de estar fadado à grandeza. Presumiu que qualquer empregador imediatamente reconheceria
seu talento e se sentiria afortunado por tê-lo em sua equipe.
Sejam aqueles que passaram por circunstâncias difíceis e acham que merecem algo pa-
ra compensar, ou quem se acha melhor em todos os sentidos e merece ser recompensado
por isso, pessoas como Lucas estão em toda parte. Somos bons em perceber essa caracterís-
tica nos outros, mas o fato é que todos nós sentimos que temos direito em algum momento ou
outro – e quase sempre não temos a sabedoria para reconhecer essa característica em nós
mesmos.
Vivemos em um mundo em que direitos e privilégios muitas vezes se confundem. As
pessoas pensam que têm “direito à felicidade” ou “direito a serem tratadas com respeito”, ain-
da que isso signifique transgredir os direitos dos outros para conseguir o que querem. Em vez
de tentarem conquistar privilégios, comportam-se como se a sociedade lhes devesse alguma
coisa. A publicidade promove a permissividade e o materialismo ao nos instigar a comprar
produtos. A ideia de que “você merece”, quer tenha dinheiro para pagar por aquilo ou não, le-
va muitos de nós a nos afundarmos em dívidas.
O sentimento de que o mundo lhe deve alguma coisa nem sempre é decorrente de um
complexo de superioridade. Às vezes, trata-se de uma sensação de injustiça. Uma pessoa
que teve uma infância difícil, por exemplo, pode estourar os cartões de crédito comprando pa-
ra si coisas que nunca teve quando criança. Pode pensar que o mundo lhe deve a oportunida-
de de ter coisas boas, já que sentiu muita falta delas quando era mais jovem. Esse tipo de
pensamento pode ser tão prejudicial quanto a ideia das pessoas que pensam que são superio-
res às outras.
Jean Twenge, psicóloga e autora de Generation Me (Geração eu) e The Narcissism Epi-
demic (O narcisismo epidêmico), conduziu muitos estudos sobre o narcisismo e a ideia de que
lhe devem algo. Seus estudos descobriram que as gerações mais jovens têm um desejo cada
vez maior por riqueza material e menor disposição para trabalhar. Ela sugere diversas razões
possíveis para essa desconexão:
- O foco em ajudar as crianças a desenvolver sua autoestima passou dos limites.
Programas escolares destinados a aumentar a autoestima ensinam a todas as crianças
que elas são especiais. Dizer repetidas vezes às crianças que elas são melhores do que
as outras alimenta suas crenças infladas sobre a importância que têm. - A educação permissiva em excesso impede que as crianças assumam responsa-
bilidade por seu comportamento. Quando as crianças ganham tudo o que querem e não
sofrem consequências por seu mau comportamento, não aprendem o valor das coisas.
Em vez disso, os pais dão a elas uma superabundância de posses materiais e elogios,
não importa o seu comportamento. - As redes sociais alimentam crenças equivocadas sobre a sua importância. Jovens
não conseguem imaginar um mundo sem “selfies” e blogs de autopromoção. Não está
claro se as redes sociais na verdade alimentam o narcisismo ou servem simplesmente
como um canal para que as pessoas anunciem suas crenças ocultas de superioridade.
Mas as evidências sugerem que as pessoas recorrem às redes sociais para melhorar a
autoestima.