s ligações com os Estados Unidos da América do Norte foram sempre muito íntimas e
estimuladas constantemente por um intercâmbio de oficiais. Cursos de aperfeiçoamento e de
formação, particularmente no campo da técnica, reforçavam esse entendimento entre os dois
Exércitos. A rigor nada tínhamos a censurar nos militares americanos, embora muitos deles não
conseguissem esconder um sentimento de superioridade em relação aos "nativos". A Comissão
Militar Mista Brasil-Estados Unidos, aqui no Brasil, e a nossa Comissão de Compras, em
Washington, além dos eventuais contatos - decorrentes de outras missões - ajudavam a estreitar laços
de amizade. Os adidos militares foram de extrema valia nessa compreensão recíproca. Os generais
VernonWalters e Arthur Moura, falando corretamente o português, criaram entre os oficiais
brasileiros um ambiente de absoluta cordialidade e confiança.
Este era, no setor militar, o panorama. Na esfera política, porém, a compreensão não parecia ser
tão perfeita.
Encontrava-me na minha residência, no Rio, no dia 5 de outubro de 1974, quando fui chamado ao
telefone pelo nosso Ministro das Relações Exteriores, que desejava transmitir-me uma recomendação
do presidente Geisel relativa a acontecimento da véspera, em Recife. Disse o ministro Azeredo da
Silveira que recebera do embaixador norte-americano John Crimmins um protesto sobre a prisão do
jornalista e missionário metodista Fred Morris, seu compatriota. O missionário, conhecido como
pastor Morris, fora detido por elementos de informações do IV Exército sob a acusação de realizar
atividades subversivas. Valia-se de sua condição religiosa para distribuir quantias, em cheques
bancários, a elementos comunistas. Era esta a imputação. Preso na casa de um sacerdote católico, foi
recolhido ao quartel-general daquele Exército, onde aguardaria interrogatório. Prisão normal sem
qualquer ato de violência.
Os órgãos de informações do IV Exército consideravam-no um agente duplo que atuava em favor
dos setores de esquerda e, concomitantemente, trabalhava para a CIA.
O embaixador norte-americano, consoante informações, mostrou-se excessivamente interessado
no caso, tendo realizado numerosas ligações telefônicas com o cônsul norte-americano naquela
cidade. Até certo ponto era explicável, e até elogiável, que assim agisse na proteção de um súdito
dos Estados Unidos; o que não se podia explicar, nem aceitar, foi a afronta de seu procedimento,
inadmissível num diplomata em missão oficial, como representante de um povo que se diz nosso