Loud! - PT (2020-01)

(Antfer) #1

19.12.06-08– RCAClub/ LisboaAoVivo,Lisboa


UNDER


THE DOOM


O


primeiro dia do Under The Doom era aquele que se antecipava menos con-
corrido, no entanto, a qualidade da música foi inquestionável. A começar
estiveram logo os Dogma, com uma actuação que teve o condão de nos
parecer demasiado curta para a qualidade. Os Wildnorthe trouxeram um pouco
do seu darkwave orgânico para um público que queria coisas mais pesadas. Mas
o ambiente lúgubre estava lá todo e o concerto de Sara Inglês e Pedro Ferreira
(em formato duo, sem baterista de apoio) foi apreciado por boa parte do público.
Já com os equatorianos Total Death, a veia mais tradicional do Under The Doom
veio ao de cima. Death/doom melódico cantado em castelhano e com grande
impacto nos presentes. Uma boa surpresa também foram os Outshine. A banda
sueca tinha perdido o seu material em Bruxelas e apenas puderam tocar devido
aos Dogma terem cedido os seus instrumentos. Metal gótico mas cheio de garra
e refrescante, um dos pontos altos do primeiro dia. A terminar, uma homenagem
aos The Gathering. Algum cepticismo inicial por ter um concerto de tributo a
fechar o primeiro dia, mas com uma banda formada por músicos bem conheci-
dos da nossa praça, onde teremos de destacar a voz incrível de Sofia Silva (dos
Annihilation), e com os temas imortais dos The Gathering, não houve ninguém
que tivesse ficado insatisfeito. Outras bandas presentes incluídas.

Segundo dia, expectativas ainda mais elevadas, com a indicação de que o mes-
mo já estava completamente esgotado. A começar, os Petrichor, uma banda
que em termos editoriais não tem apresentado muito mas que ao vivo confirmou
o seu valor. Death/doom melódico de grande qualidade. Infelizmente, por esta
altura já se sabia que os SAOR não iriam tocar o que fez com que as primeiras
três bandas tivessem tempo de antena alargado. Os Consecration, tal como
a banda anterior, eram britânicos e trouxeram um pouco da melancolia ingle-
sa, com a particularidade de terem um baterista português (Jorge Figueiredo),
que se dirigiu ao público para dedicar uma música ao seu pai, falecido há três
meses atrás. Também a falar português, veio uma das grandes confirmações
nacionais, os Wells Valley, que tocaram o seu segundo álbum «Reconcile The
Antimony» na íntegra, embora por ordem diferente, mostrando a confiança, justi-
ficada, que têm no mesmo. Cada vez melhores. Já os Daylight Dies foram para
muitos a surpresa da noite. Um RCA completamente cheio recebeu da melhor
forma o seu doom metal melódico que nos trouxe à memória os melhores anos
do estilo. A terminar, a razão para muitos estarem presentes: Alcest. Com o
público na mão desde o início, embora a atitude fosse mais de contemplação do
que propriamente de movimento, ajudado também pela penumbra em que a sala
mergulhou, a banda passeou um pouco por toda a sua discografia, com os te-
mas novos a serem recebidos bem pelo público, mas foram temas antigos como
«Percées De Lumière» que reuniram mais entusiasmo. No final, e apesar da geral
satisfação, ficou-se com a sensação de que poderiam ter tocado o dobro.

No último dia, mudança do RCA para o LAV e com a expectativa de ter uma casa
bem cheia, para receber os Paradise Lost. Expectativa materializada mas que co-
meçou a meio gás com os Pântano, que mesmo com poucas pessoas (número
que foi crescendo) não deixaram de dar um grande concerto com o seu sludge/

grunge de grande groove. Os Heavenwood são sempre uma banda que se encaixa
no espírito do Under The Doom e trouxeram especialmente para esta actuação
alguns clássicos que os fãs receberam de braços abertos, como «Since The First
Smile». Curta actuação, mas memorável. Já os Darkher conquistaram todos, pela
forma como o duo conseguiu criar uma atmosfera de beleza e melancolia, sem
deixar o peso de parte. Jayn Maiven tem uma presença em palco única e apesar
de não ter comunicado com o público para além de um aceno, deixou toda a sala
rendida. Os Ardours não despertavam muita curiosidade antecipada, pelo menos
tendo em conta o álbum lançado por este novo projecto de Mariangela Demurtas,
mas a apresentação ao vivo trouxe uma nova alma às músicas do disco. Nota
curiosa, foi a segunda vez que vimos Daniel Cardoso na bateria depois de ter
tocado anteriormente com os Heavenwood. Um nome grande do cartaz eram,
sem dúvida, os Disillusion, que elevaram a fasquia e muito para os cabeças de
cartaz. Apoiando-se principalmente no mais recente trabalho «The Liberation» e
no primeiro, «Back To Times Of Splendor», deixando o experimental «Gloria» quase
de parte, a banda ficou encantada com a recepção do público nesta sua primeira
visita ao nosso país e o sentimento foi nitidamente recíproco. Enorme concerto.
A colocar o ponto final no dia e no festival estiveram os Paradise Lost, que deram
um concerto irreprensível, embora se tenha sentido alguma dificuldade em ouvir
a voz de Nick Holmes, que esteve sempre bem disposto. Alinhamento equilibrado,
passando um pouco por toda a carreira, mas com um foco maior em «Medusa»
e «The Plague Within», passando depois por alguns dos clássicos incontornáveis,
ficando de fora a já previsível «The Last Time», que até estava no alinhamento
mas que acabou por ser cortada. Ainda assim, a sensação geral foi de um enorme
concerto, e de um evento que chegou ao final como sendo um sucesso quase
absoluto, provavelmente o maior desde a primeira edição. [F.F.]

PARADISE LOST
FOTOS: SÓNIA FERREIRA

ALCEST
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