Celso Castro e Maria Celina D'Araujo'
- Pesquisadores do CPDOC da Fundação Getulio Vargas.
O leitor tem em mãos um importante documento histórico, e é como tal que este livro deve ser lido.
Trata-se de peça fundamental que ainda faltava no quebra-cabeça da história do regime militar no
Brasil (1964-1985).
O general Sylvio Frota, nascido no Rio de janeiro em 1910, foi nomeado comandante do 1
Exército em 1972. Com a posse de Ernesto Geisel na Presidência da República em março de 1974,
assumiu a chefia do Estado-Maior do Exército. Contudo, após a morte inesperada do ministro do
Exército, general Dale Coutinho, dois meses depois, foi designado para ocupar seu lugar e nele
permaneceu até ser demitido em 12 de outubro de 1977. Foi um personagem-chave na dinâmica do
jogo político entre os militares que estiveram no centro do poder durante o governo Geisel, mas
pouco sabíamos a seu respeito até agora.
Um dos momentos decisivos do regime militar foi a disputa que envolveu o projeto de "abertura"
política iniciado por Ernesto Geisel quando chegou à Presidência. Os militares que apoiavam a
iniciativa e os que a ela se opunham - comumente chamados de "linha-dura"- colocaram-se em
campos opostos em questões e momentos decisivos. O clímax da disputa foi justamente a demissão
de Sylvio Frota do Ministério do Exército.
O regime militar legou para a memória nacional, num primeiro momento, depoimentos dos
"generais de 1964". Ao final do período, surgiram diversos livros que registravam a visão de
oposicionistas, em particular daqueles que se engajaram na luta armada contra o regime. Passada
uma década da transição para o governo civil, nós, autores desta apresentação, organizamos,
juntamente com Gláucio Soares, uma trilogia - Visões do golpe, Os anos de chumbo e A volta aos
quartéis - contendo entrevistas realizadas no CPDOC da Fundação Getulio Vargas com oficiais que
haviam ascendido na carreira ao longo do período em que os militares estiveram no poder. O ponto
culminante de nossa pesquisa com os militares foi a publicação, em 1997, da longa entrevista com
Ernesto Geisel.3 O interesse que esses livros geraram no público repetiu-se diante da divulgação da
vasta produção acadêmica e jornalística sobre o período. Por exemplo, a série de livros publicada
por Elio Gaspari, que se baseou em larga medida em fontes documentais até então inéditas, centrando
a narrativa na perspectiva de dois personagens militares cruciais para se entender a época - os
generais Geisel e Golbery.
Escrito ainda próximo ao calor da hora, Ideais traídos vem a público passados 28 anos do início
de sua redação e dez anos da morte de seu autor. Derrotado na política, Frota deixou o Ministério