Loud! - PT (2020-01)

(Antfer) #1

carreiras. «Gone Are The Days», a faixa inicial, é
um regalo para os fãs dos Thin Lizzy, quase como
se de uma obra póstuma de Lynott se estivesse
aqui a falar. Porém, seguindo pelo alongar da
audição entre blues rock, AOR e baladas atrás de
baladas, com arranjos extremamente comerciais
e “americanizados”, o disco acaba por esbarrar
no hard rock moderno, criando uma vastidão de
complexas relações de desinteresse. Tentando
algum distanciamento, sem sucesso, elaboramos
comparações e questionamo-nos se seria este o
futuro a que os Thin Lizzy estariam destinados, de
tropeçarem com os seus próprios passos. [5] C.N.


GRAVE PLEASURES
«Doomsday Roadburn (Live At
Roadburn 2018)»
[Century Media]
É sabido que Mat “Kvohst”
McNerney é daqueles músi-
cos que não sabe o que é es-
tar parado, e se em 2019 vimoso ex-Dødheimsgard
e ex-Code a editar mais um disco com Hexvessel e
a voltar aos The Deathtrip. Como não há duas sem
três, ainda houve margem para que os Grave Pleasu-
res voltassem às edições. Infelizmente, para desâ-
nimo de alguns, não é um novo longa-duração mas
sim o lançamento da gravação ao vivo do grandioso
concerto que deram no festival Roadburn, na Holan-
da, em 2018. Para quem não conhece a banda, este
pode perfeitamente ser um ponto de entrada quase
ao jeito dos famigerados best of, uma vez que não
só capta fidedignamente a sua energia ao vivo
como, ao longo de catorze faixas, mostra o valor do
post punk/gothic rock/death rock entre o que inicial-
mente se deu a conhecer com «Climax» (ainda dos
Beastmilk, primeiro nome do colectivo) e o que mais
tarde brotou em «Motherblood» (já segundo álbum
com a assinatura Grave Pleasures). Para quem já os
conhece, ainda há espaço para surpresa devido à
inclusão de dois temas inéditos, «There Are Powers
At Work In This World» e «Violence Of Night», grava-
dos na sessão do último trabalho. [7] P.C.S.


HAUNT
«Mind Freeze»
[Shadow Kingdom]
Enquanto outros andam
preocupados com o facto
de não serem rápidos ou
pesados o suficiente, vem
a galope do reino das trevas e decriptasdegelo
«Mind Freeze». Um disco banhado a clássicos da
NWOBHM sem se tornar numa valente banhada.
Estes amigos de Fresno que começaram como um
projecto a solo de Trevor William Church, vocalista
e guitarrista dos Beastmaker, esbanjam saúde,
melodias aceleradas, solos sofisticados, curtos e
potentes num revivalismo do melhor do clássico
heavy metal/speed metal dos anos 80 e com os
dois pés bem fincados no chão. Intrinsecamente in-
fluenciados pelos primórdios dos Iron Maiden, cuja
energia do punk se encontrava aliada à complexida-
de musical do heavy metal, os Haunt apresentam-
-se afiados na execução e poderosos na entrega.
Vivendo em semelhantes espaços musicais, com
guitarras melódicas à Angel Witch habilmente colo-
cadas com as vozes corpulentas, limpas e altas de
Church, que levitam repetidamente através das mú-
sicas, não se reinventa a roda, mas também não se
vislumbra uma única faixa maçadora. Amantes do
heavy metal old school podem deixar-se levar nesta
viagem nostálgica baseada em riffs e estruturas
de canções tradicionais. Certamente encontrarão
uma relatividade de espaço-tempo para concretizar
sincronizadas coreografias de air guitar. [6.5] C.N.


HIDEOUS DIVINITY
«Simulacrum»
[Century Media]
Os italianos Hideous Divi-
nity não são propriamente
novatos, sendo «Simula-
crum» o quarto álbum de
originais de uma carreira
iniciada em 2007. Mercê de
uma reputação construída
paulatinamente, a banda
chega ao catálogo da Cen-
tury Media e vê finalmente
o seu nome atingir um
espectro mais alargado de
público que dará de caras,
com estrondo e violência,
com uma impressionante
muralha sonora na qual o
death metal brutal e técnico é a lei. No entanto, não
se pense que a fórmula explorada pelos Hideous
Divinity se esgota nas influências mais óbvias que
por aqui se sentem, com Hate Eternal ou Cryptopsy
à cabeça, e que o entusiasmo que «Simulacrum»
possa suscitar é tão rápido e incisivo como um dos
inúmeros blastbeats que por aqui abundam. Ao
longo de dez temas debitados em 40 minutos há es-
paço para solos de guitarra alucinantes, rasgos de
violência que apontam a trajectória ao black metal
mais frio e intricado, momentos de desaceleração
que geram a envolvência necessária para apanhar
algum fôlego e descargas death metal que deslum-
bram pelo preciosismo com que formam uma avas-
saladora máquina de destruição. Toda uma aula
sobre como ser-se pesado e técnico, sem perder
equilíbrio e sentido musical e artístico. [7.5.] R.A.

