Elle - Portugal (2019-03)

(Antfer) #1
pessoal por aquilo que veem que outros,
cuja presença e vida admiram nas redes
sociais, fazem. Ou seja, se de facto a pes-
soa X vai ao café Y, é porque este café
é instagramável», afirma a psicóloga.
Quem nunca partilhou uma tosta de
abacate depois de todos os influencers e
mais alguns publicarem fotos de brunchs
incríveis? Se respondeu que sim, saiba que
contribuiu para as mais de nove milhões
publicações de abacate no Instagram.
Contribuiu também para o aumento da
procura do fruto – e consequente infla-
ção – que deu origem à máfia do abacate
no México. As pessoas estão muito mais
reativas ao que veem nas redes. «Sinto que
há muito julgamento por parte das outras
pessoas. À mínima foto ou descrição, há
sempre comentários de pessoas que não
conheces de lado nenhum», constata Inês.
Se por sua vez os Millennials preferem
plataformas mais expostas ao escrutínio
público, os Gen-Z tentam-se resguardar,
optando por redes sociais que oferecem a
possibilidade de selecionar quem vê o seu
conteúdo; motivo que explica o fenómeno
do Finstagram, um perfil de Instagram

que existe em simultâneo com o perfil
oficial, onde «só mesmo os meus amigos
mais próximos é que me podem seguir
para eu estar mais à vontade», explica Inês.
A questão da pressão e da adição ao
seu consumo faz com que as redes sociais
sejam sempre faladas com algum desde-
nho principalmente porque são os mais
novos os seus principais consumidores
e impulsionadores. No entanto, temos
assistido a uma verdadeira mudança no
paradigma de utilização, onde vemos
precisamente as pessoas mais novas a
utilizá-las como uma ferramenta de ati-
vismo político e social. O feminismo foi
impulsionado aqui pelos Millennials. A
causa LGBTQI encontrou o seu espaço de
divulgação – tanto de ativismo como de
normalização – aqui. Os Gen-Z cada vez
mais assumem a sua voz como cidadãos
participativos no panorama político a um
nível local aqui. Os estigmas físicos e de
doenças mentais também começam a ser
quebrados aqui. Os jovens «já estão tão
familiarizados com este tipo de sintomas
e com as suas manifestações, que acabam
por ser eles a pedir aos pais para irem a
um psicólogo para procurar ajuda. Há
uma maior sensibilidade e normalização
para estas questões», conta a psicóloga.
A desconfiança pelo desconhecido – a
Internet, neste caso – faz com que os ní-
veis de curiosidade sobre estas gerações
mais novas sejam muito altos. Mas, o
sentido base de «juventude não mudou.
Agora, a sua pegada social é que pode ser
prolongada no tempo», lembra Joana.
E não conseguimos prever qual vai ser o
efeito real, mas com certeza que vamos
estar aqui para o discutir. Q

CADA PORTUGUÊS PASSA, EM MÉDIA,


UMA HORA E MEIA POR DIA NAS REDES SOCIAIS.


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