problemas cardíacos. Como ele poderia estar aqui num minuto e não mais no seguinte? Ainda
estava me ajustando à vida sem minha mãe; agora tinha que aprender a lidar com a vida sem
meu marido. Não podia imaginar como superaria aquilo.
Lidar com a morte de um cônjuge é uma experiência surreal. Havia muitas escolhas a se-
rem feitas num momento em que realmente não estava em condições de decidir coisa alguma.
Em poucas horas tive que começar a tomar decisões a respeito de tudo, dos preparativos para
o funeral ao discurso que eu faria na missa. Não havia tempo para de fato assimilar a realidade
daquela situação. Era completamente sufocante.
No entanto, tive sorte de ter muitas pessoas ao meu lado me apoiando. O luto é um pro-
cesso individual, mas ter amigos e familiares amorosos por perto com certeza ajuda. Havia ho-
ras em que parecia ficar um pouco mais fácil; outras vezes, tudo piorava. Quando achava que
estava ficando melhor, me pegava descobrindo uma dor devastadora à espreita. Viver o luto é
trilhar um caminho emocional, mental e fisicamente exaustivo.
Havia também muitos motivos para tristeza. Sentia-me triste pela família do meu marido –
sabendo quão amado ele era –, por tudo o que ele nunca experimentaria e por todas as coisas
que nunca faríamos juntos, sem mencionar a enorme saudade.
Fiquei afastada do trabalho o máximo de tempo que pude. Na minha memória, aqueles
meses formam um grande borrão. Eu estava concentrada apenas em dar um passo de cada
vez, todos os dias. Mas não podia fugir do trabalho para sempre. Agora eu tinha somente uma
fonte de renda e precisava voltar a ela.
Depois de uns dois meses, meu supervisor me telefonou e perguntou sobre meus planos
de voltar ao trabalho. Haviam dito a meus pacientes que eu ficaria afastada por tempo indeter-
minado por causa de uma emergência familiar. Não sabiam ao certo quando eu voltaria, já que
ninguém tinha certeza do que iria acontecer. Mas agora precisavam de uma resposta. Eu ainda
não havia superado a tristeza e sem dúvida não estava “melhor”, mas precisava voltar ao traba-
lho.
Como acontecera após a morte de minha mãe, tinha que me permitir encarar o sofrimento
de frente. Não havia como ignorá-lo ou fugir dele. Precisava passar pela dor e, ao mesmo tem-
po, ser proativa, ajudando a mim mesma a me curar. Não podia me permitir ficar estagnada em
minhas emoções negativas. Embora fosse mais fácil sentir pena de mim mesma ou me concen-
trar nas memórias do passado, eu sabia que isso não seria saudável. Eu precisava fazer uma
escolha consciente para começar a trilhar a longa estrada de reconstrução da minha vida.
Era necessário decidir se alguns dos objetivos que Lincoln e eu partilhávamos ainda seri-
am minhas metas. Planejávamos adotar uma criança. Mas será que eu estava disposta a enca-
rar esse desafio sozinha? Nos anos que se seguiram, ajudei crianças que precisavam de uma
família, conseguindo lares de emergência e temporários, mas ainda não estava certa de que
queria adotar sem Lincoln.
Também tinha que estabelecer novos objetivos, agora que estava sozinha. Decidi me
aventurar e tentar coisas diferentes. Tirei carteira de motociclista e comprei uma moto. Come-
cei também a escrever. No início era só um passatempo, mas logo acabou se tornando um tra-
balho de meio período. Precisava também rever minhas relações identificando quais amigos de
Lincoln continuariam em meu círculo de amizade e definindo qual seria meu relacionamento
com a família dele. Para minha sorte, muitos de seus amigos mais íntimos mantiveram a ami-
zade comigo e sua família continuou a me tratar como parte dela.
Cerca de quatro anos depois, tive a sorte de reencontrar o amor. Ou talvez deva dizer que
o amor me encontrou. Eu já estava me acostumando com a vida de solteira, mas tudo mudou
quando comecei a sair com Steve. Já nos conhecíamos havia anos, e pouco a pouco nossa
amizade se transformou em um relacionamento. A certa altura, começamos a falar sobre um
erocha
(EROCHA)
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