ISRATHOUM
«Arrows From Below»
[New Era]
Nas duas décadas volvidas
desde que os Geryous se
mudaram de Portugal para a
Holanda, transformando-se
então nos Israthoum, o colectivo(hojeemformato
trio) aprimorou processos na elaboração de black
metal clássico, transpondo a ortodoxia, melodias, e
atmosferas da segunda vaga para o século XXI. Esta
introdução tanto se aplica à carreira da banda até
ao «Channeling Death And Devil» de 2017, como é
curta para o novo «Arrows From Below». Tal é logo
sugerido na abertura, «Litany Of Spite», uma canção
que embora directa introduz um lado mais tortuoso
do que o habitual à sonoridade da banda. Sem que
esta tenha sido abandonada por completo, a raiva
polida de trabalhos anteriores dá lugar a uma mais
prevalente sujidade, que aparenta ser controlada
e propositada. Esta manifesta-se ora em escolhas
rítmicas menos imediatas, ora em desconcertantes
sobreposições vocais (e.g. «Bracu Magistrïs»), ora
nos arranjos de guitarra, com «Adlivun» a surgir
como exemplo máximo. Neste aspecto, é inevitável
conjecturar que tal em muito se deverá ao guitarrista
W.uR, o mais recente membro do trio, dado que os
laivos de esquisitice não são totalmente estranhos
ao trabalho do mesmo no último disco Angrenost,
«Nox Et Hiems». Não é muito comum arriscar de tal
forma com uma identidade estabelecida ao fim de
vinte anos, mas foi o que os Israthoum fizeram (até

gravaram pela primeira vez uma canção em portu-
guês, a blásfema «Laetetur Cor») em «Arrows From
Below». Curiosamente ou não, trata-se do melhor e
mais personalizado disco da carreira do trio. [7.5] L.P.

JORDABLOD
«The Cabinet Of Numinous Song»
[Iron Bonehead]
Será impossível, nos dias que
correm, escapar à tentação
de olhar para o passado à
procura de referências que
nos sirvam de base. O difícil estará em torná-las nos-
sas, transformando-as e inovando. Uma das bandas
que mais facilidade parece ter nesse campo serão
estes Jordablod, que continuam a fazer isso mesmo
com este novo «The Cabinet Of Numinous Song».
Mantendo o equilíbrio entre o clássico e o actual,
constroem uma atmosfera absolutamente cativante
em que tanto temos momentos de total barbárie
como de introspecção intensa – é difícil não nos
sentirmos rendidos a alguns detalhes nos riffs e de
apontamentos aqui e ali nos ritmos que nos enchem
a alma a cada passo. Todos os instrumentos se
fazem ouvir numa cacofonia cristalina em que nada
se sobrepõe a nada, uma maravilha para os ouvidos
de qualquer audiófilo extremo. [9] M.L.

KOSMOKRATOR
«Through Ruin... Behold»
[Ván]
Se o anterior «First Step
To Supremacy» já tinha
sido capaz de levantar um
pouco do véu e de despertar
curiosidade e antecipação pelo que este quinteto
belga poderia vir a conjurar, podemos já começar
por dizer que «Through Ruin... Behold» não demora
muito a confirmar essa boa impressão. Reúne te-
mas compostos por alturas da primeira demo com
outros produzidos aquando da entrada em estúdio
em 2018, e que no conjunto destilam um caldeirão
de nafta brilhante: seguem de perto a receita de um
black/death trepidante, com longos momentos ins-
trumentais que oferecem ao álbum uma roupagem
moderna e atmosférica, uma espécie de fio condutor
que torna este primeiro longa-duração numa obra
que oscila de igual modo entre o registo mais agres-
sivo, cru e directo do tema de abertura, «The Push
Towards Death»; e doom mais glacial e fantasmático
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