma cabine telefónica, sabendo que a
outra pessoa estava à espera perto do telefone. «Marcavas um
compromisso, cumprias e eras pontual», relembram. Agora,
a tecnologia matou a noção de compromisso.
O “cortar -se” tornou -se inevitável, tomando conta das nossas
mensagens de texto. Uma mulher escreveu para uma agony aunt,
Heather Havrilesky, da New York Magazine, descrevendo -se
como “uma introvertida que enganou o mundo fingindo ser
extrovertida, o que significa que tenho muitos amigos e estou
assustada com a perspetiva de ter que manter tantas relações
reais». O seu sonho seria «morar numa pequena cabana algures,
focar -me no meu trabalho e nunca mais receber uma mensagem
a dizer “Um copo ASAP?”». Havrilesky percebe -a. «Fazer
planos hoje em dia, por vezes, é aquele part -time que nunca
quisemos ter», afirma. «Acho que estamos à procura de uma

EM MÉDIA,CADA PESSOA FAZ 104 PLANOS
SOCIAISPORANO,MASACABA
PORCANCELAR METADE DELES.

FENÓM


ou conseguirjantar

MENO

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