Loud! - PT (2020-01)

(Antfer) #1

Twin. Ao contrário dessas duas uniões, esta
enquadra-se num ambient minimalista altamente
controlado, em que «Blistered Glaciers» cresce,
desvanece, e cresce de novo a um ritmo digno do
seu nome, e «Not Yet Ready For Flowers» é um
aprazível monólito à primeira vista, mas está re-
pleto de subtilmente colocadas rachas. É no en-
tanto em «Dead Swans Of Dreams» que o álbum
encontra o seu incoerente apogeu, conciliando a
reclusão do ambient com uma expansiva parede
de som e laivos majestosos num autêntico monu-
mento à monotonia no seu sentido literal. [8] L.P.


DEATHWHITE
«Grave Image»
[Season Of Mist]
Os Deathwhite são de Pit-
tsburgh e o máximo que se
sabe é que são dois tipos
que respondem por AM e
LM. Com tanta banda anónima hoje em dia, já nem
interessa muito este tipo de coisa, mas é curioso
que ao contrário da maior parte dos mascarados/
escondidos/tímidos da actualidade, esta malta não
faz música ultra-underground, lo fi, ou bueda má de
Satanás coiso. «Grave Image» é doom belo e easy
listening no que o termo tem de melhor, ainda mais
do que o seu antecessor, o «For A Black Tomor-
row» de estreia, do qual este álbum é um upgrade
enorme. Apesar do peso – que é bastante –, dos
bons riffs, e de variados pormenores que reforçam
constantemente a dinâmica das composições, é
a planante voz que carrega os temas, com linhas
melódicas que aparentam simplicidade mas que
fogem ao óbvio. Pense-se neles como uma espécie
de actualização da fórmula dos Katatonia período
médio (ali para o «Last Fair Deal Gone Down»), uns
Opeth menos progressivos da fase death metal mas
só com as partes não-death metal, ou uns Agalloch
sem a aspereza e com alguém que sabe efectiva-
mente cantar. Por aí. Mesmo caindo claramente no
doom em termos de categorização, sabem também
evitar os muitos pitfalls do estilo, e é refrescante
ouvir uma banda com estas características a optar
por um álbum song-oriented, com dez temas que
não precisam de dez ou doze minutos para atingir
os seus objectivos (só duas vezes se passa sequer
da marca dos cinco, aliás), e que tanto pertencem a
2020 como a um clássico imaginário qualquer perdi-
do de 1994 da Peaceville. Bela surpresa. [8] J.C.S.


DEFILED
«Infinite Regress»
[Season Of Mist]
Os Defiled serão, por certo,
um gosto adquirido, mas
certamente pouco consen-
sual. Além de sempre terem
tido algumas das produções maisesquisitasdo
death metal – em «In Crisis», de 2011, o baixo
dominava o som geral e ofuscava as guitarras,
enquanto o seguinte «Towards Inevitable Ruin»,
de 2016, pareceu gravado na sala de ensaios, ao
primeiro take – a abordagem frenética da bateria
sempre foi um turn off para este vosso escriba.
«Infinite Regress» apresenta francas melhorias no
que toca ao equilíbrio da mistura final (feita nos
clássicos Morrisound), porém a bateria de Keisuke
Hamana não só continua a soar a caixa de ritmos
na maior parte do disco como tende a atropelar os
restantes instrumentos. Por cada riff original e/ou
capaz de captar a atenção surge outro absoluta-
mente dispensável, a que se juntam dissonâncias
forçadas e transições feitas de forma brusca. É
sobretudo essa falta de fluidez que torna «Infinite
Regress» um disco confuso e cansativo, quase


como se a banda tivesse
gravado tudo aquilo que
escreveu, sem nenhum tipo
de filtro. Não haja dúvidas
que os Defiled são brutais,
desagradáveis e, de certa
forma, originais, mas entre
ter personalidade musical
e fazer música que vale
mesmo a pena ouvir vai uma
grande diferença. [4] J.A.R.

DENNER’S INFERNO
«In Amber»
[Mighty Music]
Um dos guitarristas da for-
mação clássica dos Mercyful
Fate, mas ausente na reunião
que passará por Portugal em
2020, Michael Denner tem
aqui um trabalho diferente do
que realizou nos clássicos do
grupo dinamarquês, percor-
rendo um trilho bem dentro do
hard rock, fortemente in-
fluenciado pelo som de Deep
Purple e Gillan, e por vezes
aproximando-se do jazz, tal
como os grupos referidos.
Mais que o percurso, conta a
diversidade nas abordagens
efectuadas ao longo do
trabalho, com a guitarra nem
sempre a ter o protagonismo
principal, como no caso de
«Up And On», onde predo-
mina o baixo de Flemming
Tranberg. Instrumentalmente,
temas como «Veins Of The
Night» até chegam a ser
apelativos, falhando quando
tentam adaptar-se à fórmula
tradicional do hard rock.
Uma nota para «Taxman
(Mr Thief)», uma daquelas
letras sintomáticas, em que
a preocupação já não é um
demónio ou a moça perdida, mas o homem das
finanças. Sinais da idade. [7] E.F.

THE DEVIL WEARS
PRADA
«The Act»
[Solid State]
Um resquício da cena me-
talcore colheita MySpace,
os norte-americanos The
Devil Wears Prada arriscam neste «The Act» uma
direcção musical que lhes promete dar novo fôle-
go. Se é verdade que continuam em parte a veia
post hardcore que tinha ficado bem vincada no
anterior «Transit Blues», este sétimo álbum vem
baralhar até certo ponto aquilo que se pode es-
perar do grupo de Mike Hranica. Com uma maior
predominância de elementos electrónicos os doze
temas de «The Act» fazem o retrato de uma banda
que exibe o ar da sua graça quando envereda por
caminhos que desarranjam o que de mais formu-
laico tem vindo a ser produzido no género. Ainda

assim, continuam a ser mais sinceros nos temas
em que apoiam a agressividade – que roça mais
vezes do que o tolerável uma placidez tépida, é
preciso dizê-lo – em riffs e tempos mais muscu-
lados. «Wave Of Youth» e «Spiderhead» serão dois
dos temas mais memoráveis num disco que po-
derá ser um ponto alto na carreira do grupo, mas
que fora desse contexto não parece ser capaz de
converter muita gente. [6] J.R.

EARTH AND PILLARS
«Earth II»
[Avantgarde]
Quem não gosta de black
metal atmosférico e gran-
dioso à laia de uns Wolves
In The Throne Room, pode
fugir já daqui. Já no seu quarto álbum, estes ita-
lianos continuam a desenvolver essa fórmula de
quatro-longos-temas-numa-hora-e-tal sem surpre-
sas, mas sempre com a mesma qualidade e poder
evocativo. A verdade é que há muitas bandas
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