IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

lançando um manifesto em que denunciava a infiltração comunista no governo. Foi para casa, no
Grajaú, Rio de janeiro, e não mais se pronunciou publicamente. Podemos conhecer agora sua versão
dos acontecimentos militares e políticos que viveu, muitas vezes com descrições dos bastidores.


No início dos anos 90, entrevistamos dois dos colaboradores mais próximos de Frota, os generais
Adyr Fiuza de Castro e Ênio Pinheiro, que nos falaram no "livro do Frota", original inédito que só
poderia ser publicado após sua morte. Tentamos também na época, sem sucesso, falar com o ex-
ministro,já muito doente. Finalmente estamos hoje diante deste documento que reproduz sua versão
sobre os militares e a política, o comunismo, os governos militares e os "descaminhos" de 1964.


Como, por que e para quem Sylvio Frota escreveu o livro? Dispomos, a esse respeito, dos
esclarecimentos de seu filho, Luiz Pragana da Frota, autor do prefácio e responsável pela entrega dos
originais do livro à editora, em maio de 2005. Ele teria sugerido ao pai escrever o livro, o que
começou a ser feito no primeiro se mestre de 1978. A partir de seu arquivo, que tem cerca de dois
metros lineares de documentos, Sylvio Frota separou nove pastas que forneceram "subsídios" ao
livro e cujos documentos, em sua maioria, estão aqui reproduzidos.


Frota passou dois anos escrevendo uma média de cinco a sete páginas por semana, à mão. Um
subtenente, Leonesio de Almeida Carvalho, que com ele havia servido, ia semanalmente à sua casa,
nas tardes de quarta-feira (quando havia meio expediente nos quartéis) ou aos sábados, para
datilografar o texto, em duas vias. A primeira versão do manuscrito foi concluída em 1980. Em
seguida, Frota iniciou uma revisão do texto já datilografado. Por distração, algumas vezes fez as
correções numa das cópias, outras vezes em outra. A preocupação, presente em muitas passagens, de
esclarecer aspectos internos da corporação militar e expressões usadas na caserna demonstra que
queria se dirigir também ao público civil.


Frota enviou a parte do manuscrito referente aos anos de 1974 e 1975 ao general Adyr Fiuza de
Castro, ex-subordinado e amigo pessoal. Primeiro chefe do Centro de Informações do Exército
(CIE), em 1969, o então coronel Fiuza de Castro ainda naquele ano tornou-se secretário da Comissão
de Investigação Sumária do Exército, adida ao I Exército, e a partir de 1972 acumulou essas funções
com a de chefe do Centro de Operações de Defesa Interna (CODI), também do I Exército, àquela
altura comandado por Frota. Essa foi uma das fases mais duras da repressão aos opositores do
regime militar. Quando da demissão de Frota do Ministério, Fiuza de Castro já era generalde-brigada
e comandava a 6á Região Militar, em Salvador. Foi então designado para a Diretoria do Instituto de
Inativos e Pensionistas do Exército e preterido na lista de promoções. Logo em seguida, pediu
transferência para a reserva.


No início dos anos 80, Fiuza de Castro leu o texto de Frota e, ao final, deu o parecer de que o
livro não deveria ser publicado. Segundo ele, em carta manuscrita de 28 de dezembro de 1982,

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