Loud! - PT (2020-01)

(Antfer) #1
Musicalmente acaba por ser um disco mais
doom que sludge.
Tivemos um pequeno debate interno e ten-
tando perceber se havia algo novo para nós,
sem perder a identidade da banda. Acho que
o doom foi uma escolha e um pouco por aí
que quisemos ir, para dar um sentimento
mais pesado à música.

Doença e odor também transmitem um sen-
timento mais adequado ao doom.
Sempre foi uma característica que quisemos
ter. Não gosto muito de pôr a banda em sec-
tores, se reparares há momentos que são rock,
por vezes afinações pesadas, que com uma
voz por cima soam diferente. Camuflamos
muita coisa que na realidade não é tão doom,
sludge ou stoner. Aquilo que queremos trans-
mitir é um sentimento negro, mas também não
estamos presos a isso. Não tens de ter 50 mi-
nutos de funeral doom, tem que haver outras
coisas, tentar surpreender um pouco as pes-
soas, e quem nos segue também já o espera.

Insistem em numerar os temas com algaris-
mos romanos. Até onde vão?
Foi por aí que começámos e deixámos de ter
um problema, de arranjar nomes para as mú-
sicas. Com os números criamos entidades
para os álbuns, através dos títulos e trabalha-
mos a partir daí. São momentos que vamos
marcando dessa forma. A faixa «I» é diferen-
te da «VI» ou da «XV», vamos evoluindo e não
ficamos muito presos a um tema.

Desde que lançaram o «Doença» não têm
parado de agendar concertos.
Felizmente temos conseguido bons concer-
tos e muitos. Nesta altura em que estivemos
a tentar acabar de compor o «Odor», foi inten-
so pois tínhamos de nos apresentar no Vagos
Metal Fest e estivemos a ensaiar duas, três
vezes por semana,para o «Odor».O último
riffdoálbumfoisacadoumasemana antes
doVagose sóaípudemoscomeçara ensaiar
parao festival.Nasemanaa seguirgravámos
tudoe começámoslogoa trabalhara mistura.

O Vagosfoiimportante?
Achoquesim,mostrou-nosa mais gente. O
Vagos,o Laurusnopróximoano,são festi-
vaisquetêmoutronomee estarmos asso-
ciadosa eles,dão-nos mais visibilidade e
maispessoasquenospoderãoconhecer.

Refereso Laurus,primeirofestival em que
estãoanunciadosnopróximoano, já tens
outrasdatas?
Temos contactos a ser feitos, ainda é
cedo,masqueríamosir a outrospaíses e
fazermaisdatas.Nãoé fácil,pois as ban-
dastêmdeserpagas,precisamde comer,
têm despesas. Nãoé fácil, quando não
tensnome,ir a salasdeformaque não se
percatempoe dinheiro.Vamostentar fa-
zero melhorpossívele játemos um par
defestivaisfalados.Vamosesperar e ver
comoascoisascorrem.

“odor”. Depois da morte de uma pessoa, ou
da doença, há sempre um “odor” que vai fi-
cando na nossa cabeça, no pensamento.
Um sentimento de memória, de inseguran-
ça. O Martim esteve sempre connosco des-
de o início, tendo escrito textos que acompa-
nham os nossos CDs, mas antes escutava
sempre o que tínhamos feito. Desta vez fo-
mos nós que seguimos atrás da ideia e do
que ele escreveu.


Não só fazem a música para o poema, como
o dividem em segmentos.
Conforme íamos criando a música, e tentan-
do introduzir as frases na música, percebe-
mos logo de início que as coisas não iam ter
o timing para ficar tudo num só tema. Decidi-
mos ir introduzindo isso ao longo do álbum,
num processo natural, deixando a coisa fluir à
nossa vontade. Não nos preocupamos muito
com isso, se alguma música ficava sem voz,
ou se outra tinha demasiada letra. Muitas coi-
sas também acabaram por não ficar.


E porquê quatro temas? Porque não dois, ou
seis?
Não te consigo responder. Não é uma preo-
cupação. A primeira música tem dez minu-
tos, a segunda tem sete... da forma como
vamos compondo, percebemos na sala de
ensaio se as músicas estão a chegar ao fim


ou não. Como já tínhamos a ideia do tempo,
resolvemos ficar pelas quatro músicas.

No entanto, tiveram de pensar a divisão do
poema.
Houve uma parte do poema que não existia
de início. Penso que na composição da ter-
ceira música do álbum, ficámos sem mais
frases e entretanto falei com o Martim e ele
adicionou mais umas frases ao poema. Po-

díamos ter feito uma música sem letra, mas
estávamos a sentir bem o processo. É o que
sentimos na hora, essa é a nossa forma de
compor.

Como vais conciliar a posição de guitarrista
com a de vocalista?
Conforme vamos compondo, tentamos to-
car as músicas ao vivo, para perceber a in-
teracção em palco. Até agora, com as novas
músicas, tem corrido bem. Temos trabalha-
do bastante essa parte, é mais um trabalho
para mim, mas até me estou a sentir bem.

“É o que sentimos na hora,


essa é a nossa forma de compor.”

Free download pdf